quarta-feira, 1 de maio de 2013

Autotransplante (...) III

Domingo, segunda e terça foram dias normais... Fazia o habitual, só o que me apareceu foi uma infecção fúngica que passava com uma pomada. Quarta era o grande dia... Acordaram-me, segui a rotina da manhã e depois disso era a hora. Era a enfermeira Lisa, que tinha voltado de férias há poucos dias, que ia
acompanhar o transplante. Era um processo muito simples... Ela vestiu uma bata, sentou-se numa cadeira ao pé da minha cama e o líquido começava a entrar pelo cateter. Era como se fosse soro, a única diferença é que eram as minhas células com um líquido conservante. Se bem me lembro, a cor era assim tipo um vermelho pálido. Ao fim de uns minutos comecei a sentir um sabor esquisito e uma comichão na garganta, mas era normal por causa do conservante. Aquele processo foi rápido, acho que levei 3 ou 4 sacos daqueles com as células e nem 1h demorou. Já estava, agora era só esperar que as células actuassem devidamente. Uma auxiliar ia supostamente entrar no meu quarto para me ver, mas assim que abriu a porta disse " Ai, cheiras tanto a transplante". Acabou por nem entrar, e eu fiquei um bocado à toa, porque a mim não me cheirava a nada. ( mas agora, depois de umas visitas ao serviço, percebo que ela tinha razão. Quando há transplante fica por lá um cheiro, que eu associo ao sabor que senti.) Na quinta comecei a ficar com mucosite por causa da quimio, já estava à espera disso porque também me tinha acontecido na primeira quimio. Colocaram-me um penso com morfina para não ter dores, mas nem um dia aguentei aquilo. Comecei a ficar com náuseas, pedi para me tirarem o penso, preferia ter dores na garganta e na língua do que ter náuseas, se nem a quimio provocou isso não ia ser um penso que me ia fazer estar desconfortável. Com o passar dos dias ia ficando cada vez mais cansada... o valor das análises continuavam a descer, todos os dias perguntava como é que estavam os valores porque só podia ter alta quando eles começassem a subir. A hemoglobina e as plaquetas estavam tão baixinhas que tive de levar sangue e plaquetas também. No dia do jogo de Portugal queria era ter companhia para ver o jogo. Os enfermeiros tentaram despachar o que tinham para fazer, e de repente o meu quarto virou uma bancada de um estádio... puxaram cadeiras e ali estávamos todos a ver o jogo. Já perto da hora da mudança de turno, o jogo já estava em penaltis, e o Pedro chegou. Vinha quase a correr, via-se na cara dele que estava em sofrimento... Ele tapava os olhos, ele pulava... Foi o momento na noite, um fartote de rir. O fim de semana passou-se normalmente, mas tive a visita da minha irmã que era a pessoa de quem tinha mais saudades. Na semana seguinte é que esperava mais umas visitas, tanto dos meus amigos, como de algumas enfermeiras.