terça-feira, 30 de outubro de 2012

O regresso a casa (parte I...)


Depois de ter ficado o resto da semana em casa (com as malditas dores de cabeça), a primeira grande saída foi no domingo à tarde.. Duas amigas foram-me buscar para irmos ao café, era a primeira saída sem a minha mãe ir também.. Vesti-me ( com roupa que não me servia antes de ir para o hospital), pedi à minha mãe para me meter o lenço na cabeça e lá fui eu... Parece que era como se fosse fazer tudo pela primeira vez de novo, acho que já nem andar sabia como deve ser. Fomos ao bar de uns amigos meus, por claro que os queria ver! A minha mãe, passada 1.30h de estar fora de casa, já me estava a mandar mensagem a perguntar se estava tudo bem e quando é que regressava.. pronto, eu sei, é normal! O que é certo é que já estava em pé há horas demais, já me tinha começado a doer a cabeça de novo, tinha mesmo de ir para casa embora não me apetecesse muito. Quando cheguei a casa já tinha lá a minha avó, que me ia ver dia sim dia não.. Já sabia que quando saísse à rua ia ser o "fenómeno" da terriola, tudo a olhar e pessoas que nunca me falaram a falarem-me com a maior das simpatias! Na brincadeira disse ao Ricardo para ele rapar o cabelo, e ele disse que sim, que rapava e o Nuno também.. Eu estava a brincar, mas eles levaram a sério.. Na semana seguinte recebo uma foto no telemóvel... eram eles sem cabelo! Passei lá nesse dia à noite... A Ana queria era ver a minha careca, por isso tirei o lenço e tirámos umas fotos.. Agora olhando bem para a minha careca, via-se mesmo que não tinha apanhado sol.. estava branca, e a minha cara mais morena. Tive consulta no hospital de dia nessa semana, para fazer mais quimioterapia. Fiz análises para ver se os valores estavam bons para fazer mais quimio e depois fui para a sala de espera umas largas horas! Encontrei a minha Cândida, tinha consulta também... Fez-me uma grande festa.. aquele " Ohhhh" que ela soltava tão naturalmente quando estava contente.. Ficámos na conversa as duas, mas acho que já tinha perdido o jeito de perceber o criolo dela.. Mas se há coisa que não me esqueço foram destas palavras.. " Quando tu foste embora eu não ficar bem, eu perder minha amiga".. É uma das coisas que ainda hoje me arrepia de cada vez que me lembro e que não vou esquecer, não há nenhuma palavra que eu possa dizer que dê para vos explicar o que se sente.. Enquanto os resultados não saíam, fui ao piso 7. Estava lá a Mary, e eu estava cheia de saudades dela... foi um dos melhores abraços que recebi até hoje! Obviamente que também passei pelo piso 9, elas foram o meu suporte no início! Passado tudo isto, tinha de fazer quimio.. demorava umas 4h e já eram 13h. A médica, era a única que eu não queria ter, foi a que me deu a notícia em frente aos alunos que ia fazer a P.L durante o internamento. O que vale é que o medicamento para não ficar nauseada dá sono, nem dei pelo tempo passar, passei-o a dormir. Quando saí do hospital parecia um zombie, cheia de sono e desorientada de ter estado a dormir... chegava a casa e era ir para a cama.. às vezes nem me lembrava de ter jantado!

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

O regresso a casa ( 2º dia )

A noite tinha sido péssima, aquelas dores que eu pensava serem nas costas, eram nos rins, era como se me tivessem a picar sem parar... a única explicação que eu encontrava para essas dores era a falta de soro, lá no hospital estava sempre com soro. A minha mãe lá me foi acordar para a pica, pequeno almoço e comprimidos. Estava farta de estar em casa, já me tinha bastado um mês fechada sem apanhar o ventinho da rua, sem nada para fazer... queria ir apanhar ar e ver pessoas! Calcei uns ténis, vesti um casaco quente por cima do pijama, meti um gorro na cabeça e a minha mãe levou-me a andar de carro pela cidade. Dei o passeio por concluído bem rápido... as dores de cabeça não me deixavam estar mais tempo sentada, tinha de me deitar. Assim que cheguei a casa fui-me logo deitar. As tardes eram passadas no computador, a falar por mensagens ou a ver televisão. Ainda não tinha tido visitas dos meus amigos de lá (apesar de me mandarem mensagens a perguntar como estava), mas estava desejosa disso! À noite continuava a ter a minha companhia telefónica por um bocadinho. Descobri que com aquela impressão nos dedos, não conseguia pegar numa caneta e escrever, tinha de pegar de maneira bastante esquisita para conseguir escrever de jeito. E pronto, assim se passavam os dias... deitada com dor de cabeça e cada vez mais com saudades delas.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

O regresso a casa ( 1º Dia )

Passei mal a noite, começou-me a doer a zona dos rins, a cama já me era estranha e ainda acordei a pensar que não podia estar a dormir virada para o lado esquerdo porque tinha o cateter ( foram tantos dias a ter cuidado com o cateter). A minha mãe foi-me acordar as 9.30h, era hora da pica na barriga. Estive durante quase meia hora a tentar espetar a agulha na minha barriga, mas sem resultado positivo, faltavam as mãos de segurança na minha... com isto só me restava passar a seringa e a barriga à minha mãe. Para primeira vez até que não foi má enfermeira, safou-se bem. Era hora de tomar o 1º pequeno almoço da mamã, torradinhas ( sem queijo fresco porque não podia comer) e leite com café. No tabuleiro com o fantástico pequeno almoço vinham os comprimidos que tinha de tomar, era o desmame daquilo que me administravam na veia. A dor de cabeça continuava assim que tirava a cabeça da almofada. Depois do pequeno almoço meti-me a ouvir as minhas músicas da "depressão" ( não estava com nenhuma depressão, chamo músicas da depressão àquelas que me fazem lembrar momentos e pessoas, neste caso eram as músicas que ouvi enquanto estive no hospital), e lá vieram as lágrimas... tinha saudades daquelas pessoas que se tornaram tão especiais e às quais estava tão habituada. Está certo que agora estava com a minha família e que não há amor igual a esse, mas o que é certo é que descobri um outro tipo de amor e outro tipo de entrega. Fui ao facebook durante o dia, o meu mural estava cheio de publicações, desta vez de enfermeiras ( que me fizeram logo chorar com o que escreveram e por se lembrarem de mim) e de pessoas que já souberam que estava em casa. Tinha tanto frio nas orelhas! Ainda não me tinha olhado ao espelho com olhos de ver, mas a minha irmã queria-me tirar fotos careca com a nova nintendo dela... vi a foto e até gostei. Quando fui tomar anho olhei, e reaprei que tinha uma cabeça bem feitinha e que ficava bem sem cabelo. As minhas avós não podiam falhar o primeiro dia da neta em casa, como é óbvio. Depois de jantar apareceu o meu padrinho, que me levou a minha afilhada ( mal tinha força para a pegar ao colo) e os meus primos. Era o que eu mais queria, ter casa cheia e ver pessoas que não via regularmente enquanto estive internada. O que queria também era ver os meus amigos, mas ainda não podia ir ao café, tinha de me aguentar até ao fim de semana. Passei o dia paraticamente deitada no sofá por causa da dor de cabeça. A minha mãe era a minha nova enfermeira. Esta noite ia dormir na cama dos meus pais porque estava cheia de dores nas costas, pensava eu que era nas costas...