terça-feira, 7 de agosto de 2012

1º Dia



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Pois bem, acordei na sexta, dia 30 de Setembro, nunca mais me esqueço, e estava na mesma. Liguei à minha mãe a dizer que ia com o João às urgências porque não estava melhor, e lá, de certeza que me faziam algum exame. Bebi o meu leite com café e fumei o meu cigarro e lá fomos nós apanhar o 727 ate ao Rato para de seguida
apanharmos o metro ate à cidade universitária. Nesse dia estava desejosa de não encontrar ninguém conhecido, pois tinha a cara toda inchada. Tal não é o meu espanto quando saiu do metro e me encontro com uma amiga de longa data que estudava enfermagem. Contei-lhe o que tinha, e ela assim “ isso deve ser alguma reacção alérgica” e eu disse “ mas eu não sou alérgica a nada” e ela “ mas os sintomas que apresentas é o que parece ter mas logo ou amanhã quando fores ao Áster ( bar da terriola) logo me dizes o que era”. E lá continuei com o João o caminho para o hospital. Na triagem deram-me a pulseira azul que dizia “ doença interna”. Ainda esperámos umas boas horas e eu só pensava que não ia conseguir apanhar o comboio para casa. Finalmente chamaram as pulseiras azuis, que por sinal, descobrimos no tempo de espera, que eram as de menor prioridade. Dirigimo-nos para onde nos indicaram e fui logo chamada, o João entrou comigo. A doutora era simpática, Dra.Cuca, disse ela o seu nome ao telefone. Como era de esperar fui fazer análises e um rx torácico. Os resultados demoraram a sair, deu tempo de ir à rua fumar o meu último cigarro do maço que tinha ( que seria mesmo o último cigarro), e lembro-me do João dizer “ quando sairmos daqui com a tua receita, vamos logo ali àquela farmácia levantá-la”. E eu acenei afirmativamente com a cabeça, pareceu-me uma óptima ideia. Passado algum tempo, a Dra. chamou-me. Vi a imagem do rx no computador e quando olhei percebi logo que se passava qualquer coisa no meu pulmão direito. Eu odiava agulhas... disse à médica “ não é preciso mais picas pois não? Eu não gosto de agulhas”, ao qual ela me respondeu “ portaste-te mal vai ter de ser mais uma”. Sentou-se comigo na maca, e tirou-me sangue arterial. Eu não sabia porque é que ela me estava a tirar sangue do pulso, mas também não perguntei na altura. Tive de esperar mais algum tempo pelo resultado daquela análise que eu não sabia para que era e fomos ao café comer qualquer coisa ( nem metade da sandes comi). Ainda tive tempo de andar dum lado para o outro na sala de espera à procura de rede no 91 para conseguir responder às mensagens. O resultado saiu, e o inesperado aconteceu. E estas palavras ficaram marcadas no meu cérebro “ Anda comigo. Vais ter de cá ficar”. E eu pensei… “ O quê? Eu? Mas eu sempre fui saudável, nunca tive nada, e agora tenho de ficar no hospital? Mas se fico no hospital, de certeza que me vão pôr a soro! Eu nunca levei soro… e não tenho aqui a minha mãe”. Uma vontade súbita de chorar, invadiu-me a mim e aos meus olhos… Só quis ligar a minha mãe... “ Mãe, vou ter de ficar no hospital… eu não sei o que é preciso, mas trazes-me o que eu preciso?”, e ela respondeu-me calmamente “ vá tem calma, não chores… eu vou ligar ao pai e vamos ter contigo”. E eu só pensava… “ isto não me está a acontecer… ainda por cima não tenho bateria e não trouxe o carregador”. Pneumonia, foi o motivo pelo qual fui internada. Estava na sala para onde a médica me levou… era uma salinha com aqueles cadeirões onde as pessoas fazem os tratamentos. A enfermeira já estava a minha espera. Mediu-me a tensão, tirou-me a temperatura e claro, ia-me pôr um cateter. Eu estava apavorada com tudo. Pensei em meter-me com a enfermeira para ver se me acalmava. Disse-lhe que me tinha de ir visitar e coisas do género, foi o que me veio à cabeça no momento e saiu como um vómito de palavras. A senhora que estava no cadeirão ao lado do meu, percebeu que eu estava com medo e que nunca me tinham colocado um cateter. Meteu-se comigo e disse “ olha, a mim dói-me mais tirar sangue do que me meterem o cateter”. Aquelas palavras acalmaram-me um pouco, não gosto de tirar sangue, mas também não dói assim tanto. E no fim, quase que não doeu nada. Levaram-me então para um sítio onde podia tirar a roupa que levava vestida e pudesse vestir a camisa do hospital ( pelo menos até ter o meu pijama). Fui de maca e tudo, comecei a achar piada aquilo tudo… porque eu não me sentia doente! E não percebi porquê ir de maca se conseguia andar sozinha. Lá me levaram até ao piso 9 Pneumologia. Fiquei logo no primeiro quarto do corredor. ( de frente para a porta do quarto) estava uma senhora do lado direito que devia estar na casa dos 60, e do lado esquerdo, uma senhora de cor, na casa dos 30 talvez. Eu fui para a cama encostada a uma das janelas que ficava ao lado da senhora da casa dos 60. A cama à minha frente estava vazia. Pedi por tudo ao João para me ir buscar o computador e o carregador do telemóvel e que me fosse lá levá-los nesse mesmo dia! Ia ser uma seca ficar ali… ainda por cima era fim de semana, o pessoal ia todo sair e eu ali fechada com uma senhora com idade para ser minha avo, e outra que mal conseguia falar. Fui recebida pela enfermeira Inês e pelo enfermeiro Luís. Passado pouco tempo chegou a minha mãe. Foi um alívio tão grande vê-la a ela e ao meu pai… nunca pensei que me fosse fazer tanta falta, eu que estava sempre desejosa de ela não me chatear e me deixar em paz! Depois das apresentações feitas, tiraram-me sangue ( agulhas de novo) para fazer as culturas ( ver qual era o bixinho culpado pela pneumonia) e meteram-me o oxigénio ( pensei, o que?? Oxigénio? Está tudo maluco.. só me canso a andar, deitada não tenho falta de ar). Passado isso, tive tempo para pensar “ eish, comida de hospital, dizem que é tão má… que seca.”. O João apareceu lá mais tarde para me dar o carregador do telemóvel e o computador. Já não tinha bateria no 91, estava a começar a entediar. Os meus pais foram embora, fiquei só eu e aquelas duas pessoas desconhecidas. Não sou muito de falar, muito menos com quem nunca vi na vida! Naquele momento, não sei o que me deu, mas comecei a meter conversa. Não me apetecia estar no hospital sozinha, sem ninguém para falar. Perguntei os nomes delas. A senhora do meu lado era a dona Virgínia, e a outra a Celeste. E a partir daí formaram-se vários diálogos. Lá veio o famoso jantar de hospital, já não me lembro o que era, mas sei que era carne, o que eu achei fantástico. Disse a algumas pessoas que estava no hospital, não a muitas, só às mais próximas. Também pensei que lá para terça ou quarta saía de lá. À noite, vieram-nos medir a tensão e ver se estava tudo bem.

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