terça-feira, 27 de novembro de 2012

O regresso a casa ( Parte II )

Era Dezembro, o meu pulmão começou-me a doer de novo, fiquei com medo. Continuava a fazer quimio de 21 em 21 dias no hospital de dia... na tv passava aquele anúncio da popota, e sempre que passava, a enf. Cristina começava a dançar. Confesso que achava imensa piada, mesmo estando um bocado dormente por causa da medicação que me fazia dormir. Esse anúncio fez com que eu criasse uma nova relação de confiança e amizade, desta vez com a Cris. Nesse mesmo mês fiz uma TAC (mas sem contraste, o que me deixou com a pulga atrás da orelha, depois de saber o resultado) por me ter queixado das dores no pulmão, mas segundo o relatório já nem se avistava nenhuma massa. A passagem de ano estava a caminho e eu não suportava a ideia de a passar em casa... já para não falar de não poder comer marisco. Foi então que a Margarida disse que não se importava de ir passar comigo lá em casa, sempre seria mais divertido. Chegou a meia noite e recebi um telefonema de amigos nossos, todos contentes e alegres, e eu ali em casa... o melhor foi que passámos o resto da noite ao telemóvel e tinha-me de rir com as coisas que eles diziam. Continuava a fazer a minha vida normalmente, ia ao café, conduzia, ia ao hospital, estava tudo bem... sentia-me bem. Em Fevereiro fazia anos, e a prenda que ia receber era uma quimio no dia a seguir ( até nem era assim tão mau, visto que eu não passava mal e assim também via o pessoal do hospital ). Em Março fiz a minha primeira PET ( exame que ia mostrar se havia actividade da doença), já tinha feito 7 sessões de quimio e pensava seriamente que estava terminado, até porque eu não sentia nada de anormal. Depois de acabar o exame, esperei pela médica responsável para ela me dizer por alto qual o resultado... chamou-me para um sítio onde não havia ninguém ( percebi logo pela cara dela qual era o resultado), e disse que a massa continuava lá embora mais pequena, mas tinha de fazer mais quimio. Aquele resultado foi um bocado confuso porque em Dezembro já não tinha nada, continuei a fazer quimio e agora tinha a massa de novo?! Combinei com aquela médica ir buscar o relatório na semana a seguir, porque ela aconselhou-me a falar com a minha médica antes da consulta que tinha marcada. Na semana a seguir apanhei o comboio para Lisboa ( já podia andar de transportes porque já não fazia quimio desde Fevereiro). Depois de ter o relatório nas minhas mãos fui directamente ao santa maria procurar a minha médica ( tinha medo que a massa voltasse a ficar grande como no ínicio). Consegui que chamassem a minha médica ( que estava de urgência), ela chegou ao pé de mim e começou literalmente a gritar comigo porque se tinha consulta marcada só tinha era de esperar até lá para lhe mostrar o exame... e continuou a gritar ( depois vim a saber que se ouvia a nossa discussão na ala de internamentos e na sala de espera também), foi então que me disse em tom alto que tinha de ficar internada para fazer mais quimio. Enfim, por momentos apeteceu-me chorar, não pelo resultado do exame mas pela maneira de como ela falou para mim. Foi aí que conheci a Sandra ( que está na secretaria), que ficou com o meu número e nome e quando houvesse uma cama disponível ligava-me para ir. Ficar internada não me custava, era uma maneira de passar mais tempo com elas... e depois os meus amigos e a minha família também me iam ver... talvez fosse um pensamento egoísta, mas era o que eu sentia, não me importava de fazer mais quimio e ser internada.

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