terça-feira, 25 de setembro de 2012

32º Dia





Segunda feira, era dia de voltar a casa! Tudo corria bem, fiz as análises de manhã como sempre... depois era só esperar para ver se os valores
estavam bons e darem-me alta. Fui tomar banho, era o meu último banho ali e o meu último banho com cabelo! Antes de me ir embora a barbeira ia-me rapar o cabelo. As análises estavam boas, ia ter imensas restrições, o médico esteve a explicar-me tudo... não podia comer em restaurantes, coisas fritas só em óleo novo, sítios com muito fumo e muita gente eram proibidos nos primeiros tempos, álcool nem pensar, andar de transportes públicos nada de nada ( ou seja, faculdade nada), marisco nem pensar ( oi? passagem de ano sem álcool e sem marisco? que booom!). Bem, mas podia ser pior... são só mais 6 ciclos de quimio e já está! ( pensava eu). Ia fazer um ciclo de 23 em 23 dias no hospital de dia. O João M. ia ter comigo antes de sair, chegou primeiro que a minha mãe até. Já tinha arrumado as minhas coisas todas e estava deitada porque a dor de cabeça continuava. A barbeira chegou e era o momento... Lembro-me de perguntar se ia doer ( sabia lá eu como era sentir uma máquina na cabeça! Foi só o que me lembrei de perguntar). Meteu-me um lençol à volta do pescoço, fechei os olhos e já está! Quem estava no quarto gostou de me ver assim, ficava-me bem diziam ele e elas. Veio de lá a Mary( que ao contrário do que eu pensava, não se esqueceu do meu primeiro lenço), disse que estava gira e meteu-me o lenço. Tirámos fotos, queria guardar aquele momento com aquelas pessoas. O João M. tinha rapado o cabelo dele, era uma "surpresa" ( mas eu vi no facebook que ele tinha cortado o cabelo assim, é o que dá as tecnologias, sabe-se tudo). A minha mãe chegou e ia-me embora... foi uma choradeira pegada quando foi para me despedir da Cândida. Agarrou-me na mão e começou a chorar porque " eu vou perder minha amiga". Tinha o coração tão apertadinho, mas sabia que tinha de a deixar. Fui à sala das enfermeiras despedir-me e queriam que me visse ao espelho, eu não queria muito, mas dei uma espreitadela... até me pareceu bem. Lá ia eu embora, agarrada ao João, cheia de dor de cabeça, os elevadores demoraram eternidades a subir... doía-me tanto a cabeça que estava a ficar mal disposta. Só me queria deitar, mas não dava. Tive de sair do elevador antes do piso 0, andar e controlar as náuseas. Passou, decidi descer um piso pelas escadas, parecia que não sabia descer degraus, as pernas não dobravam bem ( secalhar era só impressão minha). Íamos comer qualquer coisa lá no café do hospital ( não quis almoçar lá no serviço, estava farta daquela comida). Mal comi, estava cheia de dor de cabeça, só me queria deitar. Ainda tínhamos de ir à minha casa em Lisboa buscar as minhas coisas, dormi até lá. Nem mensagens conseguia mandar, a dor de cabeça era horrível. Enquanto a minha mãe foi lá acima buscar as coisas, fiquei no carro com o João. Comecei a ficar mal disposta, sabia que ia vomitar, não sabia do saco que levei do hospital... só tive tempo de abrir a porta do carro e vomitar para o chão. Finalmente íamos para casa, dormi o caminho todo, ia com o banco deitado por causa da dor de cabeça. Cheguei a casa e estava lá a minha avó e a minha mana prontas para me agarrarem, mas eu só me queria deitar. Passado um bocado, já me tinha passado mais a dor de cabeça. Pensava que ia conseguir dar a pica na barriga sozinha, mas faltava-me ali uma mão de confiança, tive de ligar a uma amiga minha que estava a tirar enfermagem para me ir lá dar a pica. Sim, porque não deixei que a minha mãe o fizesse. Depois de jantar fui-me deitar para descansar, e para não me doer a cabeça.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

31º Dia

Era domingo, e supostamente o último domingo... A dor de cabeça é que não havia meio de ir embora. Segundo os médicos seria só uma semanita assim. A ideia de rapar o cabelo continuava na minha cabeça, continuava a cair imenso e até já notava peladas à frente. Não gostava nada daquilo assim... Nem sequer imaginei como ia ficar, se ia gostar. Estava mesmo decidida a fazê-lo no dia seguinte antes de ir para casa ( não ia encher a minha cama de cabelos). O formigueiro que me tinha aparecido há uns dias aumentou, parecia que não tinha sensibilidade na ponta dos dedos e consequentemente não tinha força. Os médicos diziam que era uma reacção a um medicamento da quimio, mas achavam que era um bocado cedo para isso. Mal conseguia escrever mensagens, tinha de fazer imensa força para carregar nas teclas e ainda por cima o meu padrinho tinha-me oferecido um telemóvel novo ao qual ainda não estava habituada. Falei com a Mary e ficou combinado que ela me levaria um lenço para meter na cabeça no dia seguinte ( achava sinceramente que ela se ia acabar por esquecer) e ia-me acordar. Andei a tirar fotos com a Cândida, queria ficar com uma recordação daqueles dias todos com ela. Ela pediu-me uma foto minha ( por acaso tinha uma tipo pass na carteira por causa da matrícula na faculdade), dei-lhe a foto e ela disse " Vou levá-la comigo para a minha terra"... Emocionou-me o carinho com que ela disse aquilo e logo de seguida ( ao que achei piada), meteu a foto dentro duma bolsinha impermeável onde guardava a escova de lavar os dentes e disse " vou guardá-la aqui para não se estragar". A minha mãe não achou muita piada à ideia de rapar o cabelo, quando estava de saída pediu-me " não rapes o teu cabelo ainda Ana". Mas nem isso demoveu a ideia da minha cabeça, era mesmo desconfortável estar a vê-lo cair. A Cândida sabia que eu ia ter alta no dia a seguir, mas eu estava sem apetite nenhum, então disse-me assim " Queres ir para a tua casa?" e eu respondi " Quero" e ela diz " Não queres não, para ires para casa tens de comer. Vês? Eu estou a comer, quero ir para casa". Levei mais duas ou três garfadas à boca, mas não conseguia mesmo comer mais. Estava a umas horas de ir para casa, mas não estava propriamente contente... Estava contente porque podia voltar a comer comidinha da boa e ter as minhas coisas, estar no meu quarto... Mas a ideia de deixar as enfermeiras, a Cândida, as auxiliares deixava-me com lágrimas nos olhos! E lá estava eu a chorar, mais uma vez não por ter um tumor, mas sim porque as ia deixar.

sábado, 15 de setembro de 2012

30º Dia



Sábado, era dia de mudar de visual! Ao fim de semana as manhãs eram mais descontraídas... não haviam as visitas dos médicos e não haviam exames para fazer. Tal como combinado, a Mary levou a tesoura para me cortar o cabelo. Fui tomar banho, e passado o um bocado de ter ido para o quarto lá veio ela para me fazer o novo penteado. Só quem estava no quarto éramos nós as duas, a dona Helena e a Cândida. A Soraia tinha saído para tomar banho... Achei que devia guardar o antes com uma fotografia, e o depois também. Tive direito a uma franjinha e tudo! (cortar o cabelo era um passo importante, e queria que nesse momento estivesse alguém com quem eu me desse bem e gostasse) A Cândida gostou... e eu também. Ainda assim, sabia que tinha de rapá-lo mais cedo ou mais tarde. Não ia voltar para casa e encher a minha cama de cabelos. Fiz quimio ontem, mas desta vez não estava a sentir quase nada de diferente. Era só mesmo o cheiro ( e aquela comida de hospital já fartava) da comida. A minha mãe chegou à tarde e tinha lá a minha irmã outra vez... Tinha de falar com ela sobre o facto de ir ficar sem cabelo, mas de uma maneira suave ( não fazia ideia de como ela estava a lidar com a situação toda). Disse à minha mãe que queria ser eu a falar com ela e perguntei-lhe assim " Oh mana, o que é que achas da mana rapar o cabelo? Era fixe não era?"... mas ela não gostou muito da ideia, preferia que eu ficasse com cabelo e que ele caísse. Mas eu achava que ela depois até ia achar engraçado! Queria ir para a frente com a ideia de rapar. Mas elas gostaram do meu corte de cabelo novo. Nessa noite estive ao telemóvel, não tinha muito sono... e nem estava a sentir os efeitos da quimio que senti na 1ª vez.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

29º Dia

Sexta feira, nem vale a pena dizer que a dor de cabeça continua... e que acordo num mar de cabelos. Ia fazer quimio, o 2º ciclo. Se não houvesse nenhuma alteração no meu estado, na segunda feira já tinha alta. Já sabia que ia dormir o dia quase todo, aquele medicamento para não enjoar deixava-me cheia de sono. Até estava contente com as picas na barriga, não estava negra nem nada, só se notava a marca da agulha. A Mary bem que me tentava ensinar a dar sozinha, a Mary e a Gi. Não conseguia espetar sozinha, tinha de ser a mão dela a empurrar a seringa ( eu fazia mão morta, então a agulha espetava e como eu não fazia força e ela tirava a mão, a agulha voltava para fora. Fartava-me de rir com aquilo... é que tinha de espetar novamente). A filha da dona Ana, e o marido foram-me visitar... super queridos! Vinham carregados de beijinhos para mim do piso 9. Combinei com a Mary que no sábado me ia cortar o cabelo, para ficar mais pequeno. Não me importava do cabelo cair, importava-me de ter a cama sempre cheia de cabelos e eu própria também tinha cabelos por todo o lado já. Desta vez já não estava nauseada, só enjoada... e não podia com o cheiro da comida! Tapava o nariz com o lençol sempre que entrava um tabuleiro com comida no quarto. À noite continuava com sono... dormia e acordava, mas pouco depois voltava a adormecer outra vez. A dona Helena já dá mais descanso durante a noite, conseguiram acertar no horário dos comprimidos para dormir. Finalmente conseguia descansar melhor...

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

28º Dia

Quinta feira, e a dor de cabeça continuava! Tinha acordado durante a noite com a dor, por isso fiquei sonolenta durante a manhã... fui tomar banho mais tarde e tudo. O meu cabelo continuava a cair a um ritmo muito rápido, eram cabelos por todo o lado. Pedi ao meu pai na hora da visita, para me agarrar no cabelo e puxar ( porque alguns já estavam mesmo soltos e estava-me a fazer impressão estar a senti-los nos ombros), ele muito devagar fez o que lhe pedi e fez uma expressão tão enjoada quando viu quanto cabelo ficou na mão dele... achei-lhe imensa piada, porque eu já estava habituada. Fazia-lhes mais impressão a eles do que a mim. Entrou uma doente para a cama do lado, que esteve tanto tempo vazia. Era a Soraia, tinha 30 ou 30 e poucos anos e já estava no hospital há um tempinho. Tinha feito um transplante acho se bem me lembro. Já tinha companhia para ver se o tempo passava mais depressa. Fazia quimio no dia a seguir, e se continuasse tudo bem tinha alta na segunda. Como a dor de cabeça não passava marcaram-me uma TAC para a parte da tarde. Estavam com medo que a doença tivesse progredido de maneira diferente ao esperado. Fiquei de jejum... jejum e cheia de dor de cabeça, melhor era impossível. Chegou a hora de ir para o piso da TAC, meti-me na cadeira de rodas e lá ia eu dar mais uma voltinha "à rua". Não cheguei a meio do caminho, sempre que me sentava ou levantava da cama a dor de cabeça aumentava tanto que mal conseguia abrir os olhos. Voltámos para trás e tive de ir na maca... deitadinha, o pior é que a dor continuava, ia demorar a passar. Esperei mais de 1h para fazer a TAC... estava cheia de fome, cheia de dor e sozinha ( na hora da visita é que tinha de ir fazer exames, não achava nada justo). Voltei para cima e a disseram-me que a TAC estava normal... oficialmente, a dor de cabeça tinha sido devido à P.L. Já não tinha de tomar conta da dona Helena sozinha, o que era um alívio... Podia descansar quanto a essa parte finalmente. Com a Cândida já me entendia bem, era engraçado quando ela me tentava dizer alguma coisa e eu dizia-lhe que não estava a perceber nada e ela soltava uma gargalhada tão engraçada e tão cheia de ternura... acho que não há grande explicação para isso, só quem vê é que percebe, por mais que eu tente explicar.

domingo, 9 de setembro de 2012

27º Dia

Quarta feira, acordei cheia de dor de cabeça... nunca tinha tido uma dor de cabeça daquelas. Quando olhei para a cabeceira da cama, vi um mar de cabelos, estava rodeada de cabelos! A minha t-shirt parecia igualmente um mar de cabelos, e alguns entraram para as minhas costas, era bastante incomodativo. Fui tomar banho, e deparei-me com outra situação... Disseram-me que o cabelo ia cair, até aí eu sabia, mas não me disseram que todos os outros pêlos do corpo também iam cair! Fiquei surpresa com aquela situação, não fazia ideia que ia ser assim, mas também não me incomodou esse facto... até era melhor, não tinha trabalho com a depilação! Já estava deitada e a dor de cabeça não passava, os analgésicos já não faziam nada. Depois de almoço, estava mesmo a pegar no sono ( consegui abstrair-me da dor de cabeça), apareceu uma médica da neurologia para ver se aquela dor de cabeça era mais que uma simples dor de cabeça. Fez-me alguns testes, e saí-me bem em todos. Durante a tarde deram-me o tramal ( que era mais forte que os outros analgésicos experimentados). Tive visitas... o Francisco e até a minha prof. de Filosofia do secundário. Comecei-me a sentir mal... perdia a noção daquilo que estava a dizer, estava tonta, mal andava e fiquei super mal disposta. Veio de lá a Mary, e concluiu que eu era alérgica àquele medicamento. Eu só não queria vomitar... não vomitei com a quimio e ia vomitar com um medicamento?! Nem pensar. Ela ria-se porque já lhe tinha acontecido o mesmo, mas eu não estava a achar muita piada àquilo não. Já não tinha ninguém para conversar de novo, o senhor do meu lado teve alta. A dona Helena lá me continuava a massacrar com os seus delírios... agora ouvia-me falar e chamava-me filho! Já não tinha muita paciência para aquilo, mas sabia que tinha de aguentar, apesar de ralhar com elas às vezes ( em vão, porque ela não entendia e continuava a chamar-me filho). O meu cabelo continuava a cair, mal eu mexia a cabeça na almofada, caiam imensos cabelos. A dor de cabeça persistia, e a dona Helena também. Adormeci sem dar conta ( acho que de cansaço de a ouvir).

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

26º Dia

Terça feira, acordei cheia de dor de cabeça... Não estava a perceber porque me doía, tinha dormido bem até. Disse às enfermeiras, deram-me um analgésico e pronto. Quando me levantei para ir tomar banho, parecia que tinha a cabeça a latejar... acabei de tomar banho, fui-me deitar e aliviou mais. Mas assim que levantava a cabeça da almofada era dor certa. Entrou um senhor para a cama do lado, ia tirar células para fazer um auto transplante. Ele já estava habituado, parece que já não era a primeira vez. Ia ter alguém para conversar durante 2 dias... era muito simpático o senhor. Comecei a reparar que o meu cabelo estava a cair, mal lhe tocava e caíam para a cama. Ia começar... deve ter sido da P.L, como fizeram tratamento. Recebi a tal surpresa, eram uns bonequinhos da minha colecção. Já toda a gente sabe que gosto, então como miminho, oferecem-me. Tive alguns dos meus amigos hoje de visita, e até uma professora do secundário. Depois das visitas, tive a ouvir música com o senhor que entrou... ele até cantava, era muito engraçado. A Gi hoje teve tempo de ir "beber um café" comigo. Era sentar-se ao pé de mim a conversarmos... dizíamos beber café porque era depois dela jantar, que seria a hora do café. A dor de cabeça estava em forte de novo, tive de chamar alguém. Veio a Ana Filipa ver o que era, mas ainda não tinha passado tempo suficiente desde o último analgésico para tomar outro. Foram mais tarde dar-me. Custou-me a adormecer por causa da dor de cabeça, que persistia. Mas depois lá me deixei levar pelo sono. Adormeci com um dos bonecos agarrado ao meu dedo. Fazia-me sentir acompanhada.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

25º Dia

Segunda feira, o normal... acordei, pica, pequeno almoço. A Gi ainda andava por lá, veio ter comigo e dizer que ia correr tudo bem. Mais tarde a Dra. Ana apareceu a dizer-me que mais um pouco e iam-me fazer a P.L, e que era o Dr. Pedro. Assim que ela se foi embora do quarto pedi logo para chamarem a minha Mary... ela apareceu e eu voltei a perguntar " Vens aqui para perto de mim não vens?", ao que ela respondeu afirmativamente com a cabeça. Esperei mais um bocado e lá apareceu a Mary com o carrinho onde estava tudo o que era necessário para o efeito. Apareceu o Dr. Pedro, e foi aí que percebi que a Mary ia ficar a ajudar o médico, mas logo de seguida veio a Dra. Ana que me ficou a agarrar nas mãos. Começaram então a fazer aquilo ( já me tinham metido um penso como anestesia 30min antes), lembro-me do Dr. Pedro dizer " Agora não te mexas, podes apertar as mãos da Dra. Ana mas não te mexas". Realmente aquilo doeu um bocadinho, e apertei com um bocadinho mais de força. Estava farta de estar naquela posição, e já estava toda transpirada de estar com a cabeça na almofada, parecia que aquilo nunca mais acabava. Lá acabou, estava toda transpirada na cara... até pensaram que eu me estava a sentir mal, mas não, só estava cheia de calor. Nem foi assim tão mau, comparando com todos os outros exames que já tinha feito, este tinha sido dos melhores até ao momento. Tive de me deitar logo de barriga para cima, sem almofada e ficar assim pelo menos uma hora... mas foi mais que isso. Tivemos de meter outro acesso, a zona onde a Mary me picou era tão má de espetar que me doeu mais do que fazer a P.L. Já a minha mãe tinha chegado, e eu estava cheia de fome. E ainda não me podia levantar. O médico disse que não gostou da maneira que o líquido saiu ( diz que saiu com muita pressão), mas pode não ser nada. Quando o penso saiu ( era enorme em comparação para a marca que era), pedi à minha mãe para tirar uma foto para ver se tinha ficado a marca, mas não... tinha só uma piquinha de nada. Comecei a ficar com dor de cabeça à noite, deram-me um analgésico e aliviou para que conseguisse dormir. Já estava despachada de exames esquisitos com picas! Antes de dormir ainda estive um bocadinho ao telemóvel, e ia ter uma surpresa durante a semana, só não sabia o que era...

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

24º Dia

Domingo, a vontade de comer continuava a não ser muita... Pesava uns 53kg nesta altura. A Cândida e eu, já nos entendíamos melhor ( passada uma semana a ouvir criolo, algum dia tinha de começar a perceber). Todos os dias de manhã ( assim que me vê de olhos abertos), me dizia bom dia e perguntava se estava melhor. Aconteceu uma coisa engraçada neste dia... As enfermeiras estavam com a dona Helena, e ela ouviu elas dizerem o nome Cândida e então, como a Cândida falou a seguir, perguntaram a dona Helena quem era a médica dela... Ao qual ela respondeu " é a Dra. Cândida". A Cândida soltou uma gargalhada das dela, como nós todas presentes no quarto. Depois da gargalhada, a Cândida diz assim no seu português " Tem de ficar boa, eu sou tua médica e digo para ficares boa e ires para casa". Foi tão engraçado! Já quase que não tinha dores na boca e na garganta, mas não tinha apetite. O gelado é que eu nunca dispensava, queriam que eu come-se, pelo menos comia gelados. O sabor da minha boca tinha mudado, a água sabia-me mal, tinha a boca sempre quente ( daí comer os gelados). Apetecia-me água, mas sabia-me tão mal que acabava por não beber. No dia a seguir de certeza que não me livrava da P.L. Mas já estava mais ou menos preparada... já tinha tido tempo para me habituar à ideia. A Mary ia estar a fazer manhã, por isso sabia que ia ter umas mãos para agarrar. Ao domingo só a minha família me ia visitar... A minha prima Ana Filipa, depois de ter visto a minha colecção de bonecos, levou-me um peluche maior ( ficou com o nome de soneca, porque cada vez que ela me ia ver eu adormecia). A dona Helena já dormia de noite, às vezes ainda acordava a chamar por pessoas, mas depois adormecia de novo. Mas não tinha sono, e a Cândida também não... estava complicado de adormecer. Estava a pensar no dia a seguir, que me iam tirar líquido cefalorraquidiano da espinal medula para ver se a doença estava na medula e meter quimio para tratar/evitar que a doença se propaga-se. Estava farta de picas, e tinha de ser mais uma, desta vez nas costas.

sábado, 1 de setembro de 2012

23º Dia

Sábado, tinha de acordar cedo na mesma por causa da pica... mas já começavam a saber como era, deixavam-me ficar mais tempo na cama e trocavam os meus lençóis quando eu ia tomar banho ( antes de hora de almoço). Estava a ficar magrinha, e parecia que já tinha pouca força nas pernas ( e na realidade, os meus músculos tinham diminuído). Estava à espera da minha manocas hoje... Lá chegou ela com a minha mãe, cheia de saudades deu-me um abraço e um beijinho tapado pela máscara. Estivemos a brincar com a nitendo dela, a tirar umas fotos. Quando ela teve de sair ( sabia que ainda voltava), mas os meus olhos encheram-se de lágrimas... acho que foi de não a ver há tanto tempo, estava tão crescida! Para além dela, o Nu e a Su também tinham ido, para depois irem passear com a minha irmã para ela não ficar lá o tempo todo na sala de espera. Passados uns dias de estar na pneumo, a minha irmã mandou-me um peluche para eu não ficar sozinha, e desde aí que a minha avó quando me vai visitar oferece-me um bonequinho pequenino. Todos eles têm nomes dados pelas enfermeiras ou auxiliares, e alguns têm mesmo o nome delas. A minha mesa parecia um zoo. Parece estúpido, mas sentia-me acompanhada e protegida com aqueles bonecos... Tinha tantas saudades do ar da rua! Ali na hemato, nem as janelas podiam ser abertas. As enfermeiras que fizeram noite, fumavam, eu sentia o cheiro... então decidi dar os isqueiros todos que tinha na mala ( ainda eram uns 3). Pedi para me levarem à rua... pensava que iam dizer que não, mas estranhamente levaram-me às escondidas! ( sim, isto é um segredo... pshiu) Soube tão bem sentir aquele ar na minha cara, apesar de ser pouco tempo... Quando voltei para o quarto, a Betona e o Rodrigues estavam só a mandar mensagens à Mary com fotos da disco onde estavam, e ela ali a trabalhar. Foi então que tirámos uma foto para lhes enviar! Demorei imenso a adormecer, estava tão satisfeita por ter ido à rua... ainda estive ao telemóvel e tudo, a contar a situação. A dona Helena finalmente se acertou com o sono!