sexta-feira, 31 de agosto de 2012

22º Dia

Sexta feira, acordei para levar a pica e notei que tinha os dedos dormentes... pensei que fosse das picas para ver a glicemia, porque quase todos os dias me picaram por causa da cortisona. Mas parece que não é, é um efeito de um medicamento da quimio que fiz. Não tinha sensibilidade nenhuma, aquilo fazia-me um bocado de impressão, mas aguentava-se. Apareceram-me lá uns estudantes com um Dr. muito simpático e engraçado. Alguns já os tinha encontrado na pneumo, e ainda se lembravam de mim, até referenciaram que estava menos inchada. Aquele interrogatório que eles fazem até tem a sua piada, às vezes faziam perguntas "parvas" com as quais eu brincava e eles ficavam todos envergonhados. E depois, era pessoal mais ou menos da minha idade ( o que não se apanha, sem ser as visitas dos meus amigos ). A dona Helena andava a dar-me noites complicadas... estava sempre a acordar, e depois de dia tinha sono e adormecia várias vezes. Recebeu visitas, calculo que vá ter uma noite ainda mais agitada. Começo a conhecer os passos das enfermeiras no corredor, já começo a adivinhar quem vem lá. A pneumo continua a vir-me visitar e mandar beijinhos, mas hoje tive a visita da Dra. Rita... veio ver como estava. ( Não sei se fazem isto a todos ou quase todos os doentes, mas sem desfazer das pessoas, senti que comigo era diferente... não sei explicar muito bem porquê!) Continuava à espera dos efeitos da quimio, tipo cair o cabelo e essas coisas... mas nada acontecia. A garganta parecia que tinha melhorado, mas ainda me custava a engolir os (poucos) alimentos. Só comi gelados. Gelado ao pequeno almoço, gelado ao almoço, gelado ao lanche, ao jantar é que não... já eram gelados a mais, mas sabia bem porque eram fresquinhos para a garganta. À noite não tinha muito sono, tinha dormido durante o dia... Estava a ficar ansiosa porque a minha irmã me ia visitar no dia seguinte e eu já não a via há quase, ou mesmo, há uma semana. Fiquei ao telemóvel um tempo, até que depois consegui adormecer embora a dona Helena continuasse a fazer da noite dia. E safei-me mais 3 dias à P.L, que foi a melhor parte.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

21º Dia

Quinta feira, quando acordei a dona Helena já estava outra vez no quarto. Mas vinha na mesma, com as suas conversas sem sentido. A Alison estava a ficar nervosa, e ainda por cima parece que não lhe explicaram bem as coisas, ainda ficou pior. O meu acesso estava a dar as últimas ( ainda era um dos que tinha trazido da pneumo). A enfermeira que estava comigo era a Ana Filipa, mas como tinha de ajudar o médico a meter o cateter à Alison, pediu à Bela para ser ela. Aquilo foi tiro e queda, acertou na veia à primeira sem dificuldade nenhuma. Fecharam a cortina, e comecei a ouvir o que se passava ali na cama ao lado. Fiquei um bocado "assustada" porque ainda ouvi a Alison se queixar uma ou duas vezes... acabou e ela disse que quase não tinha sentido nada. A Maria João é que está sempre a dizer que me deviam meter um a mim, mas eu farto-me de lhe dizer que não. O João M. foi-me visitar, ainda estivemos os três a falar um bocadinho. A Alison ia ter alta, eu ia ficar ali só com a Cândida e a dona Helena... e a campainha da Cândida ainda não está boa, e para acumular ainda tenho de deitar o olho à dona Helena que está sempre a querer fazer disparates. A Gi conseguiu ter 5min para estar um bocadinho a conversar comigo... era agradável ter alguém com quem falar já que com a Cândida as conversas não eram muito fáceis nem longas, e com a dona Helena, eram só monólogos porque ela não percebia o que estava eu a dizer. Os comprimidos que lhe deram para dormir não estavam a fazer grande efeito, continuava tudo na mesma ( falava falava, gritava). Acordei umas quantas vezes por causa disso, mas estava um bocadinho melhor do que na noite anterior.

domingo, 26 de agosto de 2012

20º Dia

Quarta feira, acordei com a mesma dor de garganta... o que o médico me tinha receitado não tinha feito efeito. Supostamente hoje era o dia da P.L, mas como não era assim tão urgente e como tinha feito uma ponta de febre outra vez, ainda não foi o dia. Fiquei logo toda contente, pelo menos já ia ser um dia "normal". Quando saí da pneumo, a Ritinha e a Andreia picaram-me uma veia cada uma... a Ritinha disse que aquele acesso ia durar uns bons dias, e de facto durou, até hoje! Não era preciso picar uma nova porque ainda tinha outro acesso que ainda estava bom. Disseram-me que ia entrar uma rapariga da minha idade para a cama ao lado da minha, ia meter um cateter venoso central. Pelo menos ia ter companhia por uma noite... a dona Antonieta ia ter alta, ia ficar só eu e a Cândida. A dona Antonieta saiu, mas pouco depois entrou uma outra senhora, a dona Helena, que ia para a cama que estava à minha frente. Vinha a dormir, não sei o que é que lhe tinham feito ou o que é que ela tinha. Passado pouco tempo começou a acordar e só pedia água, mas ainda não tinha vindo nenhum médico, não sabíamos se podia beber. Tentámos explicar-lhe isso, mas ela parecia um bocado desorientada e não percebia que não podia. Lá veio o Dr. Raúl, foi aí que me disse que a doença dela lhe afectava a parte psicológica. Mandei beijinhos à Dra. Rita por ele, e ele disse que ela me viria ver ainda. À tardinha entrou a Alison, a tal rapariga da minha idade. Era muito simpática, começámos a conversar sobre as nossas doenças ( ela tinha o mesmo que eu), só não tinha tido a trombose jugular bilateral como eu. Estava a fazer quimio no hospital de dia, mas as veias já estavam muito estragadas da quimio, por isso tinha de meter um cateter central. Isso era coisa que eu não queria, só a ideia de levar anestesia numa parte sensível ( parte esquerda do peito, para apanharem a veia do coração) e depois de ficar ali com uma coisa, fazia-me confusão. Não queria ter de meter aquilo, mas as minhas veias eram tão péssimas, mais que as dela. À noite não conseguíamos dormir, a dona Helena começava a gritar e a dizer coisas sem sentido como pedir sal e vinagre. Acordávamos constantemente com ela a falar e a gritar, depois não percebia que nos estava a incomodar. Foi aí que a Betona decidiu mudá-la de quarto para conseguirmos descansar, e ela também.

sábado, 25 de agosto de 2012

19º Dia

Terça feira, acordei com a dor de garganta... e estava pior. A Dra. Ana tirou-me sangue e disse que me tinham marcado uma consulta para o otorrinolaringologista, era ainda de manhã. Mal engolia a minha saliva, quanto mais a comida... já estava mais magra, notava-se bem. A enfermeira chefe passou lá e fez com que eu bebesse um fortimel ( é tipo um iogurte líquido mas com valores calóricos e energéticos um bocadinho superiores) Apareceu no quarto, uma Dra. com uma madeixa branca no cabelo que eu não sabia quem era. Vinha com uns 3 ou 4 alunos, sentou-se ao pé de mim e falava para eles como se eu não estivesse ali! " Esta é a Ana, tem um linfoma e teve trombose jugular bilateral e hoje vai fazer uma punção lombar.". ( Vou o quê? Fazer uma punção lombar? Ninguém me tinha dito nada, e eu tinha pedido desde o início para me avisarem das coisas com antecedência. Só tinha vontade de chorar, as lágrimas começaram-me a encher os olhos e a cair.) A Dra. virou-se para mim e disse " Estás a chorar porque vais fazer uma punção lombar? Até os bebes fazem..." ( pois claro, uma coisa é os bebes, que não se vão lembrar do que lhe fizeram, já eu, vai-me doer e vou-me lembrar). Ela saiu do quarto e deixou lá os alunos a encherem-me de perguntas, eles começaram-me a dizer para eu dizer o que achava e que tinha feito bem em reagir assim em chamá-la à atenção. Lá fui eu para o otorrinolaringologista... à saída do serviço encontrei a Filipa, que me perguntou onde é que eu ia... e eu respondi " vou ao médico". Começaram-se a rir da minha resposta, mas como o habitual era os médicos virem ter comigo e não eu com os médicos, eu respondi assim... que ia ao médico. No caminho até lá meti-me a pensar naquilo da P.L e definitivamente estava farta de agulhas e de estar ali, e principalmente de coisas novas! O médico era simpático até, disse que tinha mucosite... tal como se previa. Voltei ao quarto e apareceu a Dra. Ana, vinha saber o que se tinha passado... e eu voltei a explicar que me tinha de avisar com antecedência, não era no próprio dia se já sabiam antes. O bom disto, é que tive uma ponta de febre durante a noite, então não fazem hoje, fica para amanhã. A Betona hoje fazia tarde, era ela que me dava a pica na barriga à noite. Era barrigadas de rir, antes de me picar começávamos a rir ( e eu não a deixava picar antes de parar de rir), parávamos e já estava... achava imensa piada àquilo. Perguntei à Maria João se me dava a mão quando fizesse a P.L ( fui mal habituada na pneumo, com as mãos da Andreia na B.O), ela disse que sim! Só esperava ter febre outra vez esta noite ( assim também não fazia a P.L amanhã)... A campainha da Cândida não tocava, tinha de ser eu a tocar por ela, por isso fui acordando a meio da noite para ver se estava tudo bem.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

18º Dia

Segunda feira, lá vêm os sugadores de sangue logo pela manhã ( geralmente é o Dr. Pedro ou a Dra. Ana), a parte boa é que neste piso já não me fazem a análise onde tinha de colher sangue da artéria. Continuava enjoada, e doía-me a garganta e a língua... era esquisito, parecia dores de uma amigdalite, mas doía-me a mexer a língua. Estava à espera que o cabelo me começasse a cair, mas nunca mais acontecia nada... o único sintoma que tive depois de fazer a quimio foi enjoar a comida e agora esta dor de garganta. Vão-me retirar o oxigénio! Boa! Estava livre daquela coisa no nariz. Tive visitas! As minhas fofinhas da pneumo apareceram lá, a Andreia e a Paula. Estava tão contente por elas estarem ali comigo! Não almocei nada de jeito ( já se tornava habitual). Depois de almoço tive de levar outra vez aquele medicamento que faz dormir, lembro-me de adormecer e estar a minha mãe sentada ao meu lado a olhar para mim... quando volto a acordar, abro os olhos e vejo o João M.! Fiquei um bocado confusa, mas depois percebi que adormeci. Ao que parece ele já trocou o número de telemóvel com a minha mãe, mandou-lhe logo mensagem a dizer que eu já tinha acordado. Tinha de ir fazer um rx lá abaixo. Toda a gente se lembrou de me vir visitar hoje, pessoas de Vendas... mas esqueceram-se de me avisar! Não me apetecia estar com ninguém para além das pessoas habituais, mas parece que não entendiam isso. Quando desci para fazer o rx, correu tudo para redor da cadeira de rodas ( eu so queria sair dali... ir lá abaixo e voltar rápido para o quarto). A dor de garganta não melhorou, tive de dizer a elas. Deve ser mucosite, mas ainda assim o médico vem ver, e em princípio vou ao otorrinolaringologista amanhã. Depois de (supostamente) jantar, era altura do momento telefónico antes de dormir, continuava sem paciência para ir à net. O BIPAP da dona Antonieta já passou à história, já não me faz a mínima confusão.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

17º Dia


Domingo, acordei tão enjoada que nem consegui tomar o pequeno almoço todo. Estava contente, podia ir tomar banho como deve ser outra vez. A pica na barriga já não me incomodava, tinha de ser e pronto ( apesar de às vezes doer um bocadinho). O jantar do dia anterior tinha-me ficado na cabeça… o repolho que me soube tão bem na altura, estava-me agora a provocar enjoos. Não conseguia pensar em comida, ou pior, não conseguia pensar em comer. Os meus pais foram-me visitar, mas para além deles apareceu também o Rúben e a Susana. Quem levou a Susana ao meu quarto foi a Filipa ( eram primas, até foi uma coincidência engraçada). O facto de estar internada, levou a que percebesse que podia contar com mais pessoas do que aquelas que pensava. Foram boas surpresas… O meu pai vai sempre visitar a dona Ana e a Celeste. Mandam sempre muitos beijinhos por ele, estão preocupadas comigo. Tinha saudades delas e do resto do pessoal. Mal comi, nem sequer tinha fome. Sabia que tinha de fazer um esforço, mas comia pouco. Tive de levar o medicamento para o enjoo à tarde, mas desta vez foi um mais fraco que não me deixou a dormir. Já não tinha paciência para ir à net. Só queria estar deitada e sossegada. Comecei a ouvir o BIPAP da dona Antonieta, aquilo para eu conseguir adormecer é do pior, mas também não queria tomar o comprimido das alergias ( que supostamente faz sono), porque depois no outro dia passava a manhã toda sonolenta.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

16º Dia

Sábado, acordei um bocado enjoada com os cheiros… A Cândida diz-me logo bom dia quando me vê de olhos aberto. Acho que hoje me tentou perguntar se dormi bem, mas num português tão mau que eu não percebia muito bem. Já sabia que não tardava muito e estava a levar a pica na barriga, mas já era normal… ao que parecia, as minhas plaquetas estavam com bons valores, então a Maria João ( desde o dia em que a conheci, achei que íamos ter uma boa relação, foi daquelas situações em que se olha para a pessoa e sabe-se logo) levou-me de cadeira de rodas até à casa de banho onde podia tomar um banho de jeito e com o chuveiro! Há 1 semana que estava na cama sem me levantar, ia saber bem… mas cansei-me imenso. Já não tinha o braço inchado, conseguia fazer tudo sozinha já. Agora tinha de fazer uns bochechos quaisquer que não eram nada bons, para não apanhar nenhum fungo por causa da quimio. Sentia-me cansada ( apesar de estar na cama deitada)… a minha mãe dizia que estava com umas olheiras enormes, e o meu pai a seguir disse a mesma coisa ( vim depois a comprovar que eram mesmo enormes). Comecei a ficar com náuseas outra vez, deram-me um medicamento diferente do que me deram no outro dia… Adormeci passados poucos minutos do administrarem. Dormi quase a hora toda da visita, a minha mãe acordou-me para jantar. Era bife e tinha repolho, só me lembro desse pormenor. Eu estava meia a dormir, a minha mãe é que me deu o jantar… estava-me a saber tão bem! À noite tive visitas… eu sabia que elas não me iam falhar. A Vivi e a Ritinha foram-me visitar… levavam-me gomas e tudo, mas neste serviço não posso comer nada que venha de fora do hospital. Com a quimio fico mais frágil. Estava com saudades de uma cara conhecida… Fiquei radiante! Não tive dificuldade em adormecer, nem enjoei mais nessa noite. Acho que aquele medicamento era mesmo forte. Apesar de me ter sentido cansada nesse dia, agora então sem estar inchada é que não me sentia mesmo doente.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

15º Dia

Sexta feira, acordei no novo quarto e pronto… eram 9.30h e tinha de levar a pica na barriga ( logo de manhã a ser picada era o pior que podia acontecer). A enfermeira chamava-se Maria João. Avisei que tinha de dizer pica antes de picar… assim foi, pica e já está! Disse-me que mais um bocado ia-me meter a quimio. Tomei o pequeno almoço, e fui-me entretendo a conversar com a minha vizinha da frente, já que não percebia nada do que a Cândida dizia. Já quase que não tinha o braço inchado, mas mesmo assim ainda tinha algumas dificuldades em levantá-lo. A Maria João regressou mais tarde com a quimio… os sacos eram pretos, e um deles tinha o líquido cor de laranja, virei-me para ela ( em tom de brincadeira) e disse “ cor de laranja? Agora vou ficar toda cor de laranja não?”… ela riu-se e disse que sim. A única diferença é que ela estava a falar a sério e eu não! O que é certo é que a cor da urina era cor de laranja! Assustei-me um bocado porque não estava à espera que aquilo acontecesse, mas logo depois percebi o porquê. A quimio acabou e eu não tinha sentido nada, não doeu, nada… era como se fosse só soro. Ainda almocei bem… na hora da visita, estava lá a minha mãe comigo e comecei a sentir náuseas. Pensei mesmo que ia vomitar… chamei logo a enfermeira e deu-me um medicamento para aquilo passar. Foi quase instantâneo. Assim era bom, quando começasse a sentir alguma coisa tocava logo à campainha. Afinal aquilo tudo que se dizia da quimio não era assim tão mau, nem nada de especial. Ao jantar já não tinha apetite… os cheiros enjoavam-me. Não comi quase nada. Não tive mais náuseas nem nada, mas os cheiros faziam-me confusão. Às 21.30h, mais uma pica na barriga… acho que já me começava a habituar. A dona Antonieta dormia com um BIPAP… aquilo fazia tanto mas tanto barulho e fazia-me aflição ouvir a respiração dela, que comecei com dificuldades em adormecer.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

14º Dia

Quinta feira, era o dia que eu não queria que chegasse… Não queria ir para outro piso, queria ficar ali com elas. Levei a última dose de cortisona, parecia que já estava menos inchada, mas mesmo assim ainda não tinha muita força no braço. Tinha de ir fazer um rx lá abaixo, mas tinha perdido um acesso. A Andreia supostamente não estava comigo nesse dia, era o Luís… Mas eu queria que fosse ela a picar-me, ela acerta nas veias boas e também já estava muito habituada a ela. O Luís passou-se, enervou-me a mim, enervou a Andreia… Isto tudo porque queria ser ele a picar-me porque era meu enfermeiro nesse dia. Só me apeteceu chorar, e os meus olhos ainda se encheram de lágrimas! Não adiantava procurar nenhuma veia naquela altura, com os nervos com que estava elas desapareceram todas. Fui fazer o rx e quando voltei para cima lá picámos outra veia. Disseram-me que só ia para o outro serviço depois de almoçar… então não estava com grande pressa a comer. Já lá estava a minha mãe e o João M. ( que acertou em cheio nos dias das mudanças), quando a Paula me veio dizer que tinha de me despachar porque já estavam à minha espera ( só tinha vontade de chorar, só queria ficar ali com as “minhas” enfermeiras). A Andreia tentou ir-me levar ao outro serviço com a Rita, mas não se justificava. Já me tinham tirado a heparina por perfusão, levava os dois acessos livres. Lá andou o João com a minha mãe a carregar a minha tralha toda e foram à descoberta do outro serviço ( tinha de se ir por outro elevador, para chegar à hematologia). Só queria chorar! O que acho engraçado é que eu tinha vontade de chorar porque as ia deixar, e não porque ia fazer quimio ou por ter um tumor… Quem me recebeu na hematologia foi a Filipa, que me disse logo que era a bruxa má do serviço ( fiquei ainda a gostar menos de ir para ali). Assim que a Rita se foi embora e o João M. entrou não aguentei mais, comecei a chorar. ( Pelo que descobri depois, estava uma voluntária no quarto quando eu cheguei, a Rita, e eu nem dei por nada… estava-me a fazer uma grande festa para eu não chorar, mas estava completamente desnorteada) Elas de certeza que me vêm visitar! Tenho a certeza, mas não vai ser a mesma coisa. À minha frente estava a dona Antonieta ( muito simpática e comunicativa), ao meu lado a cama estava vazia, e mais lá ao fundo estava a Cândida ( era uma senhora já de idade, de Cabo Verde e que eu não percebia nada do que ela dizia… mas era engraçada). A Filipa chegou ao pé de mim com uma seringa… eu não sabia que por me terem tirado a heparina por perfusão tinha de levar enoxaparina( era um anti coagulante na mesma) na barriga ( a minha avó levava, tinha a barriga toda negra das picas). Não queria ficar com a barriga negra, nem levar picas na barriga… disse à Filipa para dizer “pica” antes de picar, mas comecei a meter as mãos à frente... ela fez cara feia, desviou-me as mãos e disse “pica”. Não vou dizer que não doeu, porque doeu mesmo! Iam ser 2 vezes por dia… não gostava nada daquilo! Muito menos pensar que ia ficar com a barriga toda negra… No dia a seguir ia começar a quimio.

domingo, 19 de agosto de 2012

13º Dia

Quarta feira, acordei no quarto novo e pareceu-me estranho… não estava habituada a estar ali ainda. Sei que as minhas outras colegas já perguntaram por mim e dizem que aquele quarto sem mim não é a mesma coisa. Já tinha feito uma dose de cortisona no dia anterior, mas ainda não tinha feito efeito, continuava inchada e sem ter força no braço esquerdo. A Andreia estava sempre de manhã, era sempre ela que me ajudava a fazer o que eu não conseguia. Levei outra dose de cortisona, é estranho mas senti o sabor daquilo ( embora seja administrado na veia). Não era nada agradável. Tive a visita da Cátia e do Mário ( somos amigas desde a primária), sei que ela não gosta de ir a hospitais mas fez um esforço. A minha mãe também foi ( como todos os dias ia). Contaram-me que o médico que me fez a biopsia era um "médico especial", era casado com a Dra. Rita... Achei engraçado e até me meti com ela sobre isso, notei que ela estava nervosa quando falou comigo antes de fazer o exame. Já sozinha no quarto, meti-me a pensar no que ia acontecer… para a massa desaparecer tinha de fazer quimio ( espera lá, eu já vi um filme com isso.. vou ficar sem cabelo, vou vomitar… bah, odeio vomitar… era a única coisa que me fazia impressão. Mas espera, se tenho de fazer quimio… tenho mesmo um tumor?!)! Lembro-me de não me sentir revoltada por ser eu… não me questionei com aquela pergunta básica que toda a gente faz quando lhe acontece alguma coisa “porquê a mim?”. Sabia que tinha de mudar de serviço, mas cada vez que me lembrava que esse dia estava a chegar, as lágrimas chegavam-me aos olhos… não queria deixar aquelas pessoas que se tornaram parte do meu dia a dia e parte da minha vida! Queria ficar ali com elas… Não ia gostar tanto das outras enfermeiras como delas, não queria ficar “sozinha”… A Ritinha, veio-me procurar outra veia ( sim, mais uma vez um dos acessos foi-se). Adorava a paciência dela para as minhas veias bailarinas! Sabia que tinha de descansar, ia ter um novo começo no outro dia… mas não queria dormir para o tempo não passar depressa.

sábado, 18 de agosto de 2012

12º Dia

Terça feira, comecei a acordar com o barulho nos corredores… mas a Vivi foi-me mesmo acordar! Foi-me perguntar assim… “ Ana, tu fumaste?”… eu interpretei a pergunta como se fosse antes de entrar no hospital… e respondi, “sim fumei, mas já vos tinha dito” e ela pergunta-me, “mas fumaste aqui? Hoje de manhã?”… eu respondi logo “ claro que não! Nem tenho aqui tabaco!”. Foi aí que ela me disse que a senhora que tinha entrado lhes foi dizer que me tinha visto a fumar no quarto ( a sério?! Se quisesse fumar pelo menos ia à casa de banho, assim ninguém sabia! Eu mal respirava, nem do tabaco me lembrava). Estava sensível, comecei a chorar. Pareceu-me mal o que a senhora inventou. Tomei o pequeno almoço e a hora da biópsia estava a aproximar-se. Não sabia muito bem como aquilo era, mas não tinha um bom nome. Foi então que chegou o médico ( era de hematologia, mas eu não sabia), era espanhol e simpático. O Renato ia ajudar o Dr., e a Andreia achou que eu ia gostar de agarrar duas mãozitas amigas. Avisei logo que tinha de dizer pica antes de picar ( prefiro saber que vou sentir alguma coisa, do que sentir sem estar à espera), mas o Dr. esqueceu-se, tenho a sensação que fugi um bocadinho… era a anestesia. Passou um bocadinho, e comecei a sentir muita pressão ( apertei imenso as mãos da Andreia naquele momento)… começava a doer e sentia que cada vez o Dr. fazia mais força ( continuava a apertar as mãos da Andreia que já estava de cabeça baixa para não ver o que me estavam a fazer), sei que ainda soltei um ai ou outro, mas mantive-me imóvel. Finalmente aquilo acabou… o Renato diz que devia ter feito um vídeo para eu ver, a força que estavam a fazer e eu sem me queixar! Achei piada àquilo do vídeo, até devia ter a sua graça. A Dra. Rita veio ter comigo depois, saber como tinha corrido e dizer que finalmente iam tratar do meu inchaço com cortisona. Já na hora da visita, estava lá o João M. e a minha mãe, vieram-me dizer que tinha de mudar de quarto… Ainda não sabiam qual era o vírus que a senhora que entrou tinha e como eu ia fazer a cortisona, decidiram assim para não me prejudicar. Assim foi, lá estavam eles a carregar as minhas coisas todas ( sim, porque eu ainda não me posso levantar da cama) para o novo quarto. Tinha uma senhora muito simpática e muito doce à minha frente ( sinceramente já não me recordo do nome dela, tenho a sensação que não era assim muito comum)… e ao meu lado direito estava a Cristina ( que também é simpática e está na casa dos 30 anos). Para ser sincera, comecei a sentir falta das minhas amigas do outro quarto… Agora tenho de fazer uma pica no dedo todas as noites para ver a glicemia por causa da cortisona ( quase que já não me incomodava, já era tão normal ser picada). As minhas veias são um caos, a Ritinha vem com a sua paciência atrelada procurar-me uma veia que não fuja da agulha para me meter outro acesso ( um dos que tinha foi-se novamente ). Não tinha sono, ainda estive ao telemóvel um bocado de tempo, depois de algumas voltas lá consegui adormecer.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

11º Dia

Segunda feira, já tinham passado 10 dias, e eu ali continuava. A avó ia ter alta hoje. Fiquei contente, mas sabia que ia sentir falta dela e das nossas brincadeiras. Ainda me restava a dona Ana e a Celeste ( que já melhorou um bocadinho). A Núria hoje passou por lá, e o João M. também. A Dra. quis falar comigo e com a minha mãe. Ao contrário do que o médico me tinha dito no sábado, não tenho de ser operada coisa nenhuma. A Dra. estava com muitos rodeios, com medo de falar ( e eu não estava a perceber nada). Perguntei então que raio de massa era aquela afinal e como é que a tirávamos de lá! Foi aí que ela disse… “ Pronto, como já sabes é um tumor ( não, eu não sabia que a massa era um tumor… para mim era só uma massa). É um linfoma, o melhor nome que podíamos ouvir!”. A minha mãe não pareceu surpreendida, porque como já disse antes, já se tinha apercebido da situação. Não pensei naquilo sequer, só queria que me dessem alguma coisa para passar o inchaço! Foi aí que soube que na terça ia fazer uma biópsia óssea, e que depois disso davam-me logo cortisona para reduzir o inchaço. Nem pensei em mais nada, não pensei no tumor, não pensei na biópsia, só queria deixar de ter aquele mau estar! Pela milésima vez uma das minhas veias já era… Veio a Inês picar-me, para amenizar a situação começámos a cantar Linkin Park ( que era o toque do meu telemóvel) e como estava distraída parece que nem doeu tanto. Veio outra senhora para a cama da avó, que também se chamava Ana. Não criei muita ligação com ela, muito menos depois do que ela me fez na manhã a seguir… Ainda a Inês me tinha picado à tarde, e tinha de ser outra vez, pedi para ser a Vivi. O enfermeiro João consentiu, e conseguimos à primeira tentativa. Estava a começar a ficar receosa quanto à biópsia e sentia que não conseguia respirar bem. Toquei à campainha umas quantas vezes durante a noite. A Vivi uma vez ficou lá um bocadinho comigo, a falar, para ver se eu ficava melhor. Não criei muita ligação com a senhora que entrou nesse dia, muito menos depois do que ela me fez na manhã a seguir…

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

10º Dia

Domingo, e lá continuava eu com o meu big braço e big pescoço! Só queria que passasse, já me incomodava aquele inchaço todo… A Celeste não passou muito bem a noite, agora está de jejum, nem água pode beber… Deve ser horrível. Já me comecei a habituar ao banho na cama, apesar de sentir falta de um chuveiro com água a correr. Continuo sem ter força no braço esquerdo. Tinha feito uma “encomenda” especial para o almoço. Pedi à Ana para me fazer arroz com ovo mexido e atum! Não havia meio de chegarem, estava com uma fome ( por momentos pensei que já não iam). Lá chegou ela com o meu almoço, estava tão bom que comi tudo! A Lena, o Nuno e o Ricardo entraram pouco depois. Só nos faltavam umas minizecas e eu sem aquelas coisas todas que tinha para estar tudo normal. O Ricardo sempre com as maluquices dele. Fiquei contente com a visita, até mais bem disposta! Tive a minha companhia telefónica à noite e insiste em cantar músicas durante a chamada ( já estou mesmo a ver que vou ficar com elas no ouvido e vou andar a ouvi-las durante semanas, e vão também marcar estes momentos). Já estava para dormir, quando o telemóvel da avó tocou ( já era tarde, fiquei com o feeling que era coisa má)… era o marido dela, não se estava a sentir bem, acho que era mesmo um avc. Ficámos logo todas mais que acordadas, eu não sabia o que lhe dizer ao vê-la naquela aflição. Ela estava ali sem conseguir ajudá-lo, e nós também nada podíamos fazer. Lembro-me que as enfermeiras andaram a ligar para saber para onde ele ia e tentar que fosse para o mesmo hospital. Fiquei sensibilizada com a situação, demorei a adormecer. Apesar desta situação, foi um dia “normal”, o que me deixou bastante satisfeita… mal sabia eu o que se avizinhava.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

9º Dia

Era sábado, não tinha de acordar tão cedo! A Andreia hoje não estava lá, foi a Inês que me ajudou a despir para tomar banho. Continuo toda inchada, já era altura disto passar! Estava a ficar farta daquele peso todo. Hoje experimentei a comer pão com queijo ao pequeno almoço, mas era tão mau que não o consegui comer todo. Liguei o computador para ver as novidades no facebook… Tinha montes de mensagens ( de pessoas com quem nunca falei), montes de publicações no mural ( igualmente de pessoas com quem eu não falo). Parece que era o acontecimento do momento onde moro. Mas da maneira que falam parece que já sabem o que é ( nem eu sei o que é, como é que é possível já saberem o que é?!). Hoje conheci o marido da minha avó e também o marido da Celeste… o “avô” vinha cansado, subiu as escadas até ao piso 9. Tive visitas da terrinha hoje… a Mi foi-me ver. O Paulo e o Daniel, apareceram mais tarde! Vim a saber que se andava a dizer que eu tinha cancro do pulmão ( já há muitos médicos por aí, só que com o diagnóstico errado. Estes falsos boatos chateiam-me profundamente!)É bom saber com quem se pode contar, e quem se preocupa connosco. A minha maninha hoje também foi, meteu uma máscara e lá veio dar-me um beijinho ( confesso que já tinha saudades, apesar de estarmos sempre a implicar uma com a outra), para ela aquilo era tudo muito engraçado, ter o oxigénio, não poder sair da cama... mas ainda bem que assim foi! O médico de urgência, veio ter comigo. Parece que já sabiam o que é que eu tinha… Tinha uma massa no mediastino que tinha de ser tirada, segundo o médico seria operada em breve e ficava tudo bem. A minha avó entrou e eu disse-lhe, toda contente, que ia ser operada porque tinha uma massa e era esse o problema de tudo o que me tem aparecido. Era só tirá-la e ficava boa! ( eu não tinha a consciência do significado da palavra “massa”, mas a minha avó e a minha mãe, já estavam preparadas para isto… todos entenderam de imediato menos eu.) O meu primo Gonçalo foi-me levar um hambúrguer do McDonald’s para o jantar… soube tão bem, um big mac! Já sem visitas, tive tempo para pensar na suposta operação… ia ficar com uma cicatriz, ia ter dores, e ainda por cima era no peito! Comecei a não gostar da ideia… Mas se fosse a resolução do problema, não tinha problema nenhum com isso! Hoje estamos todas prontas para ir para a discoteca… Vamos só trocar de roupa, e lá vamos nós!

terça-feira, 14 de agosto de 2012

8º Dia

Sexta feira, ainda era cedo mas eu sabia que tinha de ser. É a Andreia que vem tentar encontrar-me uma veia… e assim que picou apanhou-a. Tinha sido tanta vez picada, para em menos de 5min ter um acesso novo. Continuava toda inchada, sem conseguir fazer as coisas mais básicas sozinha. Parecia que o meu pescoço estava mais inchado ainda, não sei se é impressão minha se é mesmo verdade. Foi a Andreia que me lavou de novo o cabelo e me ajudou a despir. Os estudantes de medicina apareceram para falar com a Celeste. Eu estava a tentar tirar o computador da mala ( com uma mão só, é difícil), e a mala caiu para o chão. Começaram todos a olhar a perguntar-me se precisava de ajuda e a correr para me apanharem a mala. Foi um momento bastante engraçado. Depois de falarem com a Celeste, pediram para falar comigo… Iam-me encher de perguntas, mas não me importei muito. Até foi agradável. Agora acabaram-se as corridas com a avó. Não tinha nenhum exame para fazer, não ia sair do quarto para nada… era um dia ao que eu chamo de “normal”. As visitas da dona Ana, é como se fossem minhas também… o marido dela era simpático e metia-se comigo e a filha dela, a Ana também era simpática ( como todos eles). Eu não me calava, tinha sempre qualquer coisa para dizer (o que não era nada habitual), até a minha mãe já me estranhava. O jantar era panados, e tinha bom aspecto! Já não tinha visitas, e não estava a conseguir cortar a carne. As enfermeiras vieram de passagem e a ViVi teve a excelente ideia de me ajudar naquela tarefa ( as facas não ajudavam, eu bem que tentei). Tinha a minha companhia noturna pelo telemóvel até adormecer. Só conseguia estar numa posição para adormecer por causa do braço e do pescoço ( o braço tinha de estar poisado na almofada por causa do peso do inchaço). Não era muito agradável, mas era o que se arranjava. Sabia que o dia a seguir iria ser outro dia “normal”, era fim de semana, confesso que dormia mais descansada.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

7º Dia

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 Quinta feira, acordei e… o inchaço não tinha passado, muito pelo contrário. O meu braço esquerdo tinha inchado todo, incluindo a mão. Não tinha força para o levantar ( supostamente isto devia ter começado a passar, já estou a fazer a heparina! Já não estava a gostar nada daquilo)… Não podia sair da cama, tinha de fazer tudo na cama ( não fazia a mínima ideia de como ia conseguir lavar o cabelo numa cama)! Não conseguia tirar a roupa sozinha, teve de ser a enfermeira Andreia a fazê-lo e lavou-me o cabelo também. Foi a minha salvação! A Celeste já está melhor, já conversa connosco e já brinca também… Deixei de comer a comida do hospital ao almoço ( pelo menos, sempre que alguém me podia levar o jantar era uma maravilha! ), esperava sempre pela minha mãe para almoçar. Acho uma piada à avó… Ela trata o marido por “meu velhinho” e diz que ainda dão uns beijinhos! Tinha um ecocardiograma para fazer à tarde ( acho que devia ser por causa do inchaço do lado esquerdo). Desci até ao piso 7 de novo. Começaram-me a fazer o exame, e de repente a sala enche-se de estudantes ( pelo menos podiam-me ter avisado), como se não bastasse, a senhora estava a magoar-me imenso e pior ainda, começou a mostrar o que se passava no meu coração e disse “ estão a ver aqui o líquido pericárdico?”… Assim que ouvi aquilo percebi logo que se passava alguma coisa também com o meu coração. Assim que voltei para o quarto chamei logo a Inês para lhe perguntar o que queria dizer aquilo… caso o líquido não desaparecesse, tinha de fazer um procedimento parecido com o que me fizeram no pulmão! ( A sério? Mas isto nunca mais acaba?! Nem o coração se escapa!) Hoje tive o quarto cheio de visitas… O João M., a Margarida, o Miguel, os meus pais e a minha avó… A Margarida deu-me o comer à boca, não me ajeitava só com uma mão. Foi engraçado! Hoje conheci outra enfermeira, a Vitória, que depressa comecei a chamar ViVi. Parecia ser super querida. Uma das minhas veias foi-se outra vez… Veio o enfermeiro João picar-me. Não me conseguia apanhar nenhuma, picou-me (sem exagero) umas 6 vezes de seguida. Elas só me diziam para ter calma… Mas já não conseguia, ele também já transpirava por não conseguir apanhar nenhuma e estar-me a provocar dor! Desistiu, não conseguiu apanhar nenhuma… Quando mudassem de turno de manhã, outra pessoa ia tentar porque tinha medicação para fazer. Foi um alívio tão grande ele ter desistido que só me apetecia dormir e não acordar no outro dia de manhã, já sabia que me iam picar.

domingo, 12 de agosto de 2012

6º Dia


Quarta-feira,  hoje acordei e senti o meu pescoço mais inchado. Parecia que tinha um peso em cada ombro… Não podia tomar o pequeno almoço, tinha uma TAC para fazer e tinha de ir em jejum. Levaram-me para baixo, testaram-me a veia mas já não estava a ficar muito boa. Tive de beber 3 copos com um líquido branco ( era quase sem sabor, embora não fosse muito agradável), depois disso levaram-me para a sala do exame. Avisaram-me que poderia sentir um desconforto, mas que era por pouco tempo. Meteram-me então na máquina e inseriram-me o contraste na veia. Comecei a sentir partes do meu corpo como se tivessem a arder, mas depressa esse mau estar passou porque essa sensação propagou-se pelo resto do meu corpo. O exame terminou e levaram-me de novo para o quarto. Tomei o meu pequeno almoço e fui tomar banho. Tinha o pescoço bem mais inchado, e começava a incomodar-me… Vão ter de me picar outra veia, este acesso já não está bom, dói-me quando injetam a medicação. Estava a ficar farta, quando se resolvia um problema, vinha outro e não se sabia porquê! Finalmente descobri porque é que a Celeste falava pouco nos primeiros dias, ela cansava-se muito! Era isso, hoje já fala mais, embora que baixinho e muito pausadamente. Nesse dia, alguns dos meus amigos foram-me visitar, inclusive uma rapariga com que eu estava “chateada” ( coisas parvas), foi-me ver e voltámos a falar. Não estava nada à espera, mas foi positivo! Fui à casa de banho, e a minha mãe foi comigo… o enfermeiro andava à minha procura! Os meus olhos encheram-se de lágrimas, iam-me fazer mais qualquer coisa que eu não estava à espera. Contive-me e segui para o quarto com a minha mãe. Iam-me dar heparina por perfusão 24h ( a heparina é um anti coagulante), ao que parece o inchaço deve-se a dois coágulos que tenho nos ombros. Tinham de me picar outra veia, tinha de estar a receber aquele medicamento separado dos outros, ia ter dois cateteres! Lá ia começar eu uma choradeira para nada, era só mais uma picadela, não era nada de complexo como pensava. À noite, notei que o meu braço esquerdo ( onde tinha os 2 acessos), estava a inchar… Nem queria pensar o que seria aquilo. Só queria dormir e pensar que durante a noite ia passar.

sábado, 11 de agosto de 2012

5º Dia


Terça-feira e veio o bom dia habitual entre nós no quarto, o bom dia habitual das enfermeiras de serviço, das auxiliares, da médica. Hoje quando me vieram dar o comprimido para proteger o estômago, notei que mexeram no meu nível de oxigénio, não sei se para menos ou para mais, não percebo muito daquilo. A Dra. Rita veio fazer o habitual, tirar sangue, auscultar, perguntar como me sentia… Hoje ia ao piso 3 fazer um rx ao tórax, é só tomar o meu pequeno almoço e levam-me lá. Fui de cadeira de rodas, com a botija de oxigénio pendurada nas costas da cadeira, sem nunca deixar de receber o oxigénio. Chegámos lá, tal não é o meu espanto quando começo a ver uma cara que me era familiar a aproximar-se. Era a enfermeira do dia do internamento! Assim que tive a certeza que era ela comecei logo a mandar vir que não me tinha ido ver. Estava com uma outra enfermeira (suponho), que me conhecia do dia anterior, e que sinceramente eu não me lembro. Esteve presente quando fiz a broncofibroscopia, devia fazer parte da equipa, não sei. Lá estivemos na brincadeira, e a tal rapariga disse-me que à tarde quando terminassem o turno me levava lá a enfermeira da urgência (ao que parece ela sabia onde eu estava hospedada). Lá fomos às nossas vidas. Fiz o rx e segui de novo para o quarto. Mal cheguei à minha caminha, vejo a Dra. Rita entrar com um ar muito aflito. Já viu o meu rx ( foi mesmo rápido, ao que parece foi de urgência) e… tenho de ir tirar líquido do pulmão?! O quê? Era só mesmo o que me faltava! Mais picadelas... Comecei logo a chorar que nem um bebé, não me tinha já bastado o exame do dia anterior, senão agora também mais coisas complicadas ( imaginava eu na minha cabeça). O que sei é que ter líquido no pulmão não é bom sinal! Mais uma vez ficaram as minhas companheiras todas aflitas, foi um instante enquanto o quarto se encheu de todas as enfermeiras e auxiliares de serviço porque eu estava assustada e a chorar... Despediram-se de mim, a enfermeira São foi comigo para o piso 7 para me sentir mais segura. E lá estava eu naquele piso que passei a detestar! Estava com medo… tinha uma enfermeira a agarrar-me nas mãos, para ficar mais calma. Para o médico aquilo parecia canja. Não foi tão mau como pensei, só doeu ( pouco) a espetar a agulha, o resto não senti nada. Ainda estive uns 10min à espera que o líquido saísse… e mesmo assim não saiu todo, senti que ia tossir e pararam o procedimento. Voltei lá para cima, vieram logo as enfermeiras todas ter comigo. De facto tinha feito uma choradeira para nada, quase que não dei por nada. Antes sequer de sair da maca, fui logo fazer um rx para ver como tinha ficado o pulmão depois daquilo, a Dra disse para me levarem quando eu quisesse, mas eu queria era despachar-me para não sair mais do quarto. Voltei para cima e realmente agora sentia-me mais aliviada, o que parecia ser um respirar normal antes disto, não é nada comparado com o de agora… sinto-me mesmo “leve”. Escusado será dizer que liguei para a minha mãe no momento da choradeira, mas ela não atendeu, já devia vir a caminho. Hoje quando tomei banho, notei que o meu pescoço e os meus ombros estavam mais inchados, as veias do pescoço estavam saídas, mas pensei que fosse passageiro nem disse nada a Dra. A mamã chegou, deu a beijoca na testa e o papá também. Lá lhe tive a fazer as queixas da maldade que me fizeram! A Dra veio dizer que o rx para já está bom e que íamos ver o que acontecia, mas caso voltasse a ter líquido como tinha, tínhamos de usar outro procedimento para o tirar ( uma drenagem, ficar com tubos no pulmão, para estar sempre a sair o líquido para um depósito). Opa por favor, era o que me faltava… andar com tubos no pulmão. Só espero que isto não volte a acontecer! Estava eu sozinha ( as visitas tiveram de sair por momentos), vejo entrar aquela tal rapariga que estava com a Cláudia… não é que a trouxe mesmo?! Estava contente, claro que estava contente, foi das primeiras pessoas com quem contactei nesta etapa. A tal rapariga, que ainda hoje não sei o nome, despediu-se e disse que só lá ia entregar-me a enfermeira. Ela veio, cumprimentou-me, sentou-se na cama e a primeira coisa que lhe perguntei foi o nome, para não ser uma conversa tão impessoal. E ali tivemos, um bom bocado a conversar. Combinámos que ela me ia visitar na quinta de manhã, quando saísse do turno da noite mas eu já previa o que iria acontecer. Ela lá tinha tempo e paciência para ir visitar uma estranha! As visitas voltaram a entrar, ainda deu tempo da minha mãe conhecer a Cláudia. E assim se passou o dia… a Celeste hoje não lhe apetece ir ao kizomba ( a Celeste sabe dançar, e como eu também gosto, gerou-se assim a conversa das saídas à noite) mas a avó está pronta! Vamos mudar de roupa e vamos para lá até de manhã. Só mesmo as nossas brincadeiras para nos distrairmos. Eu e a dona Ana, a minha mãezinha, somos sempre das últimas a adormecer, olhamos uma para a outra e falamos baixinho… depois quando vem alguma enfermeira assim com quem me dou mais, fica la um pouco connosco a conversar. E assim se passa o tempo.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

4º Dia


Era segunda feira, uma nova rotina invadiu a minha rotina do fim de semana… Acordei sozinha, com o barulho dos corredores. Estava pronta para tomar o meu pequeno almoço quando uma enfermeira me vem perguntar se já tinha comido alguma coisa. Eu achei aquela pergunta estranha mas disse que não. Foi quando ela me disse “ então não comas nem bebas nada porque vais fazer um exame”e eu “ Um exame? Que exame?” e ela “ A broncofibroscopia”. Caiu-me tudo ao chão, eu gosto de saber das coisas com antecedência, a Inês tinha-me dito que não era assim tão depressa, não estava mentalizada para aquilo. Levaram-me para baixo, era no piso 7. As minha colegas de quarto deram-me força, dizendo que daqui a bocado já estava lá de novo com elas. Antes de me levarem, tiraram-me sangue da veia normal e da artéria também ( agora já sabia que quando me picavam no pulso era para ver o nível de oxigénio no sangue). Fui de maca, meteram-me num canto e veio ter comigo uma senhora que era a dona Alice. Eu só queria saber tudo, tim tim por tim tim o que me iam fazer. Levaram-me para a sala do exame, estavam lá 3 pessoas pelo menos. Comecei de novo a perguntar o que me iam fazer. Confesso que estava cheia de medo. Ligaram-me àquela máquina que se vê os batimentos do coração. O meu estava acelerado. A Dra. Margarida era quem me ia fazer o exame. Respondeu a todas as minhas perguntas. De seguida deram-me a anestesia local. Meteram-me 2 ou 3 líquidos pelo nariz ( odeio soros fisiológicos, pelo que nunca meto quando preciso, e naquele momento estavam-me a fazer das coisas que mais odeio). De repente, parecia que não tinha força para me mexer e estava ensonada. Lembro-me da Dra. Margarida me dizer que iam começar, e eu acenei afirmativamente com a cabeça e de seguida senti a minha narina cheia, com aquele tubo! Começou-me a doer e sei que me estava a contorcer, porque me disseram para estar quieta. Tentaram pela outra narina, e continuava-me a doer. Comecei a ouvir o pi pi pi pi da máquina que controlava o meu coração a um ritmo estonteante. Comecei a chorar e disse que não aguentava mais, para me meterem a dormir! Foi então que me tiraram o tubo da narina, a Dra. passou-me a mão pelo rosto e disse que iam chamar um anestesista para levar anestesia geral. Tinha acabado de ter uma taquicardia. Chegou então alguém, que não me lembro da cara, e disse-me “ Agora vais-te sentir tonta”. Senti uma máscara na cara, estava a olhar para o tecto e de repente ele começou a rodar. Só me lembro de acordar no sítio onde conheci a dona Alice. Não sei se sonhei ou se disse mesmo “dona Alice, já acordei”. Até hoje, não sei. Voltei a fechar os olhos. Quando os abri de novo, vi a Dra. Margarida vir na minha direcção e disse-me que tinha corrido tudo bem, que não conseguiram entrar com o tubo pelo nariz, teve de ser pela boca. Alguém das auxiliares de serviço me foi buscar ao piso 7, mas eu não me lembro quem. Era como se me apaga-se por momentos. Cheguei ao meu quarto e deparei-me com as minhas colegas preocupadas comigo. Não tive nem tenho a noção de quanto tempo estive no piso 7, mas pelas expressões delas, ainda foram umas horas. Falei com pessoas ao telefone, e não me lembro de o ter feito. A anestesia deu cabo de mim por umas horas. Comecei a tratar a dona Virgínia por avó. Fazia-me mesmo lembrar a minha avó. Estávamos sempre a brincar uma com a outra. Aquele quarto já era uma alegria para mim, já não me sentia mal em estar ali naquele sítio, mesmo pensando que não estava doente. A avó ensinou-me que quando íamos a casa de banho, dizia-se que íamos às compras, porque levávamos o carrinho com o soro connosco. Quando íamos à casa de banho juntas, fazíamos corridas com os carrinhos, para ver quem chegava primeiro. Depois esperávamos uma pela outra, para fazer outra corrida até ao quarto. Aquele sítio começava a fazer parte de mim. Tive os meus papás e uma das minhas avós na visita de hoje, e alguns amigos que estudam em Lisboa. Conheci finalmente a minha médica, a Dra. Rita, que me foi auscultar e saber como me sentia, muito simpática. Decidiu ligar-me a uma máquina idêntica à do piso 7, para controlarem os meus batimentos cardíacos uma vez que tive a taquicardia. Tive aquilo cerca de 1h mais ou menos, era só para prevenir ( eu sabia que aquilo tinha sido provocado pelo medo e pelo nervosismo do momento). Ainda não estou habituada aos horários do hospital, mas tinha sono, talvez ainda fossem efeitos da anestesia geral.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

3º Dia


No domingo, tal como no sábado, fiz aquelas coisas normais de tomar o pequeno almoço, tirar sangue (as agulhas e as picadelas já começavam a ser uma rotina), tomar banho e voltar para a cama. Nesse dia os meus pais não me iam ver, e eu até percebia. Era fim de semana, não havia novidades sobre o meu estado, eu sentia-me bem. Não irem um dia não fazia mal. Ainda assim, nesse dia tive visitas. Amigos da santa terrinha, 2 dos meus imensos primos e as visitas das minhas colegas, já as considerava visitas também para mim. Foi aí que descobrimos que realmente a Paula me conhecia de me ter visto no facebook, o meu primo era amigo do filho dela.  Nesse domingo, a enfermeira Inês estava de serviço à noite. Foi ver o meu soro, e disse-me “ A Ana Sofia tem uma broncofibroscopia para fazer, vou já avisando.” E eu “ uma quê?! Isso é o quê?” . Foi então que ela me explicou no que consistia aquele exame com um nome tão esquisito. Iam-me enfiar um tubo pelo nariz, que ia dar imagens até aos pulmões. Quando ela me disse isto, só me lembrei de lhe perguntar “ mas isso não vai ser já amanha pois não?” e ela responde-me “ não, la para quarta talvez, ainda demora ate haver vagas”. Fiquei muito mais descansada, não estava a gostar da ideia de ter de fazer aquele exame! A dona Ana disse que já tinha feito, que custa um bocadinho. Apetecia-me fazer uma birra e dizer que não queria ir fazer aquele exame, chorar, bater o pé e dizer que estavam todos enganados, eu estava boa! 

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

2º Dia

No sábado, acordaram-me de manhã… não percebia nada da rotina hospitalar. Perguntaram-me o que queria para o pequeno almoço e eu respondi de imediato “quero leite com café”! Comer de manhã não era comigo, bastava-me o meu leite com café. Bebi o meu leite descansadinha, e vem de lá uma enfermeira. Mal eu sabia que todos os dias ia ser picada. O quê?! A sério? Tirar-me sangue outra vez? Ainda ontem tiraram duas seringas cheias de sangue. Enfim, lá teve de ser. A seguir fui tomar uma banhoca, para vestir o meu pijama e tirar aquela camisa horrível. Agora sim, sentia que tinha uma vida de princesa. Já tinha a banhoca tomada, não tinha nada para fazer, tinha uma cama com lençóis acabados de trocar, não tinha de fazer nada, e ainda me levavam a comida à cama. Sentia-me bem, não me sentia doente. Era hora de almoço e depois começava a hora da visita. Os meus amigos da faculdade, ou amigos que estudam em Lisboa, como é obvio foram a casa... Sabia que ninguém me ia lá ver a não ser os meus pais. O que me chateava mais era ser sábado, o pessoal todo ia sair à noite e eu enfiada num hospital. As minhas colegas de quarto, já parece que as conheço ao tempo. Não consigo perceber é porque é que a Celeste fala tão baixo e quase que não se percebe nada. As visitas delas, eram simpáticas. Chegavam-se ao pé de mim a perguntar como estava, o que tinha, a minha idade, essas coisas... E eu respondia que estava bem! Pelo que percebi, era das mais novas ali internada, só vi-a gente de mais idade por lá. Nessa tarde chegou uma senhora para ficar na cama à minha frente. Como já estava ambientada às minhas outras colegas, meti conversa também com esta nova colega. O nome dela era Ana. Tava na casa dos quarenta, e tinha uma filha 2 ou 3 anos mais nova que eu. Quando as minhas visitas iam embora, tinha de me agarrar a alguém naquele quarto, e aquelas 3 pessoas, juntamente com as enfermeiras, começaram a fazer parte da minha vida, tal como aquelas pessoas que me fizeram companhia por mensagens e telefonemas. Comecei a ter sentido de humor naquele quarto de hospital, coisa que nunca tinha tido antes. Comecei a brincar e a dar-me àquelas pessoas, que eram a minha companhia dia e noite mesmo só as conhecendo à pouco mais de 24h. Houve uma auxiliar nesse dia, a Paula, que disse que a minha cara não lhe era estranha, mas a dela era-me muito estranha e ficou assim a conversa. Continuei maravilhada com a comida do hospital, não era assim tão má! E como na sexta feira à noite, vieram medir-nos a tensão ( devem fazer isto todos os dias). Ter sono cedo é que ainda não era para mim.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

1º Dia



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Pois bem, acordei na sexta, dia 30 de Setembro, nunca mais me esqueço, e estava na mesma. Liguei à minha mãe a dizer que ia com o João às urgências porque não estava melhor, e lá, de certeza que me faziam algum exame. Bebi o meu leite com café e fumei o meu cigarro e lá fomos nós apanhar o 727 ate ao Rato para de seguida
apanharmos o metro ate à cidade universitária. Nesse dia estava desejosa de não encontrar ninguém conhecido, pois tinha a cara toda inchada. Tal não é o meu espanto quando saiu do metro e me encontro com uma amiga de longa data que estudava enfermagem. Contei-lhe o que tinha, e ela assim “ isso deve ser alguma reacção alérgica” e eu disse “ mas eu não sou alérgica a nada” e ela “ mas os sintomas que apresentas é o que parece ter mas logo ou amanhã quando fores ao Áster ( bar da terriola) logo me dizes o que era”. E lá continuei com o João o caminho para o hospital. Na triagem deram-me a pulseira azul que dizia “ doença interna”. Ainda esperámos umas boas horas e eu só pensava que não ia conseguir apanhar o comboio para casa. Finalmente chamaram as pulseiras azuis, que por sinal, descobrimos no tempo de espera, que eram as de menor prioridade. Dirigimo-nos para onde nos indicaram e fui logo chamada, o João entrou comigo. A doutora era simpática, Dra.Cuca, disse ela o seu nome ao telefone. Como era de esperar fui fazer análises e um rx torácico. Os resultados demoraram a sair, deu tempo de ir à rua fumar o meu último cigarro do maço que tinha ( que seria mesmo o último cigarro), e lembro-me do João dizer “ quando sairmos daqui com a tua receita, vamos logo ali àquela farmácia levantá-la”. E eu acenei afirmativamente com a cabeça, pareceu-me uma óptima ideia. Passado algum tempo, a Dra. chamou-me. Vi a imagem do rx no computador e quando olhei percebi logo que se passava qualquer coisa no meu pulmão direito. Eu odiava agulhas... disse à médica “ não é preciso mais picas pois não? Eu não gosto de agulhas”, ao qual ela me respondeu “ portaste-te mal vai ter de ser mais uma”. Sentou-se comigo na maca, e tirou-me sangue arterial. Eu não sabia porque é que ela me estava a tirar sangue do pulso, mas também não perguntei na altura. Tive de esperar mais algum tempo pelo resultado daquela análise que eu não sabia para que era e fomos ao café comer qualquer coisa ( nem metade da sandes comi). Ainda tive tempo de andar dum lado para o outro na sala de espera à procura de rede no 91 para conseguir responder às mensagens. O resultado saiu, e o inesperado aconteceu. E estas palavras ficaram marcadas no meu cérebro “ Anda comigo. Vais ter de cá ficar”. E eu pensei… “ O quê? Eu? Mas eu sempre fui saudável, nunca tive nada, e agora tenho de ficar no hospital? Mas se fico no hospital, de certeza que me vão pôr a soro! Eu nunca levei soro… e não tenho aqui a minha mãe”. Uma vontade súbita de chorar, invadiu-me a mim e aos meus olhos… Só quis ligar a minha mãe... “ Mãe, vou ter de ficar no hospital… eu não sei o que é preciso, mas trazes-me o que eu preciso?”, e ela respondeu-me calmamente “ vá tem calma, não chores… eu vou ligar ao pai e vamos ter contigo”. E eu só pensava… “ isto não me está a acontecer… ainda por cima não tenho bateria e não trouxe o carregador”. Pneumonia, foi o motivo pelo qual fui internada. Estava na sala para onde a médica me levou… era uma salinha com aqueles cadeirões onde as pessoas fazem os tratamentos. A enfermeira já estava a minha espera. Mediu-me a tensão, tirou-me a temperatura e claro, ia-me pôr um cateter. Eu estava apavorada com tudo. Pensei em meter-me com a enfermeira para ver se me acalmava. Disse-lhe que me tinha de ir visitar e coisas do género, foi o que me veio à cabeça no momento e saiu como um vómito de palavras. A senhora que estava no cadeirão ao lado do meu, percebeu que eu estava com medo e que nunca me tinham colocado um cateter. Meteu-se comigo e disse “ olha, a mim dói-me mais tirar sangue do que me meterem o cateter”. Aquelas palavras acalmaram-me um pouco, não gosto de tirar sangue, mas também não dói assim tanto. E no fim, quase que não doeu nada. Levaram-me então para um sítio onde podia tirar a roupa que levava vestida e pudesse vestir a camisa do hospital ( pelo menos até ter o meu pijama). Fui de maca e tudo, comecei a achar piada aquilo tudo… porque eu não me sentia doente! E não percebi porquê ir de maca se conseguia andar sozinha. Lá me levaram até ao piso 9 Pneumologia. Fiquei logo no primeiro quarto do corredor. ( de frente para a porta do quarto) estava uma senhora do lado direito que devia estar na casa dos 60, e do lado esquerdo, uma senhora de cor, na casa dos 30 talvez. Eu fui para a cama encostada a uma das janelas que ficava ao lado da senhora da casa dos 60. A cama à minha frente estava vazia. Pedi por tudo ao João para me ir buscar o computador e o carregador do telemóvel e que me fosse lá levá-los nesse mesmo dia! Ia ser uma seca ficar ali… ainda por cima era fim de semana, o pessoal ia todo sair e eu ali fechada com uma senhora com idade para ser minha avo, e outra que mal conseguia falar. Fui recebida pela enfermeira Inês e pelo enfermeiro Luís. Passado pouco tempo chegou a minha mãe. Foi um alívio tão grande vê-la a ela e ao meu pai… nunca pensei que me fosse fazer tanta falta, eu que estava sempre desejosa de ela não me chatear e me deixar em paz! Depois das apresentações feitas, tiraram-me sangue ( agulhas de novo) para fazer as culturas ( ver qual era o bixinho culpado pela pneumonia) e meteram-me o oxigénio ( pensei, o que?? Oxigénio? Está tudo maluco.. só me canso a andar, deitada não tenho falta de ar). Passado isso, tive tempo para pensar “ eish, comida de hospital, dizem que é tão má… que seca.”. O João apareceu lá mais tarde para me dar o carregador do telemóvel e o computador. Já não tinha bateria no 91, estava a começar a entediar. Os meus pais foram embora, fiquei só eu e aquelas duas pessoas desconhecidas. Não sou muito de falar, muito menos com quem nunca vi na vida! Naquele momento, não sei o que me deu, mas comecei a meter conversa. Não me apetecia estar no hospital sozinha, sem ninguém para falar. Perguntei os nomes delas. A senhora do meu lado era a dona Virgínia, e a outra a Celeste. E a partir daí formaram-se vários diálogos. Lá veio o famoso jantar de hospital, já não me lembro o que era, mas sei que era carne, o que eu achei fantástico. Disse a algumas pessoas que estava no hospital, não a muitas, só às mais próximas. Também pensei que lá para terça ou quarta saía de lá. À noite, vieram-nos medir a tensão e ver se estava tudo bem.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

O antes...

Sou uma pessoa completamente normal, nunca tive nenhuma doença, gosto de beber os meus copos com os meus amigos, gosto de fumar os meus cigarros, gosto de chegar a casa de manhã, gosto de jogar à bola, gosto de brincar com a minha irmã, gosto de andar na faculdade… Imaginem uma pessoa de 20 anos, eu era igual a todas as outras.

As saídas à noite eram constantes, sempre acompanhadas de álcool e tabaco. A faculdade ficou para segundo plano, o que importava eram as saídas e os meus amigos. Aqui para nós, eu nem gostava muito do curso, queria era estar a morar sozinha sem ter os meus pais a (supostamente) chatearem-me, fazer o que me apetecia, enfim… mais uma vez, o normal da idade!

Em Julho, estava já eu muito descansadinha em casa dos meus pais… Quando respirei, senti uma dor na zona do pulmão direito… e a dor continuou sempre que respirava. Decidi ir às urgências aqui do centro de saúde, porque como fumava, tinha medo que fosse algo relacionado com isso, e se há coisa que não queria era deixar de respirar! O médico teve a simples bondade de me auscultar, e dizer-me logo de seguida que tinha rasgado um bocadinho do tecido que reveste os pulmões, a pleura. Rx ? Naaa, para quê? Só auscultar chega bem. Receitou-me uns analgésicos e de facto, a dor passou!

Em Agosto, fui com os meus pais, a minha irmã e uns primos fazer a subida do rio Douro. Não tinha posição para dormir na viagem até ao Porto. Fiquei cheia de dores nos ombros. Esse fim de semana passou e as dores continuaram, até massagens recebi várias vezes, pensando eu que tinha dado algum mau jeito. E assim continuou.

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Em Setembro, fui uma semana para o Algarve com os meus pais, a minha irmã e o meu primo. As dores nos ombros continuavam, e como se não bastasse, um dia acordei de manhã com a cara toda inchada, sem quase conseguir abrir os olhos. Fui à praia com os putos jogar à bola, e cansei-me muito. Tinha de estar sempre a parar para me sentar. A minha irmã até dizia “ eh mana estás sempre cansada”. Voltámos para casa, e a minha mãe preocupada disse para ir ao médico. Fui teimosa, eu sei, no dia a seguir a chegar do Algarve fui a Lisboa ter com uns amigos, e as dores persistiam. Voltei para casa e claro que ouvi ralhar, não só da minha mãe como do meu pai. No dia a seguir, uma terça feira, acabei de almoçar e fui fumar o meu cigarro, tal não é o meu espanto quando dou por mim a tossir expectoração com sangue! Com medo de ser alguma coisa ainda relacionada com a pleura, decidi ir às urgências nesse dia. Queixei-me, falei de ter rasgado a pleura, e mais uma vez fui auscultada. A médica disse que não havia nenhuma alteração a nível pulmonar e que a tosse nada tinha a ver e que o sangue poderia ser de tossir muito, alguma pequena ferida ou assim. Quanto aos ombros, devia ser uma dor muscular qualquer… Tomei uns comprimidos até quinta feira mas as dores não passavam. Resolvi voltar novamente às urgências. Mais uma vez não encontraram alteração a nível pulmonar e receitaram-me outro medicamento para as dores nos ombros e, uns exames que devia fazer se não passasse nos próximos dias ( o tal rx que deveria ter sido feito da primeira vez que fui às urgências). Com isto tudo, marquei uma consulta on line para o meu médico de família, para ver se ele me passava uns exames de rotina. Nesse domingo seguinte, ainda tinha as dores, mas decidi ir para Lisboa na mesma… era a semana de praxes na faculdade e eu tinha acabado de mudar de curso e achei que seria mais fácil fazer conhecimentos nessa semana. A minha mãe bem que me pediu para ir só depois de estar melhor, mas eu queria reencontrar-me com os meus amigos e aproveitar a semana de borga porque estava decidida a dedicar-me inteiramente aos estudos na semana seguinte. Nessa quarta feira houve jantarada lá em casa... umas pizzas e umas sangrias do Pingo Doce! E as dores continuavam… uma das amigas presentes lá em casa até me fez massagem nessa noite. No dia seguinte, acordei com a cara toda inchada, e lembro-me que nessa noite tossi e suei bastante. Não saí da cama sequer. O inchaço e as dores não passaram. Tive sempre sozinha nesse dia, até chegar o meu colega de casa… Assustou-se quando olhou para mim, mal abria os olhos de tão inchada que estava a minha cara. Tinha combinado com a minha mãe que na sexta até ia mais cedo para casa, para ir às urgências. Mas o meu colega disse que se não acordasse melhor ia comigo ao hospital Santa Maria.

O começo...

Olá. O meu nome é Ana, tenho 21 anos e foi-me diagnosticado um Linfoma não Hodgkin tipo B em Outubro de 2011. Decidi partilhar a minha caminhada nesta etapa da minha vida com vocês. Os post's do blog vão falar de mim, dos meus sentimentos e tudo a que fui submetida até agora. Espero com isto, conseguir que pensem sempre positivo e que, como muita gente pensa, consigam perceber que cancro não é igual a morte. =)