segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Radioterapia

Regressei então ao hospital passados os 15 dias para mais uma consulta, estava tudo óptimo. Contudo, o Dr. Carlos achou melhor fazer sessões de radioterapia para diminuir as probabilidades de voltar a ter uma recaída na mesma zona, era uma mais valia só fazer a radio depois do autotransplante. E assim foi, em Setembro ( vou só relembrar que foi em 2012) tive consulta na parte da radioterapia.. Tive de fazer um molde de uma máscara, que me ia imobilizar quando estivesse a fazer a radio, era desde a cabeça até à barriga, só conseguia piscar os olhos com aquilo preso a mim. Era mesmo necessário o uso da máscara porque assim não havia probabilidade da máquina incidir sobre uma zona errada, visto que eu não me conseguia mesmo mexer. Para além desse molde que tive de fazer no dia da consulta, tive de fazer umas "tatuagens", quatro pintinhas ( que me vão acompanhar o resto da vida) para que conseguissem acertar a máquina da radio de acordo com o sítio de incidência no meu corpo. Ia fazer 20 sessões, todos os dias excepto ao fim de semana. A primeira sessão foi a mais demorada, tiveram de estar a posicionar-me, a acertar a máquina com os dados que tinham para que nada falhasse no tratamento, tive uns 30min lá imobilizada até se orientarem com as medidas.. Depois foi muito rápido o tempo de tratamento, demorou de 5 a 10min. Não se sentia nada, não ardia, não doía, o único desconforto era mesmo a máscara apertada contra mim. Tive consulta com uma nutricionista nos primeiros dias de tratamento, visto que me ia afectar na ingestão de alimentos.. O objectivo era comer coisas que não provocassem ( ainda mais) irritação na garganta e não emagrecer muito. Para além destes cuidados, tinha de beber mais de 1L de água por dia, porque a zona "queimada" ia recolher tudo o que podia e claro, tinha de hidratar a pele todos os dias e lavar a zona com um gel de pH neutro e com água mais para o fria e nada de apanhar Sol
. Passadas umas quantas sessões a minha pele começou a ficar vermelha e ardia sempre que a roupa tocava.. Às vezes esquecia-me e enquanto comia engolia "à bruta", que horror! Ardia tanto mas tanto, parecia que havia fogo dentro de mim. Fora isso, não tive nenhum problema em conseguir comer normalmente.. A minha pele é que, já quase no fim das sessões, deixou de estar vermelha e começou a ficar preta.. A queimadura da radio estava mesmo agressiva, tive de mudar de creme para ver se amenizava a coisa. Acabadas as 20 sessões de radio, muitas vezes acompanhada pelo meu amigo João M., que é de salientar que sempre foi incansável em estar comigo nestes momentos e que tantas vezes me metia o creme no pescoço ( com um ar do tipo enjoado, porque aquilo estava mesmo feio). E assim acabou, 1 ano de tratamentos na totalidade.. Era só continuar nas consultas mensais, mas mais nada de tratamentos!

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Autotransplante VI.

E finalmente chegou o dia.. Passados 14 dias após o transplante, abençoadas análises! Assim que me disseram que ia ter alta liguei logo para a minha mãe.. Tinha de lhe dizer para me ir buscar, a roupa que queria vestir e o que queria para o almoço.. Sim porque tal como das outras vezes, se tenho alta de manhã aguento até comer comidinha da boa. Comecei a arrumar tudo ( o pouco que lá tinha ), e num instante me despachei.. Só faltava chegar a minha mãe. Foi uma longa espera.. até que finalmente chegaram. A minha irmã também foi, e fez-me imensa companhia porque entretanto a minha mãe teve de ir à farmácia do hospital buscar a medicação que tive de fazer durante 6 meses, mas como era tudo em xarope ( eu e os comprimidos não nos entendemos), demorou mais do que o previsto. Passadas quase 2h estava a sair do meu quarto.. Abraços e beijinhos e lá ia eu.. Sem direito a cadeira de rodas ( preferia andar devagar do que ir de cadeira de rodas até à saída do hospital, eu sou forte!) e sem poder visitar as minhas enfermeiras do lado com muita pena minha, mas fui expressamente proibida pela Ana Lisa. Mais uma vez, soube tão bem sentir o vento ( pouco, mas deu para sentir) na cara, a luz da rua, o ar.. É a melhor sensação do mundo depois de tanto tempo sem o sentir. O médico que me ia seguir era o Dr. Carlos, que eu já conhecia desde o primeiro internamento, não podia estar mais satisfeita. Já estava.. Estava de novo em casa, com mais restrições alimentares do que o que era normal para mim mas não importava, havia muita coisa boa que podia continuar a comer. Assim que cheguei fui tomar banho, sentia tanto a falta de um banho decente! E pronto, lá começavam as saudades daquelas pessoas especiais que estiveram comigo tantos dias seguidos. Tinha consulta na semana seguinte, na qual correu tudo bem, análises boas.. A minha mãe coitada apanhou uma seca, tinha de esperar que eu fosse aos dois serviços ver o pessoal todo. Como as análises estavam boas, só tinha de voltar para a consulta passados 15 dias. Não saí muito de casa nas primeiras semanas, tinha medo de ficar constipada ou com uma infecção qualquer.. Era desta vez que esperava que tivesse tudo terminado. Para além disto tudo, ganhei uma "francesa" natural nas unhas, ao que achava imensa piada... Houve quem me perguntasse se tinha pintado as unhas só no meio, e eu começava-me a rir obviamente. A parte boa era que não tinha de gastar verniz, nem shampoo para o cabelo, estava completamente sem pêlos, era uma maravilha a minha carequinha!