terça-feira, 27 de novembro de 2012

2º internamento



Passadas 2 semanas ( e já era Abril ), a Sandra ligou-me para estar lá no dia seguir ( dia 5) lá pelas 20h . Cheguei e estavam de serviço a Mary e a Carla... Vesti o pijama e fiquei lá. Fiquei no mesmo quarto, mas desta vez na cama que era da minha Cândida... Na minha cama estava a Cristina ( ela não gostava que a tratássemos por dona ), na cama onde esteve a Soraia estava uma senhora acamada e na cama que estava a dona Helena estava a Inês. Desta vez tinha uma companhia da minha idade, o que se tornava agradável, porque de certeza que tinhamos mais tema de conversa. Às 21.30h era a hora da pica, a Mary veio para me dar, mas eu disse que era eu... depois de ter passado tanto tempo a ensinar-me, finamente já conseguia sem a ajuda dela. Só ia ser picada as 6h, porque era a essa hora que começava o meu ciclo... iam ser 24h de quimio durante 5 dias, só ia parar de receber para ir tomar banho. Às 6h o Rodrigues foi-me acordar para me picar, e com sorte conseguimos logo à primeira. A Cristina e a Inês andavam numa de tricot, passavam o tempo a fazer aquilo... A Inês ia passar o fim de semana a casa, e a Cristina secalhar também, resumindo ia passar o fim de semana sozinha. Tinha de controlar as coisas líquidas que ingeria para depois dizer aos enfermeiros, porque como estava a levar quimio sempre, tinha de ter atenção à retenção de líquidos... caso não corresponde-se ao cálculo que eles fazem de tudo o que ingeri, tinham de me dar o lasix, e aí passava o tempo a correr para a casa de banho. No domingo as minhas companheiras voltaram... eu e a Inês ficávamos acordadas até mais tarde na net. Na segunda aquela minha amiga que eu tinha encontrado no dia que fui às urgências no metro, foi até lá. Ela e a Inês estavam a tirar enfermagem na mesma faculdade, o que eu achei engraçado... A minha mãe e a minha avó continuavam a visitar-me todos os dias tal como os meus amigos, e ainda recebi a visita da Flávia ( que não era habitual mas lá arranjou um tempinho para me ir ver). A Gi nesse dia estava comigo, e tinha de me arranjar outra veia... lá andou a ver, tentou e conseguiu! Lembro-me bem disso, porque eu fiz cara de espanto, olhei para ela e disse " olha, boa!", e ela estava toda contente também, era sempre uma briga para achar uma veia. Na terça o João M. foi-me visitar, sentou-se ao pé de mim, mas não me estava a dar atenção nenhuma, estava só a olhar para o corredor... até que olhei para o corredor também e disse " a sério? não acredito" e escondi-me debaixo dos lençóis. Era uma amiga nossa, que me foi visitar, mas fizeram surpresa até porque eu já tinha estado a falar com ela de manhã... Não estava nada à espera, e foi uma boa surpresa. Depois das visitas, andei a tentar convencer a Inês a irmos à sala comum ver o jogo do Benfica vs Sporting... estava farta de estar no quarto. Depois de muitas tentativas consegui! Passámos a noite a ver o jogo e a jogar às cartas com uns senhores que lá estavam na sala... fartámo-nos de rir naquela noite. Aprendi com ela a fazer batotas na alimentação, na quarta a irmã dela levou-nos o melhor do mundo ( não vou dizer o que foi, porque não posso desvendar todos os segredos, caso precise de ficar lá de novo já sabem quais são as batotas ). Precisava de outro acesso na veia, então vieram 3 enfermeiras.. Era a Bá e a Ana Filipa do lado esquerdo e a Betona no lado direito... estavam-me a picar todas ao mesmo tempo, já me estavam a enervar, até que lá conseguiram um acesso. Sempre que eu me deixava dormir durante o dia e a Bá via, ia ao quarto e começava " Ana, Ana, Ana, Ana, Ana ", só me apetecia bater-lhe, para uma pessoa que está a dormir aquilo é irritante mas acabou por ser engraçado também. Os médicos já tinham decidido o que fazer comigo, ia fazer um auto transplante, iam recolher células ( através de um cateter femoral, ideia que eu odiava)... Fui à consulta de imunohempoterapia, foram muito simpáticas, explicaram-me tudo e marcámos a data da colheita. Na quinta de manhã tinha de fazer uma BO, para ver se a doença tinha evoluído. Nem foi assim tão mau, já sabia o que era, doeu um bocadinho mas não tanto como na primeira que fiz. A dra. Inês devia ser uma especialista em BO's, até lhe disse isso... Na sexta tinha de voltar ao hospital para fazer uma TAC e depois só voltava a ficar internada durante 3 dias para a colheita das células.

O regresso a casa ( Parte II )

Era Dezembro, o meu pulmão começou-me a doer de novo, fiquei com medo. Continuava a fazer quimio de 21 em 21 dias no hospital de dia... na tv passava aquele anúncio da popota, e sempre que passava, a enf. Cristina começava a dançar. Confesso que achava imensa piada, mesmo estando um bocado dormente por causa da medicação que me fazia dormir. Esse anúncio fez com que eu criasse uma nova relação de confiança e amizade, desta vez com a Cris. Nesse mesmo mês fiz uma TAC (mas sem contraste, o que me deixou com a pulga atrás da orelha, depois de saber o resultado) por me ter queixado das dores no pulmão, mas segundo o relatório já nem se avistava nenhuma massa. A passagem de ano estava a caminho e eu não suportava a ideia de a passar em casa... já para não falar de não poder comer marisco. Foi então que a Margarida disse que não se importava de ir passar comigo lá em casa, sempre seria mais divertido. Chegou a meia noite e recebi um telefonema de amigos nossos, todos contentes e alegres, e eu ali em casa... o melhor foi que passámos o resto da noite ao telemóvel e tinha-me de rir com as coisas que eles diziam. Continuava a fazer a minha vida normalmente, ia ao café, conduzia, ia ao hospital, estava tudo bem... sentia-me bem. Em Fevereiro fazia anos, e a prenda que ia receber era uma quimio no dia a seguir ( até nem era assim tão mau, visto que eu não passava mal e assim também via o pessoal do hospital ). Em Março fiz a minha primeira PET ( exame que ia mostrar se havia actividade da doença), já tinha feito 7 sessões de quimio e pensava seriamente que estava terminado, até porque eu não sentia nada de anormal. Depois de acabar o exame, esperei pela médica responsável para ela me dizer por alto qual o resultado... chamou-me para um sítio onde não havia ninguém ( percebi logo pela cara dela qual era o resultado), e disse que a massa continuava lá embora mais pequena, mas tinha de fazer mais quimio. Aquele resultado foi um bocado confuso porque em Dezembro já não tinha nada, continuei a fazer quimio e agora tinha a massa de novo?! Combinei com aquela médica ir buscar o relatório na semana a seguir, porque ela aconselhou-me a falar com a minha médica antes da consulta que tinha marcada. Na semana a seguir apanhei o comboio para Lisboa ( já podia andar de transportes porque já não fazia quimio desde Fevereiro). Depois de ter o relatório nas minhas mãos fui directamente ao santa maria procurar a minha médica ( tinha medo que a massa voltasse a ficar grande como no ínicio). Consegui que chamassem a minha médica ( que estava de urgência), ela chegou ao pé de mim e começou literalmente a gritar comigo porque se tinha consulta marcada só tinha era de esperar até lá para lhe mostrar o exame... e continuou a gritar ( depois vim a saber que se ouvia a nossa discussão na ala de internamentos e na sala de espera também), foi então que me disse em tom alto que tinha de ficar internada para fazer mais quimio. Enfim, por momentos apeteceu-me chorar, não pelo resultado do exame mas pela maneira de como ela falou para mim. Foi aí que conheci a Sandra ( que está na secretaria), que ficou com o meu número e nome e quando houvesse uma cama disponível ligava-me para ir. Ficar internada não me custava, era uma maneira de passar mais tempo com elas... e depois os meus amigos e a minha família também me iam ver... talvez fosse um pensamento egoísta, mas era o que eu sentia, não me importava de fazer mais quimio e ser internada.