terça-feira, 27 de novembro de 2012

2º internamento



Passadas 2 semanas ( e já era Abril ), a Sandra ligou-me para estar lá no dia seguir ( dia 5) lá pelas 20h . Cheguei e estavam de serviço a Mary e a Carla... Vesti o pijama e fiquei lá. Fiquei no mesmo quarto, mas desta vez na cama que era da minha Cândida... Na minha cama estava a Cristina ( ela não gostava que a tratássemos por dona ), na cama onde esteve a Soraia estava uma senhora acamada e na cama que estava a dona Helena estava a Inês. Desta vez tinha uma companhia da minha idade, o que se tornava agradável, porque de certeza que tinhamos mais tema de conversa. Às 21.30h era a hora da pica, a Mary veio para me dar, mas eu disse que era eu... depois de ter passado tanto tempo a ensinar-me, finamente já conseguia sem a ajuda dela. Só ia ser picada as 6h, porque era a essa hora que começava o meu ciclo... iam ser 24h de quimio durante 5 dias, só ia parar de receber para ir tomar banho. Às 6h o Rodrigues foi-me acordar para me picar, e com sorte conseguimos logo à primeira. A Cristina e a Inês andavam numa de tricot, passavam o tempo a fazer aquilo... A Inês ia passar o fim de semana a casa, e a Cristina secalhar também, resumindo ia passar o fim de semana sozinha. Tinha de controlar as coisas líquidas que ingeria para depois dizer aos enfermeiros, porque como estava a levar quimio sempre, tinha de ter atenção à retenção de líquidos... caso não corresponde-se ao cálculo que eles fazem de tudo o que ingeri, tinham de me dar o lasix, e aí passava o tempo a correr para a casa de banho. No domingo as minhas companheiras voltaram... eu e a Inês ficávamos acordadas até mais tarde na net. Na segunda aquela minha amiga que eu tinha encontrado no dia que fui às urgências no metro, foi até lá. Ela e a Inês estavam a tirar enfermagem na mesma faculdade, o que eu achei engraçado... A minha mãe e a minha avó continuavam a visitar-me todos os dias tal como os meus amigos, e ainda recebi a visita da Flávia ( que não era habitual mas lá arranjou um tempinho para me ir ver). A Gi nesse dia estava comigo, e tinha de me arranjar outra veia... lá andou a ver, tentou e conseguiu! Lembro-me bem disso, porque eu fiz cara de espanto, olhei para ela e disse " olha, boa!", e ela estava toda contente também, era sempre uma briga para achar uma veia. Na terça o João M. foi-me visitar, sentou-se ao pé de mim, mas não me estava a dar atenção nenhuma, estava só a olhar para o corredor... até que olhei para o corredor também e disse " a sério? não acredito" e escondi-me debaixo dos lençóis. Era uma amiga nossa, que me foi visitar, mas fizeram surpresa até porque eu já tinha estado a falar com ela de manhã... Não estava nada à espera, e foi uma boa surpresa. Depois das visitas, andei a tentar convencer a Inês a irmos à sala comum ver o jogo do Benfica vs Sporting... estava farta de estar no quarto. Depois de muitas tentativas consegui! Passámos a noite a ver o jogo e a jogar às cartas com uns senhores que lá estavam na sala... fartámo-nos de rir naquela noite. Aprendi com ela a fazer batotas na alimentação, na quarta a irmã dela levou-nos o melhor do mundo ( não vou dizer o que foi, porque não posso desvendar todos os segredos, caso precise de ficar lá de novo já sabem quais são as batotas ). Precisava de outro acesso na veia, então vieram 3 enfermeiras.. Era a Bá e a Ana Filipa do lado esquerdo e a Betona no lado direito... estavam-me a picar todas ao mesmo tempo, já me estavam a enervar, até que lá conseguiram um acesso. Sempre que eu me deixava dormir durante o dia e a Bá via, ia ao quarto e começava " Ana, Ana, Ana, Ana, Ana ", só me apetecia bater-lhe, para uma pessoa que está a dormir aquilo é irritante mas acabou por ser engraçado também. Os médicos já tinham decidido o que fazer comigo, ia fazer um auto transplante, iam recolher células ( através de um cateter femoral, ideia que eu odiava)... Fui à consulta de imunohempoterapia, foram muito simpáticas, explicaram-me tudo e marcámos a data da colheita. Na quinta de manhã tinha de fazer uma BO, para ver se a doença tinha evoluído. Nem foi assim tão mau, já sabia o que era, doeu um bocadinho mas não tanto como na primeira que fiz. A dra. Inês devia ser uma especialista em BO's, até lhe disse isso... Na sexta tinha de voltar ao hospital para fazer uma TAC e depois só voltava a ficar internada durante 3 dias para a colheita das células.

O regresso a casa ( Parte II )

Era Dezembro, o meu pulmão começou-me a doer de novo, fiquei com medo. Continuava a fazer quimio de 21 em 21 dias no hospital de dia... na tv passava aquele anúncio da popota, e sempre que passava, a enf. Cristina começava a dançar. Confesso que achava imensa piada, mesmo estando um bocado dormente por causa da medicação que me fazia dormir. Esse anúncio fez com que eu criasse uma nova relação de confiança e amizade, desta vez com a Cris. Nesse mesmo mês fiz uma TAC (mas sem contraste, o que me deixou com a pulga atrás da orelha, depois de saber o resultado) por me ter queixado das dores no pulmão, mas segundo o relatório já nem se avistava nenhuma massa. A passagem de ano estava a caminho e eu não suportava a ideia de a passar em casa... já para não falar de não poder comer marisco. Foi então que a Margarida disse que não se importava de ir passar comigo lá em casa, sempre seria mais divertido. Chegou a meia noite e recebi um telefonema de amigos nossos, todos contentes e alegres, e eu ali em casa... o melhor foi que passámos o resto da noite ao telemóvel e tinha-me de rir com as coisas que eles diziam. Continuava a fazer a minha vida normalmente, ia ao café, conduzia, ia ao hospital, estava tudo bem... sentia-me bem. Em Fevereiro fazia anos, e a prenda que ia receber era uma quimio no dia a seguir ( até nem era assim tão mau, visto que eu não passava mal e assim também via o pessoal do hospital ). Em Março fiz a minha primeira PET ( exame que ia mostrar se havia actividade da doença), já tinha feito 7 sessões de quimio e pensava seriamente que estava terminado, até porque eu não sentia nada de anormal. Depois de acabar o exame, esperei pela médica responsável para ela me dizer por alto qual o resultado... chamou-me para um sítio onde não havia ninguém ( percebi logo pela cara dela qual era o resultado), e disse que a massa continuava lá embora mais pequena, mas tinha de fazer mais quimio. Aquele resultado foi um bocado confuso porque em Dezembro já não tinha nada, continuei a fazer quimio e agora tinha a massa de novo?! Combinei com aquela médica ir buscar o relatório na semana a seguir, porque ela aconselhou-me a falar com a minha médica antes da consulta que tinha marcada. Na semana a seguir apanhei o comboio para Lisboa ( já podia andar de transportes porque já não fazia quimio desde Fevereiro). Depois de ter o relatório nas minhas mãos fui directamente ao santa maria procurar a minha médica ( tinha medo que a massa voltasse a ficar grande como no ínicio). Consegui que chamassem a minha médica ( que estava de urgência), ela chegou ao pé de mim e começou literalmente a gritar comigo porque se tinha consulta marcada só tinha era de esperar até lá para lhe mostrar o exame... e continuou a gritar ( depois vim a saber que se ouvia a nossa discussão na ala de internamentos e na sala de espera também), foi então que me disse em tom alto que tinha de ficar internada para fazer mais quimio. Enfim, por momentos apeteceu-me chorar, não pelo resultado do exame mas pela maneira de como ela falou para mim. Foi aí que conheci a Sandra ( que está na secretaria), que ficou com o meu número e nome e quando houvesse uma cama disponível ligava-me para ir. Ficar internada não me custava, era uma maneira de passar mais tempo com elas... e depois os meus amigos e a minha família também me iam ver... talvez fosse um pensamento egoísta, mas era o que eu sentia, não me importava de fazer mais quimio e ser internada.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

O regresso a casa (parte I...)


Depois de ter ficado o resto da semana em casa (com as malditas dores de cabeça), a primeira grande saída foi no domingo à tarde.. Duas amigas foram-me buscar para irmos ao café, era a primeira saída sem a minha mãe ir também.. Vesti-me ( com roupa que não me servia antes de ir para o hospital), pedi à minha mãe para me meter o lenço na cabeça e lá fui eu... Parece que era como se fosse fazer tudo pela primeira vez de novo, acho que já nem andar sabia como deve ser. Fomos ao bar de uns amigos meus, por claro que os queria ver! A minha mãe, passada 1.30h de estar fora de casa, já me estava a mandar mensagem a perguntar se estava tudo bem e quando é que regressava.. pronto, eu sei, é normal! O que é certo é que já estava em pé há horas demais, já me tinha começado a doer a cabeça de novo, tinha mesmo de ir para casa embora não me apetecesse muito. Quando cheguei a casa já tinha lá a minha avó, que me ia ver dia sim dia não.. Já sabia que quando saísse à rua ia ser o "fenómeno" da terriola, tudo a olhar e pessoas que nunca me falaram a falarem-me com a maior das simpatias! Na brincadeira disse ao Ricardo para ele rapar o cabelo, e ele disse que sim, que rapava e o Nuno também.. Eu estava a brincar, mas eles levaram a sério.. Na semana seguinte recebo uma foto no telemóvel... eram eles sem cabelo! Passei lá nesse dia à noite... A Ana queria era ver a minha careca, por isso tirei o lenço e tirámos umas fotos.. Agora olhando bem para a minha careca, via-se mesmo que não tinha apanhado sol.. estava branca, e a minha cara mais morena. Tive consulta no hospital de dia nessa semana, para fazer mais quimioterapia. Fiz análises para ver se os valores estavam bons para fazer mais quimio e depois fui para a sala de espera umas largas horas! Encontrei a minha Cândida, tinha consulta também... Fez-me uma grande festa.. aquele " Ohhhh" que ela soltava tão naturalmente quando estava contente.. Ficámos na conversa as duas, mas acho que já tinha perdido o jeito de perceber o criolo dela.. Mas se há coisa que não me esqueço foram destas palavras.. " Quando tu foste embora eu não ficar bem, eu perder minha amiga".. É uma das coisas que ainda hoje me arrepia de cada vez que me lembro e que não vou esquecer, não há nenhuma palavra que eu possa dizer que dê para vos explicar o que se sente.. Enquanto os resultados não saíam, fui ao piso 7. Estava lá a Mary, e eu estava cheia de saudades dela... foi um dos melhores abraços que recebi até hoje! Obviamente que também passei pelo piso 9, elas foram o meu suporte no início! Passado tudo isto, tinha de fazer quimio.. demorava umas 4h e já eram 13h. A médica, era a única que eu não queria ter, foi a que me deu a notícia em frente aos alunos que ia fazer a P.L durante o internamento. O que vale é que o medicamento para não ficar nauseada dá sono, nem dei pelo tempo passar, passei-o a dormir. Quando saí do hospital parecia um zombie, cheia de sono e desorientada de ter estado a dormir... chegava a casa e era ir para a cama.. às vezes nem me lembrava de ter jantado!

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

O regresso a casa ( 2º dia )

A noite tinha sido péssima, aquelas dores que eu pensava serem nas costas, eram nos rins, era como se me tivessem a picar sem parar... a única explicação que eu encontrava para essas dores era a falta de soro, lá no hospital estava sempre com soro. A minha mãe lá me foi acordar para a pica, pequeno almoço e comprimidos. Estava farta de estar em casa, já me tinha bastado um mês fechada sem apanhar o ventinho da rua, sem nada para fazer... queria ir apanhar ar e ver pessoas! Calcei uns ténis, vesti um casaco quente por cima do pijama, meti um gorro na cabeça e a minha mãe levou-me a andar de carro pela cidade. Dei o passeio por concluído bem rápido... as dores de cabeça não me deixavam estar mais tempo sentada, tinha de me deitar. Assim que cheguei a casa fui-me logo deitar. As tardes eram passadas no computador, a falar por mensagens ou a ver televisão. Ainda não tinha tido visitas dos meus amigos de lá (apesar de me mandarem mensagens a perguntar como estava), mas estava desejosa disso! À noite continuava a ter a minha companhia telefónica por um bocadinho. Descobri que com aquela impressão nos dedos, não conseguia pegar numa caneta e escrever, tinha de pegar de maneira bastante esquisita para conseguir escrever de jeito. E pronto, assim se passavam os dias... deitada com dor de cabeça e cada vez mais com saudades delas.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

O regresso a casa ( 1º Dia )

Passei mal a noite, começou-me a doer a zona dos rins, a cama já me era estranha e ainda acordei a pensar que não podia estar a dormir virada para o lado esquerdo porque tinha o cateter ( foram tantos dias a ter cuidado com o cateter). A minha mãe foi-me acordar as 9.30h, era hora da pica na barriga. Estive durante quase meia hora a tentar espetar a agulha na minha barriga, mas sem resultado positivo, faltavam as mãos de segurança na minha... com isto só me restava passar a seringa e a barriga à minha mãe. Para primeira vez até que não foi má enfermeira, safou-se bem. Era hora de tomar o 1º pequeno almoço da mamã, torradinhas ( sem queijo fresco porque não podia comer) e leite com café. No tabuleiro com o fantástico pequeno almoço vinham os comprimidos que tinha de tomar, era o desmame daquilo que me administravam na veia. A dor de cabeça continuava assim que tirava a cabeça da almofada. Depois do pequeno almoço meti-me a ouvir as minhas músicas da "depressão" ( não estava com nenhuma depressão, chamo músicas da depressão àquelas que me fazem lembrar momentos e pessoas, neste caso eram as músicas que ouvi enquanto estive no hospital), e lá vieram as lágrimas... tinha saudades daquelas pessoas que se tornaram tão especiais e às quais estava tão habituada. Está certo que agora estava com a minha família e que não há amor igual a esse, mas o que é certo é que descobri um outro tipo de amor e outro tipo de entrega. Fui ao facebook durante o dia, o meu mural estava cheio de publicações, desta vez de enfermeiras ( que me fizeram logo chorar com o que escreveram e por se lembrarem de mim) e de pessoas que já souberam que estava em casa. Tinha tanto frio nas orelhas! Ainda não me tinha olhado ao espelho com olhos de ver, mas a minha irmã queria-me tirar fotos careca com a nova nintendo dela... vi a foto e até gostei. Quando fui tomar anho olhei, e reaprei que tinha uma cabeça bem feitinha e que ficava bem sem cabelo. As minhas avós não podiam falhar o primeiro dia da neta em casa, como é óbvio. Depois de jantar apareceu o meu padrinho, que me levou a minha afilhada ( mal tinha força para a pegar ao colo) e os meus primos. Era o que eu mais queria, ter casa cheia e ver pessoas que não via regularmente enquanto estive internada. O que queria também era ver os meus amigos, mas ainda não podia ir ao café, tinha de me aguentar até ao fim de semana. Passei o dia paraticamente deitada no sofá por causa da dor de cabeça. A minha mãe era a minha nova enfermeira. Esta noite ia dormir na cama dos meus pais porque estava cheia de dores nas costas, pensava eu que era nas costas...

terça-feira, 25 de setembro de 2012

32º Dia





Segunda feira, era dia de voltar a casa! Tudo corria bem, fiz as análises de manhã como sempre... depois era só esperar para ver se os valores
estavam bons e darem-me alta. Fui tomar banho, era o meu último banho ali e o meu último banho com cabelo! Antes de me ir embora a barbeira ia-me rapar o cabelo. As análises estavam boas, ia ter imensas restrições, o médico esteve a explicar-me tudo... não podia comer em restaurantes, coisas fritas só em óleo novo, sítios com muito fumo e muita gente eram proibidos nos primeiros tempos, álcool nem pensar, andar de transportes públicos nada de nada ( ou seja, faculdade nada), marisco nem pensar ( oi? passagem de ano sem álcool e sem marisco? que booom!). Bem, mas podia ser pior... são só mais 6 ciclos de quimio e já está! ( pensava eu). Ia fazer um ciclo de 23 em 23 dias no hospital de dia. O João M. ia ter comigo antes de sair, chegou primeiro que a minha mãe até. Já tinha arrumado as minhas coisas todas e estava deitada porque a dor de cabeça continuava. A barbeira chegou e era o momento... Lembro-me de perguntar se ia doer ( sabia lá eu como era sentir uma máquina na cabeça! Foi só o que me lembrei de perguntar). Meteu-me um lençol à volta do pescoço, fechei os olhos e já está! Quem estava no quarto gostou de me ver assim, ficava-me bem diziam ele e elas. Veio de lá a Mary( que ao contrário do que eu pensava, não se esqueceu do meu primeiro lenço), disse que estava gira e meteu-me o lenço. Tirámos fotos, queria guardar aquele momento com aquelas pessoas. O João M. tinha rapado o cabelo dele, era uma "surpresa" ( mas eu vi no facebook que ele tinha cortado o cabelo assim, é o que dá as tecnologias, sabe-se tudo). A minha mãe chegou e ia-me embora... foi uma choradeira pegada quando foi para me despedir da Cândida. Agarrou-me na mão e começou a chorar porque " eu vou perder minha amiga". Tinha o coração tão apertadinho, mas sabia que tinha de a deixar. Fui à sala das enfermeiras despedir-me e queriam que me visse ao espelho, eu não queria muito, mas dei uma espreitadela... até me pareceu bem. Lá ia eu embora, agarrada ao João, cheia de dor de cabeça, os elevadores demoraram eternidades a subir... doía-me tanto a cabeça que estava a ficar mal disposta. Só me queria deitar, mas não dava. Tive de sair do elevador antes do piso 0, andar e controlar as náuseas. Passou, decidi descer um piso pelas escadas, parecia que não sabia descer degraus, as pernas não dobravam bem ( secalhar era só impressão minha). Íamos comer qualquer coisa lá no café do hospital ( não quis almoçar lá no serviço, estava farta daquela comida). Mal comi, estava cheia de dor de cabeça, só me queria deitar. Ainda tínhamos de ir à minha casa em Lisboa buscar as minhas coisas, dormi até lá. Nem mensagens conseguia mandar, a dor de cabeça era horrível. Enquanto a minha mãe foi lá acima buscar as coisas, fiquei no carro com o João. Comecei a ficar mal disposta, sabia que ia vomitar, não sabia do saco que levei do hospital... só tive tempo de abrir a porta do carro e vomitar para o chão. Finalmente íamos para casa, dormi o caminho todo, ia com o banco deitado por causa da dor de cabeça. Cheguei a casa e estava lá a minha avó e a minha mana prontas para me agarrarem, mas eu só me queria deitar. Passado um bocado, já me tinha passado mais a dor de cabeça. Pensava que ia conseguir dar a pica na barriga sozinha, mas faltava-me ali uma mão de confiança, tive de ligar a uma amiga minha que estava a tirar enfermagem para me ir lá dar a pica. Sim, porque não deixei que a minha mãe o fizesse. Depois de jantar fui-me deitar para descansar, e para não me doer a cabeça.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

31º Dia

Era domingo, e supostamente o último domingo... A dor de cabeça é que não havia meio de ir embora. Segundo os médicos seria só uma semanita assim. A ideia de rapar o cabelo continuava na minha cabeça, continuava a cair imenso e até já notava peladas à frente. Não gostava nada daquilo assim... Nem sequer imaginei como ia ficar, se ia gostar. Estava mesmo decidida a fazê-lo no dia seguinte antes de ir para casa ( não ia encher a minha cama de cabelos). O formigueiro que me tinha aparecido há uns dias aumentou, parecia que não tinha sensibilidade na ponta dos dedos e consequentemente não tinha força. Os médicos diziam que era uma reacção a um medicamento da quimio, mas achavam que era um bocado cedo para isso. Mal conseguia escrever mensagens, tinha de fazer imensa força para carregar nas teclas e ainda por cima o meu padrinho tinha-me oferecido um telemóvel novo ao qual ainda não estava habituada. Falei com a Mary e ficou combinado que ela me levaria um lenço para meter na cabeça no dia seguinte ( achava sinceramente que ela se ia acabar por esquecer) e ia-me acordar. Andei a tirar fotos com a Cândida, queria ficar com uma recordação daqueles dias todos com ela. Ela pediu-me uma foto minha ( por acaso tinha uma tipo pass na carteira por causa da matrícula na faculdade), dei-lhe a foto e ela disse " Vou levá-la comigo para a minha terra"... Emocionou-me o carinho com que ela disse aquilo e logo de seguida ( ao que achei piada), meteu a foto dentro duma bolsinha impermeável onde guardava a escova de lavar os dentes e disse " vou guardá-la aqui para não se estragar". A minha mãe não achou muita piada à ideia de rapar o cabelo, quando estava de saída pediu-me " não rapes o teu cabelo ainda Ana". Mas nem isso demoveu a ideia da minha cabeça, era mesmo desconfortável estar a vê-lo cair. A Cândida sabia que eu ia ter alta no dia a seguir, mas eu estava sem apetite nenhum, então disse-me assim " Queres ir para a tua casa?" e eu respondi " Quero" e ela diz " Não queres não, para ires para casa tens de comer. Vês? Eu estou a comer, quero ir para casa". Levei mais duas ou três garfadas à boca, mas não conseguia mesmo comer mais. Estava a umas horas de ir para casa, mas não estava propriamente contente... Estava contente porque podia voltar a comer comidinha da boa e ter as minhas coisas, estar no meu quarto... Mas a ideia de deixar as enfermeiras, a Cândida, as auxiliares deixava-me com lágrimas nos olhos! E lá estava eu a chorar, mais uma vez não por ter um tumor, mas sim porque as ia deixar.

sábado, 15 de setembro de 2012

30º Dia



Sábado, era dia de mudar de visual! Ao fim de semana as manhãs eram mais descontraídas... não haviam as visitas dos médicos e não haviam exames para fazer. Tal como combinado, a Mary levou a tesoura para me cortar o cabelo. Fui tomar banho, e passado o um bocado de ter ido para o quarto lá veio ela para me fazer o novo penteado. Só quem estava no quarto éramos nós as duas, a dona Helena e a Cândida. A Soraia tinha saído para tomar banho... Achei que devia guardar o antes com uma fotografia, e o depois também. Tive direito a uma franjinha e tudo! (cortar o cabelo era um passo importante, e queria que nesse momento estivesse alguém com quem eu me desse bem e gostasse) A Cândida gostou... e eu também. Ainda assim, sabia que tinha de rapá-lo mais cedo ou mais tarde. Não ia voltar para casa e encher a minha cama de cabelos. Fiz quimio ontem, mas desta vez não estava a sentir quase nada de diferente. Era só mesmo o cheiro ( e aquela comida de hospital já fartava) da comida. A minha mãe chegou à tarde e tinha lá a minha irmã outra vez... Tinha de falar com ela sobre o facto de ir ficar sem cabelo, mas de uma maneira suave ( não fazia ideia de como ela estava a lidar com a situação toda). Disse à minha mãe que queria ser eu a falar com ela e perguntei-lhe assim " Oh mana, o que é que achas da mana rapar o cabelo? Era fixe não era?"... mas ela não gostou muito da ideia, preferia que eu ficasse com cabelo e que ele caísse. Mas eu achava que ela depois até ia achar engraçado! Queria ir para a frente com a ideia de rapar. Mas elas gostaram do meu corte de cabelo novo. Nessa noite estive ao telemóvel, não tinha muito sono... e nem estava a sentir os efeitos da quimio que senti na 1ª vez.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

29º Dia

Sexta feira, nem vale a pena dizer que a dor de cabeça continua... e que acordo num mar de cabelos. Ia fazer quimio, o 2º ciclo. Se não houvesse nenhuma alteração no meu estado, na segunda feira já tinha alta. Já sabia que ia dormir o dia quase todo, aquele medicamento para não enjoar deixava-me cheia de sono. Até estava contente com as picas na barriga, não estava negra nem nada, só se notava a marca da agulha. A Mary bem que me tentava ensinar a dar sozinha, a Mary e a Gi. Não conseguia espetar sozinha, tinha de ser a mão dela a empurrar a seringa ( eu fazia mão morta, então a agulha espetava e como eu não fazia força e ela tirava a mão, a agulha voltava para fora. Fartava-me de rir com aquilo... é que tinha de espetar novamente). A filha da dona Ana, e o marido foram-me visitar... super queridos! Vinham carregados de beijinhos para mim do piso 9. Combinei com a Mary que no sábado me ia cortar o cabelo, para ficar mais pequeno. Não me importava do cabelo cair, importava-me de ter a cama sempre cheia de cabelos e eu própria também tinha cabelos por todo o lado já. Desta vez já não estava nauseada, só enjoada... e não podia com o cheiro da comida! Tapava o nariz com o lençol sempre que entrava um tabuleiro com comida no quarto. À noite continuava com sono... dormia e acordava, mas pouco depois voltava a adormecer outra vez. A dona Helena já dá mais descanso durante a noite, conseguiram acertar no horário dos comprimidos para dormir. Finalmente conseguia descansar melhor...

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

28º Dia

Quinta feira, e a dor de cabeça continuava! Tinha acordado durante a noite com a dor, por isso fiquei sonolenta durante a manhã... fui tomar banho mais tarde e tudo. O meu cabelo continuava a cair a um ritmo muito rápido, eram cabelos por todo o lado. Pedi ao meu pai na hora da visita, para me agarrar no cabelo e puxar ( porque alguns já estavam mesmo soltos e estava-me a fazer impressão estar a senti-los nos ombros), ele muito devagar fez o que lhe pedi e fez uma expressão tão enjoada quando viu quanto cabelo ficou na mão dele... achei-lhe imensa piada, porque eu já estava habituada. Fazia-lhes mais impressão a eles do que a mim. Entrou uma doente para a cama do lado, que esteve tanto tempo vazia. Era a Soraia, tinha 30 ou 30 e poucos anos e já estava no hospital há um tempinho. Tinha feito um transplante acho se bem me lembro. Já tinha companhia para ver se o tempo passava mais depressa. Fazia quimio no dia a seguir, e se continuasse tudo bem tinha alta na segunda. Como a dor de cabeça não passava marcaram-me uma TAC para a parte da tarde. Estavam com medo que a doença tivesse progredido de maneira diferente ao esperado. Fiquei de jejum... jejum e cheia de dor de cabeça, melhor era impossível. Chegou a hora de ir para o piso da TAC, meti-me na cadeira de rodas e lá ia eu dar mais uma voltinha "à rua". Não cheguei a meio do caminho, sempre que me sentava ou levantava da cama a dor de cabeça aumentava tanto que mal conseguia abrir os olhos. Voltámos para trás e tive de ir na maca... deitadinha, o pior é que a dor continuava, ia demorar a passar. Esperei mais de 1h para fazer a TAC... estava cheia de fome, cheia de dor e sozinha ( na hora da visita é que tinha de ir fazer exames, não achava nada justo). Voltei para cima e a disseram-me que a TAC estava normal... oficialmente, a dor de cabeça tinha sido devido à P.L. Já não tinha de tomar conta da dona Helena sozinha, o que era um alívio... Podia descansar quanto a essa parte finalmente. Com a Cândida já me entendia bem, era engraçado quando ela me tentava dizer alguma coisa e eu dizia-lhe que não estava a perceber nada e ela soltava uma gargalhada tão engraçada e tão cheia de ternura... acho que não há grande explicação para isso, só quem vê é que percebe, por mais que eu tente explicar.

domingo, 9 de setembro de 2012

27º Dia

Quarta feira, acordei cheia de dor de cabeça... nunca tinha tido uma dor de cabeça daquelas. Quando olhei para a cabeceira da cama, vi um mar de cabelos, estava rodeada de cabelos! A minha t-shirt parecia igualmente um mar de cabelos, e alguns entraram para as minhas costas, era bastante incomodativo. Fui tomar banho, e deparei-me com outra situação... Disseram-me que o cabelo ia cair, até aí eu sabia, mas não me disseram que todos os outros pêlos do corpo também iam cair! Fiquei surpresa com aquela situação, não fazia ideia que ia ser assim, mas também não me incomodou esse facto... até era melhor, não tinha trabalho com a depilação! Já estava deitada e a dor de cabeça não passava, os analgésicos já não faziam nada. Depois de almoço, estava mesmo a pegar no sono ( consegui abstrair-me da dor de cabeça), apareceu uma médica da neurologia para ver se aquela dor de cabeça era mais que uma simples dor de cabeça. Fez-me alguns testes, e saí-me bem em todos. Durante a tarde deram-me o tramal ( que era mais forte que os outros analgésicos experimentados). Tive visitas... o Francisco e até a minha prof. de Filosofia do secundário. Comecei-me a sentir mal... perdia a noção daquilo que estava a dizer, estava tonta, mal andava e fiquei super mal disposta. Veio de lá a Mary, e concluiu que eu era alérgica àquele medicamento. Eu só não queria vomitar... não vomitei com a quimio e ia vomitar com um medicamento?! Nem pensar. Ela ria-se porque já lhe tinha acontecido o mesmo, mas eu não estava a achar muita piada àquilo não. Já não tinha ninguém para conversar de novo, o senhor do meu lado teve alta. A dona Helena lá me continuava a massacrar com os seus delírios... agora ouvia-me falar e chamava-me filho! Já não tinha muita paciência para aquilo, mas sabia que tinha de aguentar, apesar de ralhar com elas às vezes ( em vão, porque ela não entendia e continuava a chamar-me filho). O meu cabelo continuava a cair, mal eu mexia a cabeça na almofada, caiam imensos cabelos. A dor de cabeça persistia, e a dona Helena também. Adormeci sem dar conta ( acho que de cansaço de a ouvir).

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

26º Dia

Terça feira, acordei cheia de dor de cabeça... Não estava a perceber porque me doía, tinha dormido bem até. Disse às enfermeiras, deram-me um analgésico e pronto. Quando me levantei para ir tomar banho, parecia que tinha a cabeça a latejar... acabei de tomar banho, fui-me deitar e aliviou mais. Mas assim que levantava a cabeça da almofada era dor certa. Entrou um senhor para a cama do lado, ia tirar células para fazer um auto transplante. Ele já estava habituado, parece que já não era a primeira vez. Ia ter alguém para conversar durante 2 dias... era muito simpático o senhor. Comecei a reparar que o meu cabelo estava a cair, mal lhe tocava e caíam para a cama. Ia começar... deve ter sido da P.L, como fizeram tratamento. Recebi a tal surpresa, eram uns bonequinhos da minha colecção. Já toda a gente sabe que gosto, então como miminho, oferecem-me. Tive alguns dos meus amigos hoje de visita, e até uma professora do secundário. Depois das visitas, tive a ouvir música com o senhor que entrou... ele até cantava, era muito engraçado. A Gi hoje teve tempo de ir "beber um café" comigo. Era sentar-se ao pé de mim a conversarmos... dizíamos beber café porque era depois dela jantar, que seria a hora do café. A dor de cabeça estava em forte de novo, tive de chamar alguém. Veio a Ana Filipa ver o que era, mas ainda não tinha passado tempo suficiente desde o último analgésico para tomar outro. Foram mais tarde dar-me. Custou-me a adormecer por causa da dor de cabeça, que persistia. Mas depois lá me deixei levar pelo sono. Adormeci com um dos bonecos agarrado ao meu dedo. Fazia-me sentir acompanhada.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

25º Dia

Segunda feira, o normal... acordei, pica, pequeno almoço. A Gi ainda andava por lá, veio ter comigo e dizer que ia correr tudo bem. Mais tarde a Dra. Ana apareceu a dizer-me que mais um pouco e iam-me fazer a P.L, e que era o Dr. Pedro. Assim que ela se foi embora do quarto pedi logo para chamarem a minha Mary... ela apareceu e eu voltei a perguntar " Vens aqui para perto de mim não vens?", ao que ela respondeu afirmativamente com a cabeça. Esperei mais um bocado e lá apareceu a Mary com o carrinho onde estava tudo o que era necessário para o efeito. Apareceu o Dr. Pedro, e foi aí que percebi que a Mary ia ficar a ajudar o médico, mas logo de seguida veio a Dra. Ana que me ficou a agarrar nas mãos. Começaram então a fazer aquilo ( já me tinham metido um penso como anestesia 30min antes), lembro-me do Dr. Pedro dizer " Agora não te mexas, podes apertar as mãos da Dra. Ana mas não te mexas". Realmente aquilo doeu um bocadinho, e apertei com um bocadinho mais de força. Estava farta de estar naquela posição, e já estava toda transpirada de estar com a cabeça na almofada, parecia que aquilo nunca mais acabava. Lá acabou, estava toda transpirada na cara... até pensaram que eu me estava a sentir mal, mas não, só estava cheia de calor. Nem foi assim tão mau, comparando com todos os outros exames que já tinha feito, este tinha sido dos melhores até ao momento. Tive de me deitar logo de barriga para cima, sem almofada e ficar assim pelo menos uma hora... mas foi mais que isso. Tivemos de meter outro acesso, a zona onde a Mary me picou era tão má de espetar que me doeu mais do que fazer a P.L. Já a minha mãe tinha chegado, e eu estava cheia de fome. E ainda não me podia levantar. O médico disse que não gostou da maneira que o líquido saiu ( diz que saiu com muita pressão), mas pode não ser nada. Quando o penso saiu ( era enorme em comparação para a marca que era), pedi à minha mãe para tirar uma foto para ver se tinha ficado a marca, mas não... tinha só uma piquinha de nada. Comecei a ficar com dor de cabeça à noite, deram-me um analgésico e aliviou para que conseguisse dormir. Já estava despachada de exames esquisitos com picas! Antes de dormir ainda estive um bocadinho ao telemóvel, e ia ter uma surpresa durante a semana, só não sabia o que era...

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

24º Dia

Domingo, a vontade de comer continuava a não ser muita... Pesava uns 53kg nesta altura. A Cândida e eu, já nos entendíamos melhor ( passada uma semana a ouvir criolo, algum dia tinha de começar a perceber). Todos os dias de manhã ( assim que me vê de olhos abertos), me dizia bom dia e perguntava se estava melhor. Aconteceu uma coisa engraçada neste dia... As enfermeiras estavam com a dona Helena, e ela ouviu elas dizerem o nome Cândida e então, como a Cândida falou a seguir, perguntaram a dona Helena quem era a médica dela... Ao qual ela respondeu " é a Dra. Cândida". A Cândida soltou uma gargalhada das dela, como nós todas presentes no quarto. Depois da gargalhada, a Cândida diz assim no seu português " Tem de ficar boa, eu sou tua médica e digo para ficares boa e ires para casa". Foi tão engraçado! Já quase que não tinha dores na boca e na garganta, mas não tinha apetite. O gelado é que eu nunca dispensava, queriam que eu come-se, pelo menos comia gelados. O sabor da minha boca tinha mudado, a água sabia-me mal, tinha a boca sempre quente ( daí comer os gelados). Apetecia-me água, mas sabia-me tão mal que acabava por não beber. No dia a seguir de certeza que não me livrava da P.L. Mas já estava mais ou menos preparada... já tinha tido tempo para me habituar à ideia. A Mary ia estar a fazer manhã, por isso sabia que ia ter umas mãos para agarrar. Ao domingo só a minha família me ia visitar... A minha prima Ana Filipa, depois de ter visto a minha colecção de bonecos, levou-me um peluche maior ( ficou com o nome de soneca, porque cada vez que ela me ia ver eu adormecia). A dona Helena já dormia de noite, às vezes ainda acordava a chamar por pessoas, mas depois adormecia de novo. Mas não tinha sono, e a Cândida também não... estava complicado de adormecer. Estava a pensar no dia a seguir, que me iam tirar líquido cefalorraquidiano da espinal medula para ver se a doença estava na medula e meter quimio para tratar/evitar que a doença se propaga-se. Estava farta de picas, e tinha de ser mais uma, desta vez nas costas.

sábado, 1 de setembro de 2012

23º Dia

Sábado, tinha de acordar cedo na mesma por causa da pica... mas já começavam a saber como era, deixavam-me ficar mais tempo na cama e trocavam os meus lençóis quando eu ia tomar banho ( antes de hora de almoço). Estava a ficar magrinha, e parecia que já tinha pouca força nas pernas ( e na realidade, os meus músculos tinham diminuído). Estava à espera da minha manocas hoje... Lá chegou ela com a minha mãe, cheia de saudades deu-me um abraço e um beijinho tapado pela máscara. Estivemos a brincar com a nitendo dela, a tirar umas fotos. Quando ela teve de sair ( sabia que ainda voltava), mas os meus olhos encheram-se de lágrimas... acho que foi de não a ver há tanto tempo, estava tão crescida! Para além dela, o Nu e a Su também tinham ido, para depois irem passear com a minha irmã para ela não ficar lá o tempo todo na sala de espera. Passados uns dias de estar na pneumo, a minha irmã mandou-me um peluche para eu não ficar sozinha, e desde aí que a minha avó quando me vai visitar oferece-me um bonequinho pequenino. Todos eles têm nomes dados pelas enfermeiras ou auxiliares, e alguns têm mesmo o nome delas. A minha mesa parecia um zoo. Parece estúpido, mas sentia-me acompanhada e protegida com aqueles bonecos... Tinha tantas saudades do ar da rua! Ali na hemato, nem as janelas podiam ser abertas. As enfermeiras que fizeram noite, fumavam, eu sentia o cheiro... então decidi dar os isqueiros todos que tinha na mala ( ainda eram uns 3). Pedi para me levarem à rua... pensava que iam dizer que não, mas estranhamente levaram-me às escondidas! ( sim, isto é um segredo... pshiu) Soube tão bem sentir aquele ar na minha cara, apesar de ser pouco tempo... Quando voltei para o quarto, a Betona e o Rodrigues estavam só a mandar mensagens à Mary com fotos da disco onde estavam, e ela ali a trabalhar. Foi então que tirámos uma foto para lhes enviar! Demorei imenso a adormecer, estava tão satisfeita por ter ido à rua... ainda estive ao telemóvel e tudo, a contar a situação. A dona Helena finalmente se acertou com o sono!

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

22º Dia

Sexta feira, acordei para levar a pica e notei que tinha os dedos dormentes... pensei que fosse das picas para ver a glicemia, porque quase todos os dias me picaram por causa da cortisona. Mas parece que não é, é um efeito de um medicamento da quimio que fiz. Não tinha sensibilidade nenhuma, aquilo fazia-me um bocado de impressão, mas aguentava-se. Apareceram-me lá uns estudantes com um Dr. muito simpático e engraçado. Alguns já os tinha encontrado na pneumo, e ainda se lembravam de mim, até referenciaram que estava menos inchada. Aquele interrogatório que eles fazem até tem a sua piada, às vezes faziam perguntas "parvas" com as quais eu brincava e eles ficavam todos envergonhados. E depois, era pessoal mais ou menos da minha idade ( o que não se apanha, sem ser as visitas dos meus amigos ). A dona Helena andava a dar-me noites complicadas... estava sempre a acordar, e depois de dia tinha sono e adormecia várias vezes. Recebeu visitas, calculo que vá ter uma noite ainda mais agitada. Começo a conhecer os passos das enfermeiras no corredor, já começo a adivinhar quem vem lá. A pneumo continua a vir-me visitar e mandar beijinhos, mas hoje tive a visita da Dra. Rita... veio ver como estava. ( Não sei se fazem isto a todos ou quase todos os doentes, mas sem desfazer das pessoas, senti que comigo era diferente... não sei explicar muito bem porquê!) Continuava à espera dos efeitos da quimio, tipo cair o cabelo e essas coisas... mas nada acontecia. A garganta parecia que tinha melhorado, mas ainda me custava a engolir os (poucos) alimentos. Só comi gelados. Gelado ao pequeno almoço, gelado ao almoço, gelado ao lanche, ao jantar é que não... já eram gelados a mais, mas sabia bem porque eram fresquinhos para a garganta. À noite não tinha muito sono, tinha dormido durante o dia... Estava a ficar ansiosa porque a minha irmã me ia visitar no dia seguinte e eu já não a via há quase, ou mesmo, há uma semana. Fiquei ao telemóvel um tempo, até que depois consegui adormecer embora a dona Helena continuasse a fazer da noite dia. E safei-me mais 3 dias à P.L, que foi a melhor parte.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

21º Dia

Quinta feira, quando acordei a dona Helena já estava outra vez no quarto. Mas vinha na mesma, com as suas conversas sem sentido. A Alison estava a ficar nervosa, e ainda por cima parece que não lhe explicaram bem as coisas, ainda ficou pior. O meu acesso estava a dar as últimas ( ainda era um dos que tinha trazido da pneumo). A enfermeira que estava comigo era a Ana Filipa, mas como tinha de ajudar o médico a meter o cateter à Alison, pediu à Bela para ser ela. Aquilo foi tiro e queda, acertou na veia à primeira sem dificuldade nenhuma. Fecharam a cortina, e comecei a ouvir o que se passava ali na cama ao lado. Fiquei um bocado "assustada" porque ainda ouvi a Alison se queixar uma ou duas vezes... acabou e ela disse que quase não tinha sentido nada. A Maria João é que está sempre a dizer que me deviam meter um a mim, mas eu farto-me de lhe dizer que não. O João M. foi-me visitar, ainda estivemos os três a falar um bocadinho. A Alison ia ter alta, eu ia ficar ali só com a Cândida e a dona Helena... e a campainha da Cândida ainda não está boa, e para acumular ainda tenho de deitar o olho à dona Helena que está sempre a querer fazer disparates. A Gi conseguiu ter 5min para estar um bocadinho a conversar comigo... era agradável ter alguém com quem falar já que com a Cândida as conversas não eram muito fáceis nem longas, e com a dona Helena, eram só monólogos porque ela não percebia o que estava eu a dizer. Os comprimidos que lhe deram para dormir não estavam a fazer grande efeito, continuava tudo na mesma ( falava falava, gritava). Acordei umas quantas vezes por causa disso, mas estava um bocadinho melhor do que na noite anterior.

domingo, 26 de agosto de 2012

20º Dia

Quarta feira, acordei com a mesma dor de garganta... o que o médico me tinha receitado não tinha feito efeito. Supostamente hoje era o dia da P.L, mas como não era assim tão urgente e como tinha feito uma ponta de febre outra vez, ainda não foi o dia. Fiquei logo toda contente, pelo menos já ia ser um dia "normal". Quando saí da pneumo, a Ritinha e a Andreia picaram-me uma veia cada uma... a Ritinha disse que aquele acesso ia durar uns bons dias, e de facto durou, até hoje! Não era preciso picar uma nova porque ainda tinha outro acesso que ainda estava bom. Disseram-me que ia entrar uma rapariga da minha idade para a cama ao lado da minha, ia meter um cateter venoso central. Pelo menos ia ter companhia por uma noite... a dona Antonieta ia ter alta, ia ficar só eu e a Cândida. A dona Antonieta saiu, mas pouco depois entrou uma outra senhora, a dona Helena, que ia para a cama que estava à minha frente. Vinha a dormir, não sei o que é que lhe tinham feito ou o que é que ela tinha. Passado pouco tempo começou a acordar e só pedia água, mas ainda não tinha vindo nenhum médico, não sabíamos se podia beber. Tentámos explicar-lhe isso, mas ela parecia um bocado desorientada e não percebia que não podia. Lá veio o Dr. Raúl, foi aí que me disse que a doença dela lhe afectava a parte psicológica. Mandei beijinhos à Dra. Rita por ele, e ele disse que ela me viria ver ainda. À tardinha entrou a Alison, a tal rapariga da minha idade. Era muito simpática, começámos a conversar sobre as nossas doenças ( ela tinha o mesmo que eu), só não tinha tido a trombose jugular bilateral como eu. Estava a fazer quimio no hospital de dia, mas as veias já estavam muito estragadas da quimio, por isso tinha de meter um cateter central. Isso era coisa que eu não queria, só a ideia de levar anestesia numa parte sensível ( parte esquerda do peito, para apanharem a veia do coração) e depois de ficar ali com uma coisa, fazia-me confusão. Não queria ter de meter aquilo, mas as minhas veias eram tão péssimas, mais que as dela. À noite não conseguíamos dormir, a dona Helena começava a gritar e a dizer coisas sem sentido como pedir sal e vinagre. Acordávamos constantemente com ela a falar e a gritar, depois não percebia que nos estava a incomodar. Foi aí que a Betona decidiu mudá-la de quarto para conseguirmos descansar, e ela também.

sábado, 25 de agosto de 2012

19º Dia

Terça feira, acordei com a dor de garganta... e estava pior. A Dra. Ana tirou-me sangue e disse que me tinham marcado uma consulta para o otorrinolaringologista, era ainda de manhã. Mal engolia a minha saliva, quanto mais a comida... já estava mais magra, notava-se bem. A enfermeira chefe passou lá e fez com que eu bebesse um fortimel ( é tipo um iogurte líquido mas com valores calóricos e energéticos um bocadinho superiores) Apareceu no quarto, uma Dra. com uma madeixa branca no cabelo que eu não sabia quem era. Vinha com uns 3 ou 4 alunos, sentou-se ao pé de mim e falava para eles como se eu não estivesse ali! " Esta é a Ana, tem um linfoma e teve trombose jugular bilateral e hoje vai fazer uma punção lombar.". ( Vou o quê? Fazer uma punção lombar? Ninguém me tinha dito nada, e eu tinha pedido desde o início para me avisarem das coisas com antecedência. Só tinha vontade de chorar, as lágrimas começaram-me a encher os olhos e a cair.) A Dra. virou-se para mim e disse " Estás a chorar porque vais fazer uma punção lombar? Até os bebes fazem..." ( pois claro, uma coisa é os bebes, que não se vão lembrar do que lhe fizeram, já eu, vai-me doer e vou-me lembrar). Ela saiu do quarto e deixou lá os alunos a encherem-me de perguntas, eles começaram-me a dizer para eu dizer o que achava e que tinha feito bem em reagir assim em chamá-la à atenção. Lá fui eu para o otorrinolaringologista... à saída do serviço encontrei a Filipa, que me perguntou onde é que eu ia... e eu respondi " vou ao médico". Começaram-se a rir da minha resposta, mas como o habitual era os médicos virem ter comigo e não eu com os médicos, eu respondi assim... que ia ao médico. No caminho até lá meti-me a pensar naquilo da P.L e definitivamente estava farta de agulhas e de estar ali, e principalmente de coisas novas! O médico era simpático até, disse que tinha mucosite... tal como se previa. Voltei ao quarto e apareceu a Dra. Ana, vinha saber o que se tinha passado... e eu voltei a explicar que me tinha de avisar com antecedência, não era no próprio dia se já sabiam antes. O bom disto, é que tive uma ponta de febre durante a noite, então não fazem hoje, fica para amanhã. A Betona hoje fazia tarde, era ela que me dava a pica na barriga à noite. Era barrigadas de rir, antes de me picar começávamos a rir ( e eu não a deixava picar antes de parar de rir), parávamos e já estava... achava imensa piada àquilo. Perguntei à Maria João se me dava a mão quando fizesse a P.L ( fui mal habituada na pneumo, com as mãos da Andreia na B.O), ela disse que sim! Só esperava ter febre outra vez esta noite ( assim também não fazia a P.L amanhã)... A campainha da Cândida não tocava, tinha de ser eu a tocar por ela, por isso fui acordando a meio da noite para ver se estava tudo bem.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

18º Dia

Segunda feira, lá vêm os sugadores de sangue logo pela manhã ( geralmente é o Dr. Pedro ou a Dra. Ana), a parte boa é que neste piso já não me fazem a análise onde tinha de colher sangue da artéria. Continuava enjoada, e doía-me a garganta e a língua... era esquisito, parecia dores de uma amigdalite, mas doía-me a mexer a língua. Estava à espera que o cabelo me começasse a cair, mas nunca mais acontecia nada... o único sintoma que tive depois de fazer a quimio foi enjoar a comida e agora esta dor de garganta. Vão-me retirar o oxigénio! Boa! Estava livre daquela coisa no nariz. Tive visitas! As minhas fofinhas da pneumo apareceram lá, a Andreia e a Paula. Estava tão contente por elas estarem ali comigo! Não almocei nada de jeito ( já se tornava habitual). Depois de almoço tive de levar outra vez aquele medicamento que faz dormir, lembro-me de adormecer e estar a minha mãe sentada ao meu lado a olhar para mim... quando volto a acordar, abro os olhos e vejo o João M.! Fiquei um bocado confusa, mas depois percebi que adormeci. Ao que parece ele já trocou o número de telemóvel com a minha mãe, mandou-lhe logo mensagem a dizer que eu já tinha acordado. Tinha de ir fazer um rx lá abaixo. Toda a gente se lembrou de me vir visitar hoje, pessoas de Vendas... mas esqueceram-se de me avisar! Não me apetecia estar com ninguém para além das pessoas habituais, mas parece que não entendiam isso. Quando desci para fazer o rx, correu tudo para redor da cadeira de rodas ( eu so queria sair dali... ir lá abaixo e voltar rápido para o quarto). A dor de garganta não melhorou, tive de dizer a elas. Deve ser mucosite, mas ainda assim o médico vem ver, e em princípio vou ao otorrinolaringologista amanhã. Depois de (supostamente) jantar, era altura do momento telefónico antes de dormir, continuava sem paciência para ir à net. O BIPAP da dona Antonieta já passou à história, já não me faz a mínima confusão.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

17º Dia


Domingo, acordei tão enjoada que nem consegui tomar o pequeno almoço todo. Estava contente, podia ir tomar banho como deve ser outra vez. A pica na barriga já não me incomodava, tinha de ser e pronto ( apesar de às vezes doer um bocadinho). O jantar do dia anterior tinha-me ficado na cabeça… o repolho que me soube tão bem na altura, estava-me agora a provocar enjoos. Não conseguia pensar em comida, ou pior, não conseguia pensar em comer. Os meus pais foram-me visitar, mas para além deles apareceu também o Rúben e a Susana. Quem levou a Susana ao meu quarto foi a Filipa ( eram primas, até foi uma coincidência engraçada). O facto de estar internada, levou a que percebesse que podia contar com mais pessoas do que aquelas que pensava. Foram boas surpresas… O meu pai vai sempre visitar a dona Ana e a Celeste. Mandam sempre muitos beijinhos por ele, estão preocupadas comigo. Tinha saudades delas e do resto do pessoal. Mal comi, nem sequer tinha fome. Sabia que tinha de fazer um esforço, mas comia pouco. Tive de levar o medicamento para o enjoo à tarde, mas desta vez foi um mais fraco que não me deixou a dormir. Já não tinha paciência para ir à net. Só queria estar deitada e sossegada. Comecei a ouvir o BIPAP da dona Antonieta, aquilo para eu conseguir adormecer é do pior, mas também não queria tomar o comprimido das alergias ( que supostamente faz sono), porque depois no outro dia passava a manhã toda sonolenta.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

16º Dia

Sábado, acordei um bocado enjoada com os cheiros… A Cândida diz-me logo bom dia quando me vê de olhos aberto. Acho que hoje me tentou perguntar se dormi bem, mas num português tão mau que eu não percebia muito bem. Já sabia que não tardava muito e estava a levar a pica na barriga, mas já era normal… ao que parecia, as minhas plaquetas estavam com bons valores, então a Maria João ( desde o dia em que a conheci, achei que íamos ter uma boa relação, foi daquelas situações em que se olha para a pessoa e sabe-se logo) levou-me de cadeira de rodas até à casa de banho onde podia tomar um banho de jeito e com o chuveiro! Há 1 semana que estava na cama sem me levantar, ia saber bem… mas cansei-me imenso. Já não tinha o braço inchado, conseguia fazer tudo sozinha já. Agora tinha de fazer uns bochechos quaisquer que não eram nada bons, para não apanhar nenhum fungo por causa da quimio. Sentia-me cansada ( apesar de estar na cama deitada)… a minha mãe dizia que estava com umas olheiras enormes, e o meu pai a seguir disse a mesma coisa ( vim depois a comprovar que eram mesmo enormes). Comecei a ficar com náuseas outra vez, deram-me um medicamento diferente do que me deram no outro dia… Adormeci passados poucos minutos do administrarem. Dormi quase a hora toda da visita, a minha mãe acordou-me para jantar. Era bife e tinha repolho, só me lembro desse pormenor. Eu estava meia a dormir, a minha mãe é que me deu o jantar… estava-me a saber tão bem! À noite tive visitas… eu sabia que elas não me iam falhar. A Vivi e a Ritinha foram-me visitar… levavam-me gomas e tudo, mas neste serviço não posso comer nada que venha de fora do hospital. Com a quimio fico mais frágil. Estava com saudades de uma cara conhecida… Fiquei radiante! Não tive dificuldade em adormecer, nem enjoei mais nessa noite. Acho que aquele medicamento era mesmo forte. Apesar de me ter sentido cansada nesse dia, agora então sem estar inchada é que não me sentia mesmo doente.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

15º Dia

Sexta feira, acordei no novo quarto e pronto… eram 9.30h e tinha de levar a pica na barriga ( logo de manhã a ser picada era o pior que podia acontecer). A enfermeira chamava-se Maria João. Avisei que tinha de dizer pica antes de picar… assim foi, pica e já está! Disse-me que mais um bocado ia-me meter a quimio. Tomei o pequeno almoço, e fui-me entretendo a conversar com a minha vizinha da frente, já que não percebia nada do que a Cândida dizia. Já quase que não tinha o braço inchado, mas mesmo assim ainda tinha algumas dificuldades em levantá-lo. A Maria João regressou mais tarde com a quimio… os sacos eram pretos, e um deles tinha o líquido cor de laranja, virei-me para ela ( em tom de brincadeira) e disse “ cor de laranja? Agora vou ficar toda cor de laranja não?”… ela riu-se e disse que sim. A única diferença é que ela estava a falar a sério e eu não! O que é certo é que a cor da urina era cor de laranja! Assustei-me um bocado porque não estava à espera que aquilo acontecesse, mas logo depois percebi o porquê. A quimio acabou e eu não tinha sentido nada, não doeu, nada… era como se fosse só soro. Ainda almocei bem… na hora da visita, estava lá a minha mãe comigo e comecei a sentir náuseas. Pensei mesmo que ia vomitar… chamei logo a enfermeira e deu-me um medicamento para aquilo passar. Foi quase instantâneo. Assim era bom, quando começasse a sentir alguma coisa tocava logo à campainha. Afinal aquilo tudo que se dizia da quimio não era assim tão mau, nem nada de especial. Ao jantar já não tinha apetite… os cheiros enjoavam-me. Não comi quase nada. Não tive mais náuseas nem nada, mas os cheiros faziam-me confusão. Às 21.30h, mais uma pica na barriga… acho que já me começava a habituar. A dona Antonieta dormia com um BIPAP… aquilo fazia tanto mas tanto barulho e fazia-me aflição ouvir a respiração dela, que comecei com dificuldades em adormecer.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

14º Dia

Quinta feira, era o dia que eu não queria que chegasse… Não queria ir para outro piso, queria ficar ali com elas. Levei a última dose de cortisona, parecia que já estava menos inchada, mas mesmo assim ainda não tinha muita força no braço. Tinha de ir fazer um rx lá abaixo, mas tinha perdido um acesso. A Andreia supostamente não estava comigo nesse dia, era o Luís… Mas eu queria que fosse ela a picar-me, ela acerta nas veias boas e também já estava muito habituada a ela. O Luís passou-se, enervou-me a mim, enervou a Andreia… Isto tudo porque queria ser ele a picar-me porque era meu enfermeiro nesse dia. Só me apeteceu chorar, e os meus olhos ainda se encheram de lágrimas! Não adiantava procurar nenhuma veia naquela altura, com os nervos com que estava elas desapareceram todas. Fui fazer o rx e quando voltei para cima lá picámos outra veia. Disseram-me que só ia para o outro serviço depois de almoçar… então não estava com grande pressa a comer. Já lá estava a minha mãe e o João M. ( que acertou em cheio nos dias das mudanças), quando a Paula me veio dizer que tinha de me despachar porque já estavam à minha espera ( só tinha vontade de chorar, só queria ficar ali com as “minhas” enfermeiras). A Andreia tentou ir-me levar ao outro serviço com a Rita, mas não se justificava. Já me tinham tirado a heparina por perfusão, levava os dois acessos livres. Lá andou o João com a minha mãe a carregar a minha tralha toda e foram à descoberta do outro serviço ( tinha de se ir por outro elevador, para chegar à hematologia). Só queria chorar! O que acho engraçado é que eu tinha vontade de chorar porque as ia deixar, e não porque ia fazer quimio ou por ter um tumor… Quem me recebeu na hematologia foi a Filipa, que me disse logo que era a bruxa má do serviço ( fiquei ainda a gostar menos de ir para ali). Assim que a Rita se foi embora e o João M. entrou não aguentei mais, comecei a chorar. ( Pelo que descobri depois, estava uma voluntária no quarto quando eu cheguei, a Rita, e eu nem dei por nada… estava-me a fazer uma grande festa para eu não chorar, mas estava completamente desnorteada) Elas de certeza que me vêm visitar! Tenho a certeza, mas não vai ser a mesma coisa. À minha frente estava a dona Antonieta ( muito simpática e comunicativa), ao meu lado a cama estava vazia, e mais lá ao fundo estava a Cândida ( era uma senhora já de idade, de Cabo Verde e que eu não percebia nada do que ela dizia… mas era engraçada). A Filipa chegou ao pé de mim com uma seringa… eu não sabia que por me terem tirado a heparina por perfusão tinha de levar enoxaparina( era um anti coagulante na mesma) na barriga ( a minha avó levava, tinha a barriga toda negra das picas). Não queria ficar com a barriga negra, nem levar picas na barriga… disse à Filipa para dizer “pica” antes de picar, mas comecei a meter as mãos à frente... ela fez cara feia, desviou-me as mãos e disse “pica”. Não vou dizer que não doeu, porque doeu mesmo! Iam ser 2 vezes por dia… não gostava nada daquilo! Muito menos pensar que ia ficar com a barriga toda negra… No dia a seguir ia começar a quimio.

domingo, 19 de agosto de 2012

13º Dia

Quarta feira, acordei no quarto novo e pareceu-me estranho… não estava habituada a estar ali ainda. Sei que as minhas outras colegas já perguntaram por mim e dizem que aquele quarto sem mim não é a mesma coisa. Já tinha feito uma dose de cortisona no dia anterior, mas ainda não tinha feito efeito, continuava inchada e sem ter força no braço esquerdo. A Andreia estava sempre de manhã, era sempre ela que me ajudava a fazer o que eu não conseguia. Levei outra dose de cortisona, é estranho mas senti o sabor daquilo ( embora seja administrado na veia). Não era nada agradável. Tive a visita da Cátia e do Mário ( somos amigas desde a primária), sei que ela não gosta de ir a hospitais mas fez um esforço. A minha mãe também foi ( como todos os dias ia). Contaram-me que o médico que me fez a biopsia era um "médico especial", era casado com a Dra. Rita... Achei engraçado e até me meti com ela sobre isso, notei que ela estava nervosa quando falou comigo antes de fazer o exame. Já sozinha no quarto, meti-me a pensar no que ia acontecer… para a massa desaparecer tinha de fazer quimio ( espera lá, eu já vi um filme com isso.. vou ficar sem cabelo, vou vomitar… bah, odeio vomitar… era a única coisa que me fazia impressão. Mas espera, se tenho de fazer quimio… tenho mesmo um tumor?!)! Lembro-me de não me sentir revoltada por ser eu… não me questionei com aquela pergunta básica que toda a gente faz quando lhe acontece alguma coisa “porquê a mim?”. Sabia que tinha de mudar de serviço, mas cada vez que me lembrava que esse dia estava a chegar, as lágrimas chegavam-me aos olhos… não queria deixar aquelas pessoas que se tornaram parte do meu dia a dia e parte da minha vida! Queria ficar ali com elas… Não ia gostar tanto das outras enfermeiras como delas, não queria ficar “sozinha”… A Ritinha, veio-me procurar outra veia ( sim, mais uma vez um dos acessos foi-se). Adorava a paciência dela para as minhas veias bailarinas! Sabia que tinha de descansar, ia ter um novo começo no outro dia… mas não queria dormir para o tempo não passar depressa.

sábado, 18 de agosto de 2012

12º Dia

Terça feira, comecei a acordar com o barulho nos corredores… mas a Vivi foi-me mesmo acordar! Foi-me perguntar assim… “ Ana, tu fumaste?”… eu interpretei a pergunta como se fosse antes de entrar no hospital… e respondi, “sim fumei, mas já vos tinha dito” e ela pergunta-me, “mas fumaste aqui? Hoje de manhã?”… eu respondi logo “ claro que não! Nem tenho aqui tabaco!”. Foi aí que ela me disse que a senhora que tinha entrado lhes foi dizer que me tinha visto a fumar no quarto ( a sério?! Se quisesse fumar pelo menos ia à casa de banho, assim ninguém sabia! Eu mal respirava, nem do tabaco me lembrava). Estava sensível, comecei a chorar. Pareceu-me mal o que a senhora inventou. Tomei o pequeno almoço e a hora da biópsia estava a aproximar-se. Não sabia muito bem como aquilo era, mas não tinha um bom nome. Foi então que chegou o médico ( era de hematologia, mas eu não sabia), era espanhol e simpático. O Renato ia ajudar o Dr., e a Andreia achou que eu ia gostar de agarrar duas mãozitas amigas. Avisei logo que tinha de dizer pica antes de picar ( prefiro saber que vou sentir alguma coisa, do que sentir sem estar à espera), mas o Dr. esqueceu-se, tenho a sensação que fugi um bocadinho… era a anestesia. Passou um bocadinho, e comecei a sentir muita pressão ( apertei imenso as mãos da Andreia naquele momento)… começava a doer e sentia que cada vez o Dr. fazia mais força ( continuava a apertar as mãos da Andreia que já estava de cabeça baixa para não ver o que me estavam a fazer), sei que ainda soltei um ai ou outro, mas mantive-me imóvel. Finalmente aquilo acabou… o Renato diz que devia ter feito um vídeo para eu ver, a força que estavam a fazer e eu sem me queixar! Achei piada àquilo do vídeo, até devia ter a sua graça. A Dra. Rita veio ter comigo depois, saber como tinha corrido e dizer que finalmente iam tratar do meu inchaço com cortisona. Já na hora da visita, estava lá o João M. e a minha mãe, vieram-me dizer que tinha de mudar de quarto… Ainda não sabiam qual era o vírus que a senhora que entrou tinha e como eu ia fazer a cortisona, decidiram assim para não me prejudicar. Assim foi, lá estavam eles a carregar as minhas coisas todas ( sim, porque eu ainda não me posso levantar da cama) para o novo quarto. Tinha uma senhora muito simpática e muito doce à minha frente ( sinceramente já não me recordo do nome dela, tenho a sensação que não era assim muito comum)… e ao meu lado direito estava a Cristina ( que também é simpática e está na casa dos 30 anos). Para ser sincera, comecei a sentir falta das minhas amigas do outro quarto… Agora tenho de fazer uma pica no dedo todas as noites para ver a glicemia por causa da cortisona ( quase que já não me incomodava, já era tão normal ser picada). As minhas veias são um caos, a Ritinha vem com a sua paciência atrelada procurar-me uma veia que não fuja da agulha para me meter outro acesso ( um dos que tinha foi-se novamente ). Não tinha sono, ainda estive ao telemóvel um bocado de tempo, depois de algumas voltas lá consegui adormecer.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

11º Dia

Segunda feira, já tinham passado 10 dias, e eu ali continuava. A avó ia ter alta hoje. Fiquei contente, mas sabia que ia sentir falta dela e das nossas brincadeiras. Ainda me restava a dona Ana e a Celeste ( que já melhorou um bocadinho). A Núria hoje passou por lá, e o João M. também. A Dra. quis falar comigo e com a minha mãe. Ao contrário do que o médico me tinha dito no sábado, não tenho de ser operada coisa nenhuma. A Dra. estava com muitos rodeios, com medo de falar ( e eu não estava a perceber nada). Perguntei então que raio de massa era aquela afinal e como é que a tirávamos de lá! Foi aí que ela disse… “ Pronto, como já sabes é um tumor ( não, eu não sabia que a massa era um tumor… para mim era só uma massa). É um linfoma, o melhor nome que podíamos ouvir!”. A minha mãe não pareceu surpreendida, porque como já disse antes, já se tinha apercebido da situação. Não pensei naquilo sequer, só queria que me dessem alguma coisa para passar o inchaço! Foi aí que soube que na terça ia fazer uma biópsia óssea, e que depois disso davam-me logo cortisona para reduzir o inchaço. Nem pensei em mais nada, não pensei no tumor, não pensei na biópsia, só queria deixar de ter aquele mau estar! Pela milésima vez uma das minhas veias já era… Veio a Inês picar-me, para amenizar a situação começámos a cantar Linkin Park ( que era o toque do meu telemóvel) e como estava distraída parece que nem doeu tanto. Veio outra senhora para a cama da avó, que também se chamava Ana. Não criei muita ligação com ela, muito menos depois do que ela me fez na manhã a seguir… Ainda a Inês me tinha picado à tarde, e tinha de ser outra vez, pedi para ser a Vivi. O enfermeiro João consentiu, e conseguimos à primeira tentativa. Estava a começar a ficar receosa quanto à biópsia e sentia que não conseguia respirar bem. Toquei à campainha umas quantas vezes durante a noite. A Vivi uma vez ficou lá um bocadinho comigo, a falar, para ver se eu ficava melhor. Não criei muita ligação com a senhora que entrou nesse dia, muito menos depois do que ela me fez na manhã a seguir…

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

10º Dia

Domingo, e lá continuava eu com o meu big braço e big pescoço! Só queria que passasse, já me incomodava aquele inchaço todo… A Celeste não passou muito bem a noite, agora está de jejum, nem água pode beber… Deve ser horrível. Já me comecei a habituar ao banho na cama, apesar de sentir falta de um chuveiro com água a correr. Continuo sem ter força no braço esquerdo. Tinha feito uma “encomenda” especial para o almoço. Pedi à Ana para me fazer arroz com ovo mexido e atum! Não havia meio de chegarem, estava com uma fome ( por momentos pensei que já não iam). Lá chegou ela com o meu almoço, estava tão bom que comi tudo! A Lena, o Nuno e o Ricardo entraram pouco depois. Só nos faltavam umas minizecas e eu sem aquelas coisas todas que tinha para estar tudo normal. O Ricardo sempre com as maluquices dele. Fiquei contente com a visita, até mais bem disposta! Tive a minha companhia telefónica à noite e insiste em cantar músicas durante a chamada ( já estou mesmo a ver que vou ficar com elas no ouvido e vou andar a ouvi-las durante semanas, e vão também marcar estes momentos). Já estava para dormir, quando o telemóvel da avó tocou ( já era tarde, fiquei com o feeling que era coisa má)… era o marido dela, não se estava a sentir bem, acho que era mesmo um avc. Ficámos logo todas mais que acordadas, eu não sabia o que lhe dizer ao vê-la naquela aflição. Ela estava ali sem conseguir ajudá-lo, e nós também nada podíamos fazer. Lembro-me que as enfermeiras andaram a ligar para saber para onde ele ia e tentar que fosse para o mesmo hospital. Fiquei sensibilizada com a situação, demorei a adormecer. Apesar desta situação, foi um dia “normal”, o que me deixou bastante satisfeita… mal sabia eu o que se avizinhava.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

9º Dia

Era sábado, não tinha de acordar tão cedo! A Andreia hoje não estava lá, foi a Inês que me ajudou a despir para tomar banho. Continuo toda inchada, já era altura disto passar! Estava a ficar farta daquele peso todo. Hoje experimentei a comer pão com queijo ao pequeno almoço, mas era tão mau que não o consegui comer todo. Liguei o computador para ver as novidades no facebook… Tinha montes de mensagens ( de pessoas com quem nunca falei), montes de publicações no mural ( igualmente de pessoas com quem eu não falo). Parece que era o acontecimento do momento onde moro. Mas da maneira que falam parece que já sabem o que é ( nem eu sei o que é, como é que é possível já saberem o que é?!). Hoje conheci o marido da minha avó e também o marido da Celeste… o “avô” vinha cansado, subiu as escadas até ao piso 9. Tive visitas da terrinha hoje… a Mi foi-me ver. O Paulo e o Daniel, apareceram mais tarde! Vim a saber que se andava a dizer que eu tinha cancro do pulmão ( já há muitos médicos por aí, só que com o diagnóstico errado. Estes falsos boatos chateiam-me profundamente!)É bom saber com quem se pode contar, e quem se preocupa connosco. A minha maninha hoje também foi, meteu uma máscara e lá veio dar-me um beijinho ( confesso que já tinha saudades, apesar de estarmos sempre a implicar uma com a outra), para ela aquilo era tudo muito engraçado, ter o oxigénio, não poder sair da cama... mas ainda bem que assim foi! O médico de urgência, veio ter comigo. Parece que já sabiam o que é que eu tinha… Tinha uma massa no mediastino que tinha de ser tirada, segundo o médico seria operada em breve e ficava tudo bem. A minha avó entrou e eu disse-lhe, toda contente, que ia ser operada porque tinha uma massa e era esse o problema de tudo o que me tem aparecido. Era só tirá-la e ficava boa! ( eu não tinha a consciência do significado da palavra “massa”, mas a minha avó e a minha mãe, já estavam preparadas para isto… todos entenderam de imediato menos eu.) O meu primo Gonçalo foi-me levar um hambúrguer do McDonald’s para o jantar… soube tão bem, um big mac! Já sem visitas, tive tempo para pensar na suposta operação… ia ficar com uma cicatriz, ia ter dores, e ainda por cima era no peito! Comecei a não gostar da ideia… Mas se fosse a resolução do problema, não tinha problema nenhum com isso! Hoje estamos todas prontas para ir para a discoteca… Vamos só trocar de roupa, e lá vamos nós!

terça-feira, 14 de agosto de 2012

8º Dia

Sexta feira, ainda era cedo mas eu sabia que tinha de ser. É a Andreia que vem tentar encontrar-me uma veia… e assim que picou apanhou-a. Tinha sido tanta vez picada, para em menos de 5min ter um acesso novo. Continuava toda inchada, sem conseguir fazer as coisas mais básicas sozinha. Parecia que o meu pescoço estava mais inchado ainda, não sei se é impressão minha se é mesmo verdade. Foi a Andreia que me lavou de novo o cabelo e me ajudou a despir. Os estudantes de medicina apareceram para falar com a Celeste. Eu estava a tentar tirar o computador da mala ( com uma mão só, é difícil), e a mala caiu para o chão. Começaram todos a olhar a perguntar-me se precisava de ajuda e a correr para me apanharem a mala. Foi um momento bastante engraçado. Depois de falarem com a Celeste, pediram para falar comigo… Iam-me encher de perguntas, mas não me importei muito. Até foi agradável. Agora acabaram-se as corridas com a avó. Não tinha nenhum exame para fazer, não ia sair do quarto para nada… era um dia ao que eu chamo de “normal”. As visitas da dona Ana, é como se fossem minhas também… o marido dela era simpático e metia-se comigo e a filha dela, a Ana também era simpática ( como todos eles). Eu não me calava, tinha sempre qualquer coisa para dizer (o que não era nada habitual), até a minha mãe já me estranhava. O jantar era panados, e tinha bom aspecto! Já não tinha visitas, e não estava a conseguir cortar a carne. As enfermeiras vieram de passagem e a ViVi teve a excelente ideia de me ajudar naquela tarefa ( as facas não ajudavam, eu bem que tentei). Tinha a minha companhia noturna pelo telemóvel até adormecer. Só conseguia estar numa posição para adormecer por causa do braço e do pescoço ( o braço tinha de estar poisado na almofada por causa do peso do inchaço). Não era muito agradável, mas era o que se arranjava. Sabia que o dia a seguir iria ser outro dia “normal”, era fim de semana, confesso que dormia mais descansada.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

7º Dia

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 Quinta feira, acordei e… o inchaço não tinha passado, muito pelo contrário. O meu braço esquerdo tinha inchado todo, incluindo a mão. Não tinha força para o levantar ( supostamente isto devia ter começado a passar, já estou a fazer a heparina! Já não estava a gostar nada daquilo)… Não podia sair da cama, tinha de fazer tudo na cama ( não fazia a mínima ideia de como ia conseguir lavar o cabelo numa cama)! Não conseguia tirar a roupa sozinha, teve de ser a enfermeira Andreia a fazê-lo e lavou-me o cabelo também. Foi a minha salvação! A Celeste já está melhor, já conversa connosco e já brinca também… Deixei de comer a comida do hospital ao almoço ( pelo menos, sempre que alguém me podia levar o jantar era uma maravilha! ), esperava sempre pela minha mãe para almoçar. Acho uma piada à avó… Ela trata o marido por “meu velhinho” e diz que ainda dão uns beijinhos! Tinha um ecocardiograma para fazer à tarde ( acho que devia ser por causa do inchaço do lado esquerdo). Desci até ao piso 7 de novo. Começaram-me a fazer o exame, e de repente a sala enche-se de estudantes ( pelo menos podiam-me ter avisado), como se não bastasse, a senhora estava a magoar-me imenso e pior ainda, começou a mostrar o que se passava no meu coração e disse “ estão a ver aqui o líquido pericárdico?”… Assim que ouvi aquilo percebi logo que se passava alguma coisa também com o meu coração. Assim que voltei para o quarto chamei logo a Inês para lhe perguntar o que queria dizer aquilo… caso o líquido não desaparecesse, tinha de fazer um procedimento parecido com o que me fizeram no pulmão! ( A sério? Mas isto nunca mais acaba?! Nem o coração se escapa!) Hoje tive o quarto cheio de visitas… O João M., a Margarida, o Miguel, os meus pais e a minha avó… A Margarida deu-me o comer à boca, não me ajeitava só com uma mão. Foi engraçado! Hoje conheci outra enfermeira, a Vitória, que depressa comecei a chamar ViVi. Parecia ser super querida. Uma das minhas veias foi-se outra vez… Veio o enfermeiro João picar-me. Não me conseguia apanhar nenhuma, picou-me (sem exagero) umas 6 vezes de seguida. Elas só me diziam para ter calma… Mas já não conseguia, ele também já transpirava por não conseguir apanhar nenhuma e estar-me a provocar dor! Desistiu, não conseguiu apanhar nenhuma… Quando mudassem de turno de manhã, outra pessoa ia tentar porque tinha medicação para fazer. Foi um alívio tão grande ele ter desistido que só me apetecia dormir e não acordar no outro dia de manhã, já sabia que me iam picar.

domingo, 12 de agosto de 2012

6º Dia


Quarta-feira,  hoje acordei e senti o meu pescoço mais inchado. Parecia que tinha um peso em cada ombro… Não podia tomar o pequeno almoço, tinha uma TAC para fazer e tinha de ir em jejum. Levaram-me para baixo, testaram-me a veia mas já não estava a ficar muito boa. Tive de beber 3 copos com um líquido branco ( era quase sem sabor, embora não fosse muito agradável), depois disso levaram-me para a sala do exame. Avisaram-me que poderia sentir um desconforto, mas que era por pouco tempo. Meteram-me então na máquina e inseriram-me o contraste na veia. Comecei a sentir partes do meu corpo como se tivessem a arder, mas depressa esse mau estar passou porque essa sensação propagou-se pelo resto do meu corpo. O exame terminou e levaram-me de novo para o quarto. Tomei o meu pequeno almoço e fui tomar banho. Tinha o pescoço bem mais inchado, e começava a incomodar-me… Vão ter de me picar outra veia, este acesso já não está bom, dói-me quando injetam a medicação. Estava a ficar farta, quando se resolvia um problema, vinha outro e não se sabia porquê! Finalmente descobri porque é que a Celeste falava pouco nos primeiros dias, ela cansava-se muito! Era isso, hoje já fala mais, embora que baixinho e muito pausadamente. Nesse dia, alguns dos meus amigos foram-me visitar, inclusive uma rapariga com que eu estava “chateada” ( coisas parvas), foi-me ver e voltámos a falar. Não estava nada à espera, mas foi positivo! Fui à casa de banho, e a minha mãe foi comigo… o enfermeiro andava à minha procura! Os meus olhos encheram-se de lágrimas, iam-me fazer mais qualquer coisa que eu não estava à espera. Contive-me e segui para o quarto com a minha mãe. Iam-me dar heparina por perfusão 24h ( a heparina é um anti coagulante), ao que parece o inchaço deve-se a dois coágulos que tenho nos ombros. Tinham de me picar outra veia, tinha de estar a receber aquele medicamento separado dos outros, ia ter dois cateteres! Lá ia começar eu uma choradeira para nada, era só mais uma picadela, não era nada de complexo como pensava. À noite, notei que o meu braço esquerdo ( onde tinha os 2 acessos), estava a inchar… Nem queria pensar o que seria aquilo. Só queria dormir e pensar que durante a noite ia passar.

sábado, 11 de agosto de 2012

5º Dia


Terça-feira e veio o bom dia habitual entre nós no quarto, o bom dia habitual das enfermeiras de serviço, das auxiliares, da médica. Hoje quando me vieram dar o comprimido para proteger o estômago, notei que mexeram no meu nível de oxigénio, não sei se para menos ou para mais, não percebo muito daquilo. A Dra. Rita veio fazer o habitual, tirar sangue, auscultar, perguntar como me sentia… Hoje ia ao piso 3 fazer um rx ao tórax, é só tomar o meu pequeno almoço e levam-me lá. Fui de cadeira de rodas, com a botija de oxigénio pendurada nas costas da cadeira, sem nunca deixar de receber o oxigénio. Chegámos lá, tal não é o meu espanto quando começo a ver uma cara que me era familiar a aproximar-se. Era a enfermeira do dia do internamento! Assim que tive a certeza que era ela comecei logo a mandar vir que não me tinha ido ver. Estava com uma outra enfermeira (suponho), que me conhecia do dia anterior, e que sinceramente eu não me lembro. Esteve presente quando fiz a broncofibroscopia, devia fazer parte da equipa, não sei. Lá estivemos na brincadeira, e a tal rapariga disse-me que à tarde quando terminassem o turno me levava lá a enfermeira da urgência (ao que parece ela sabia onde eu estava hospedada). Lá fomos às nossas vidas. Fiz o rx e segui de novo para o quarto. Mal cheguei à minha caminha, vejo a Dra. Rita entrar com um ar muito aflito. Já viu o meu rx ( foi mesmo rápido, ao que parece foi de urgência) e… tenho de ir tirar líquido do pulmão?! O quê? Era só mesmo o que me faltava! Mais picadelas... Comecei logo a chorar que nem um bebé, não me tinha já bastado o exame do dia anterior, senão agora também mais coisas complicadas ( imaginava eu na minha cabeça). O que sei é que ter líquido no pulmão não é bom sinal! Mais uma vez ficaram as minhas companheiras todas aflitas, foi um instante enquanto o quarto se encheu de todas as enfermeiras e auxiliares de serviço porque eu estava assustada e a chorar... Despediram-se de mim, a enfermeira São foi comigo para o piso 7 para me sentir mais segura. E lá estava eu naquele piso que passei a detestar! Estava com medo… tinha uma enfermeira a agarrar-me nas mãos, para ficar mais calma. Para o médico aquilo parecia canja. Não foi tão mau como pensei, só doeu ( pouco) a espetar a agulha, o resto não senti nada. Ainda estive uns 10min à espera que o líquido saísse… e mesmo assim não saiu todo, senti que ia tossir e pararam o procedimento. Voltei lá para cima, vieram logo as enfermeiras todas ter comigo. De facto tinha feito uma choradeira para nada, quase que não dei por nada. Antes sequer de sair da maca, fui logo fazer um rx para ver como tinha ficado o pulmão depois daquilo, a Dra disse para me levarem quando eu quisesse, mas eu queria era despachar-me para não sair mais do quarto. Voltei para cima e realmente agora sentia-me mais aliviada, o que parecia ser um respirar normal antes disto, não é nada comparado com o de agora… sinto-me mesmo “leve”. Escusado será dizer que liguei para a minha mãe no momento da choradeira, mas ela não atendeu, já devia vir a caminho. Hoje quando tomei banho, notei que o meu pescoço e os meus ombros estavam mais inchados, as veias do pescoço estavam saídas, mas pensei que fosse passageiro nem disse nada a Dra. A mamã chegou, deu a beijoca na testa e o papá também. Lá lhe tive a fazer as queixas da maldade que me fizeram! A Dra veio dizer que o rx para já está bom e que íamos ver o que acontecia, mas caso voltasse a ter líquido como tinha, tínhamos de usar outro procedimento para o tirar ( uma drenagem, ficar com tubos no pulmão, para estar sempre a sair o líquido para um depósito). Opa por favor, era o que me faltava… andar com tubos no pulmão. Só espero que isto não volte a acontecer! Estava eu sozinha ( as visitas tiveram de sair por momentos), vejo entrar aquela tal rapariga que estava com a Cláudia… não é que a trouxe mesmo?! Estava contente, claro que estava contente, foi das primeiras pessoas com quem contactei nesta etapa. A tal rapariga, que ainda hoje não sei o nome, despediu-se e disse que só lá ia entregar-me a enfermeira. Ela veio, cumprimentou-me, sentou-se na cama e a primeira coisa que lhe perguntei foi o nome, para não ser uma conversa tão impessoal. E ali tivemos, um bom bocado a conversar. Combinámos que ela me ia visitar na quinta de manhã, quando saísse do turno da noite mas eu já previa o que iria acontecer. Ela lá tinha tempo e paciência para ir visitar uma estranha! As visitas voltaram a entrar, ainda deu tempo da minha mãe conhecer a Cláudia. E assim se passou o dia… a Celeste hoje não lhe apetece ir ao kizomba ( a Celeste sabe dançar, e como eu também gosto, gerou-se assim a conversa das saídas à noite) mas a avó está pronta! Vamos mudar de roupa e vamos para lá até de manhã. Só mesmo as nossas brincadeiras para nos distrairmos. Eu e a dona Ana, a minha mãezinha, somos sempre das últimas a adormecer, olhamos uma para a outra e falamos baixinho… depois quando vem alguma enfermeira assim com quem me dou mais, fica la um pouco connosco a conversar. E assim se passa o tempo.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

4º Dia


Era segunda feira, uma nova rotina invadiu a minha rotina do fim de semana… Acordei sozinha, com o barulho dos corredores. Estava pronta para tomar o meu pequeno almoço quando uma enfermeira me vem perguntar se já tinha comido alguma coisa. Eu achei aquela pergunta estranha mas disse que não. Foi quando ela me disse “ então não comas nem bebas nada porque vais fazer um exame”e eu “ Um exame? Que exame?” e ela “ A broncofibroscopia”. Caiu-me tudo ao chão, eu gosto de saber das coisas com antecedência, a Inês tinha-me dito que não era assim tão depressa, não estava mentalizada para aquilo. Levaram-me para baixo, era no piso 7. As minha colegas de quarto deram-me força, dizendo que daqui a bocado já estava lá de novo com elas. Antes de me levarem, tiraram-me sangue da veia normal e da artéria também ( agora já sabia que quando me picavam no pulso era para ver o nível de oxigénio no sangue). Fui de maca, meteram-me num canto e veio ter comigo uma senhora que era a dona Alice. Eu só queria saber tudo, tim tim por tim tim o que me iam fazer. Levaram-me para a sala do exame, estavam lá 3 pessoas pelo menos. Comecei de novo a perguntar o que me iam fazer. Confesso que estava cheia de medo. Ligaram-me àquela máquina que se vê os batimentos do coração. O meu estava acelerado. A Dra. Margarida era quem me ia fazer o exame. Respondeu a todas as minhas perguntas. De seguida deram-me a anestesia local. Meteram-me 2 ou 3 líquidos pelo nariz ( odeio soros fisiológicos, pelo que nunca meto quando preciso, e naquele momento estavam-me a fazer das coisas que mais odeio). De repente, parecia que não tinha força para me mexer e estava ensonada. Lembro-me da Dra. Margarida me dizer que iam começar, e eu acenei afirmativamente com a cabeça e de seguida senti a minha narina cheia, com aquele tubo! Começou-me a doer e sei que me estava a contorcer, porque me disseram para estar quieta. Tentaram pela outra narina, e continuava-me a doer. Comecei a ouvir o pi pi pi pi da máquina que controlava o meu coração a um ritmo estonteante. Comecei a chorar e disse que não aguentava mais, para me meterem a dormir! Foi então que me tiraram o tubo da narina, a Dra. passou-me a mão pelo rosto e disse que iam chamar um anestesista para levar anestesia geral. Tinha acabado de ter uma taquicardia. Chegou então alguém, que não me lembro da cara, e disse-me “ Agora vais-te sentir tonta”. Senti uma máscara na cara, estava a olhar para o tecto e de repente ele começou a rodar. Só me lembro de acordar no sítio onde conheci a dona Alice. Não sei se sonhei ou se disse mesmo “dona Alice, já acordei”. Até hoje, não sei. Voltei a fechar os olhos. Quando os abri de novo, vi a Dra. Margarida vir na minha direcção e disse-me que tinha corrido tudo bem, que não conseguiram entrar com o tubo pelo nariz, teve de ser pela boca. Alguém das auxiliares de serviço me foi buscar ao piso 7, mas eu não me lembro quem. Era como se me apaga-se por momentos. Cheguei ao meu quarto e deparei-me com as minhas colegas preocupadas comigo. Não tive nem tenho a noção de quanto tempo estive no piso 7, mas pelas expressões delas, ainda foram umas horas. Falei com pessoas ao telefone, e não me lembro de o ter feito. A anestesia deu cabo de mim por umas horas. Comecei a tratar a dona Virgínia por avó. Fazia-me mesmo lembrar a minha avó. Estávamos sempre a brincar uma com a outra. Aquele quarto já era uma alegria para mim, já não me sentia mal em estar ali naquele sítio, mesmo pensando que não estava doente. A avó ensinou-me que quando íamos a casa de banho, dizia-se que íamos às compras, porque levávamos o carrinho com o soro connosco. Quando íamos à casa de banho juntas, fazíamos corridas com os carrinhos, para ver quem chegava primeiro. Depois esperávamos uma pela outra, para fazer outra corrida até ao quarto. Aquele sítio começava a fazer parte de mim. Tive os meus papás e uma das minhas avós na visita de hoje, e alguns amigos que estudam em Lisboa. Conheci finalmente a minha médica, a Dra. Rita, que me foi auscultar e saber como me sentia, muito simpática. Decidiu ligar-me a uma máquina idêntica à do piso 7, para controlarem os meus batimentos cardíacos uma vez que tive a taquicardia. Tive aquilo cerca de 1h mais ou menos, era só para prevenir ( eu sabia que aquilo tinha sido provocado pelo medo e pelo nervosismo do momento). Ainda não estou habituada aos horários do hospital, mas tinha sono, talvez ainda fossem efeitos da anestesia geral.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

3º Dia


No domingo, tal como no sábado, fiz aquelas coisas normais de tomar o pequeno almoço, tirar sangue (as agulhas e as picadelas já começavam a ser uma rotina), tomar banho e voltar para a cama. Nesse dia os meus pais não me iam ver, e eu até percebia. Era fim de semana, não havia novidades sobre o meu estado, eu sentia-me bem. Não irem um dia não fazia mal. Ainda assim, nesse dia tive visitas. Amigos da santa terrinha, 2 dos meus imensos primos e as visitas das minhas colegas, já as considerava visitas também para mim. Foi aí que descobrimos que realmente a Paula me conhecia de me ter visto no facebook, o meu primo era amigo do filho dela.  Nesse domingo, a enfermeira Inês estava de serviço à noite. Foi ver o meu soro, e disse-me “ A Ana Sofia tem uma broncofibroscopia para fazer, vou já avisando.” E eu “ uma quê?! Isso é o quê?” . Foi então que ela me explicou no que consistia aquele exame com um nome tão esquisito. Iam-me enfiar um tubo pelo nariz, que ia dar imagens até aos pulmões. Quando ela me disse isto, só me lembrei de lhe perguntar “ mas isso não vai ser já amanha pois não?” e ela responde-me “ não, la para quarta talvez, ainda demora ate haver vagas”. Fiquei muito mais descansada, não estava a gostar da ideia de ter de fazer aquele exame! A dona Ana disse que já tinha feito, que custa um bocadinho. Apetecia-me fazer uma birra e dizer que não queria ir fazer aquele exame, chorar, bater o pé e dizer que estavam todos enganados, eu estava boa! 

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

2º Dia

No sábado, acordaram-me de manhã… não percebia nada da rotina hospitalar. Perguntaram-me o que queria para o pequeno almoço e eu respondi de imediato “quero leite com café”! Comer de manhã não era comigo, bastava-me o meu leite com café. Bebi o meu leite descansadinha, e vem de lá uma enfermeira. Mal eu sabia que todos os dias ia ser picada. O quê?! A sério? Tirar-me sangue outra vez? Ainda ontem tiraram duas seringas cheias de sangue. Enfim, lá teve de ser. A seguir fui tomar uma banhoca, para vestir o meu pijama e tirar aquela camisa horrível. Agora sim, sentia que tinha uma vida de princesa. Já tinha a banhoca tomada, não tinha nada para fazer, tinha uma cama com lençóis acabados de trocar, não tinha de fazer nada, e ainda me levavam a comida à cama. Sentia-me bem, não me sentia doente. Era hora de almoço e depois começava a hora da visita. Os meus amigos da faculdade, ou amigos que estudam em Lisboa, como é obvio foram a casa... Sabia que ninguém me ia lá ver a não ser os meus pais. O que me chateava mais era ser sábado, o pessoal todo ia sair à noite e eu enfiada num hospital. As minhas colegas de quarto, já parece que as conheço ao tempo. Não consigo perceber é porque é que a Celeste fala tão baixo e quase que não se percebe nada. As visitas delas, eram simpáticas. Chegavam-se ao pé de mim a perguntar como estava, o que tinha, a minha idade, essas coisas... E eu respondia que estava bem! Pelo que percebi, era das mais novas ali internada, só vi-a gente de mais idade por lá. Nessa tarde chegou uma senhora para ficar na cama à minha frente. Como já estava ambientada às minhas outras colegas, meti conversa também com esta nova colega. O nome dela era Ana. Tava na casa dos quarenta, e tinha uma filha 2 ou 3 anos mais nova que eu. Quando as minhas visitas iam embora, tinha de me agarrar a alguém naquele quarto, e aquelas 3 pessoas, juntamente com as enfermeiras, começaram a fazer parte da minha vida, tal como aquelas pessoas que me fizeram companhia por mensagens e telefonemas. Comecei a ter sentido de humor naquele quarto de hospital, coisa que nunca tinha tido antes. Comecei a brincar e a dar-me àquelas pessoas, que eram a minha companhia dia e noite mesmo só as conhecendo à pouco mais de 24h. Houve uma auxiliar nesse dia, a Paula, que disse que a minha cara não lhe era estranha, mas a dela era-me muito estranha e ficou assim a conversa. Continuei maravilhada com a comida do hospital, não era assim tão má! E como na sexta feira à noite, vieram medir-nos a tensão ( devem fazer isto todos os dias). Ter sono cedo é que ainda não era para mim.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

1º Dia



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Pois bem, acordei na sexta, dia 30 de Setembro, nunca mais me esqueço, e estava na mesma. Liguei à minha mãe a dizer que ia com o João às urgências porque não estava melhor, e lá, de certeza que me faziam algum exame. Bebi o meu leite com café e fumei o meu cigarro e lá fomos nós apanhar o 727 ate ao Rato para de seguida
apanharmos o metro ate à cidade universitária. Nesse dia estava desejosa de não encontrar ninguém conhecido, pois tinha a cara toda inchada. Tal não é o meu espanto quando saiu do metro e me encontro com uma amiga de longa data que estudava enfermagem. Contei-lhe o que tinha, e ela assim “ isso deve ser alguma reacção alérgica” e eu disse “ mas eu não sou alérgica a nada” e ela “ mas os sintomas que apresentas é o que parece ter mas logo ou amanhã quando fores ao Áster ( bar da terriola) logo me dizes o que era”. E lá continuei com o João o caminho para o hospital. Na triagem deram-me a pulseira azul que dizia “ doença interna”. Ainda esperámos umas boas horas e eu só pensava que não ia conseguir apanhar o comboio para casa. Finalmente chamaram as pulseiras azuis, que por sinal, descobrimos no tempo de espera, que eram as de menor prioridade. Dirigimo-nos para onde nos indicaram e fui logo chamada, o João entrou comigo. A doutora era simpática, Dra.Cuca, disse ela o seu nome ao telefone. Como era de esperar fui fazer análises e um rx torácico. Os resultados demoraram a sair, deu tempo de ir à rua fumar o meu último cigarro do maço que tinha ( que seria mesmo o último cigarro), e lembro-me do João dizer “ quando sairmos daqui com a tua receita, vamos logo ali àquela farmácia levantá-la”. E eu acenei afirmativamente com a cabeça, pareceu-me uma óptima ideia. Passado algum tempo, a Dra. chamou-me. Vi a imagem do rx no computador e quando olhei percebi logo que se passava qualquer coisa no meu pulmão direito. Eu odiava agulhas... disse à médica “ não é preciso mais picas pois não? Eu não gosto de agulhas”, ao qual ela me respondeu “ portaste-te mal vai ter de ser mais uma”. Sentou-se comigo na maca, e tirou-me sangue arterial. Eu não sabia porque é que ela me estava a tirar sangue do pulso, mas também não perguntei na altura. Tive de esperar mais algum tempo pelo resultado daquela análise que eu não sabia para que era e fomos ao café comer qualquer coisa ( nem metade da sandes comi). Ainda tive tempo de andar dum lado para o outro na sala de espera à procura de rede no 91 para conseguir responder às mensagens. O resultado saiu, e o inesperado aconteceu. E estas palavras ficaram marcadas no meu cérebro “ Anda comigo. Vais ter de cá ficar”. E eu pensei… “ O quê? Eu? Mas eu sempre fui saudável, nunca tive nada, e agora tenho de ficar no hospital? Mas se fico no hospital, de certeza que me vão pôr a soro! Eu nunca levei soro… e não tenho aqui a minha mãe”. Uma vontade súbita de chorar, invadiu-me a mim e aos meus olhos… Só quis ligar a minha mãe... “ Mãe, vou ter de ficar no hospital… eu não sei o que é preciso, mas trazes-me o que eu preciso?”, e ela respondeu-me calmamente “ vá tem calma, não chores… eu vou ligar ao pai e vamos ter contigo”. E eu só pensava… “ isto não me está a acontecer… ainda por cima não tenho bateria e não trouxe o carregador”. Pneumonia, foi o motivo pelo qual fui internada. Estava na sala para onde a médica me levou… era uma salinha com aqueles cadeirões onde as pessoas fazem os tratamentos. A enfermeira já estava a minha espera. Mediu-me a tensão, tirou-me a temperatura e claro, ia-me pôr um cateter. Eu estava apavorada com tudo. Pensei em meter-me com a enfermeira para ver se me acalmava. Disse-lhe que me tinha de ir visitar e coisas do género, foi o que me veio à cabeça no momento e saiu como um vómito de palavras. A senhora que estava no cadeirão ao lado do meu, percebeu que eu estava com medo e que nunca me tinham colocado um cateter. Meteu-se comigo e disse “ olha, a mim dói-me mais tirar sangue do que me meterem o cateter”. Aquelas palavras acalmaram-me um pouco, não gosto de tirar sangue, mas também não dói assim tanto. E no fim, quase que não doeu nada. Levaram-me então para um sítio onde podia tirar a roupa que levava vestida e pudesse vestir a camisa do hospital ( pelo menos até ter o meu pijama). Fui de maca e tudo, comecei a achar piada aquilo tudo… porque eu não me sentia doente! E não percebi porquê ir de maca se conseguia andar sozinha. Lá me levaram até ao piso 9 Pneumologia. Fiquei logo no primeiro quarto do corredor. ( de frente para a porta do quarto) estava uma senhora do lado direito que devia estar na casa dos 60, e do lado esquerdo, uma senhora de cor, na casa dos 30 talvez. Eu fui para a cama encostada a uma das janelas que ficava ao lado da senhora da casa dos 60. A cama à minha frente estava vazia. Pedi por tudo ao João para me ir buscar o computador e o carregador do telemóvel e que me fosse lá levá-los nesse mesmo dia! Ia ser uma seca ficar ali… ainda por cima era fim de semana, o pessoal ia todo sair e eu ali fechada com uma senhora com idade para ser minha avo, e outra que mal conseguia falar. Fui recebida pela enfermeira Inês e pelo enfermeiro Luís. Passado pouco tempo chegou a minha mãe. Foi um alívio tão grande vê-la a ela e ao meu pai… nunca pensei que me fosse fazer tanta falta, eu que estava sempre desejosa de ela não me chatear e me deixar em paz! Depois das apresentações feitas, tiraram-me sangue ( agulhas de novo) para fazer as culturas ( ver qual era o bixinho culpado pela pneumonia) e meteram-me o oxigénio ( pensei, o que?? Oxigénio? Está tudo maluco.. só me canso a andar, deitada não tenho falta de ar). Passado isso, tive tempo para pensar “ eish, comida de hospital, dizem que é tão má… que seca.”. O João apareceu lá mais tarde para me dar o carregador do telemóvel e o computador. Já não tinha bateria no 91, estava a começar a entediar. Os meus pais foram embora, fiquei só eu e aquelas duas pessoas desconhecidas. Não sou muito de falar, muito menos com quem nunca vi na vida! Naquele momento, não sei o que me deu, mas comecei a meter conversa. Não me apetecia estar no hospital sozinha, sem ninguém para falar. Perguntei os nomes delas. A senhora do meu lado era a dona Virgínia, e a outra a Celeste. E a partir daí formaram-se vários diálogos. Lá veio o famoso jantar de hospital, já não me lembro o que era, mas sei que era carne, o que eu achei fantástico. Disse a algumas pessoas que estava no hospital, não a muitas, só às mais próximas. Também pensei que lá para terça ou quarta saía de lá. À noite, vieram-nos medir a tensão e ver se estava tudo bem.